Ampliou-se a duração média das operações de crédito de curto prazo para a indústria. Essa é a principal revelação de uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ouvindo representantes de 1.513 empresas do setor. No grupo das grandes, 55,7% informaram que conseguem obter no mercado financeiro prazos acima dos 90 dias. Em 2006, apenas 32,5% executivos deram essa resposta.
Somando-se as respostas de médias e pequenas indústrias, a CNI apurou que 60,5% também tiveram acesso a financiamentos acima de 90 dias. Três anos atrás, a situação era muito diferente, porque apenas 13,4% estavam nessa situação.
Com base nesses números, o economista chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, explica que a inflação mais baixa e a queda da taxa de juros permitiram a ampliação do crédito de curto prazo. Ele reconhece que, nesses três anos, o cenário melhorou. "A ampliação do prazo das operações mais curtas, mostra um ambiente de crédito melhor, com mais acesso das empresas aos financiamentos", admite.
As respostas da pesquisa Sondagem Especial sobre crédito de curto prazo foram coletadas pela CNI entre 30 de junho e 17 de julho. Do universo de 1.513 indústrias escolhidas, 207 são de grande porte, 415 médias e 891 pequenas.
Segundo as informações do Banco Central (BC), a meta da taxa de juros Selic estava em 12,75% ao ano em janeiro deste ano e, em julho, tinha baixado para 8,75%. Em 2006, quando foi feita a primeira pesquisa da CNI sobre o mesmo tema, a meta de janeiro era de 17,25% ao ano, mas caiu para 14,75% em julho.
Se os juros baixaram nesses três anos, o mesmo movimento ocorreu com a inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado no sistema de metas administrado pelo BC, encerrou 2006 em 3,14% ao ano. Em 2008, foi a 5,9% e, em agosto deste ano, o IPCA acumulado em 12 meses ficou em 4,36%.
A Sondagem da CNI mostra todas as indústrias, independentemente do tamanho, realizando mais operações de curto prazo com bancos privados. No grupo das grandes empresas do setor, 76% informam que as instituições privadas, nacionais e estrangeiras, foram as responsáveis pelos financiamentos. Na pesquisa de 2006, eram 84,3%.
Bancos públicos, de varejo e de investimento, têm parcela de 15,5% nas operações de crédito de curto prazo para grandes indústrias. Em 2006, a participação deles foi de 12%.
Neste ano, médias indústrias responderam à CNI que bancos privados têm 63,7% de participação nesse tipo de operação de crédito. As instituições públicas ficaram com 29,5%.
No grupo das pequenas indústrias, a fatia dos bancos privados é de 45,8%, maior que os 40,4% das instituições públicas.
A atuação das empresas de factoring e das cooperativas de crédito também cresceu nos últimos três anos. Segundo a pesquisa da CNI, a participação do segmento do factoring nas operações de curto prazo para grandes indústrias passou de 2,4% para 7%. No grupo das médias e pequenas, foi de 8,5% para 15,4%.
Em 2006, as cooperativas de crédito foram responsáveis por 1,4% dos financiamentos de médias e pequenas indústrias. Neste ano, essa parcela foi a 4,6%.
As respostas confirmam grandes indústrias com maior poder de barganha no mercado financeiro. Isso explica, segundo Castelo Branco, o fato de elas consultarem mais bancos antes de assinarem contratos. A Sondagem deste ano revela que 88% das grandes indústrias consultam três ou mais instituições quando procuram crédito de curto prazo. No grupo das pequenas, esse comportamento cai para 38,4%. Dessa maneira, as grandes têm mais chance de obter vantagens que médias e pequenas empresas do setor.
O economista-chefe da CNI também indica que as grandes indústrias exportadoras usam "fortemente" os Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC) para obterem crédito de curto prazo. Esse comportamento, de acordo com Castelo Branco, mostra como foi dramática a interrupção do crédito a partir de setembro do ano passado, auge da crise financeira mundial. "O ACC tem custo menor e a preferência revelada pelas respostas mostra que até grandes indústrias têm problemas em obter esse financiamento de curto prazo por meio de linhas tradicionais", diz.
Apesar da evolução das condições de crédito nos últimos três anos, a indústria continua enfrentando dificuldades para obter financiamentos. A pesquisa da CNI mostra que, nas grandes indústrias, 34,1% apontam a prática de venda casada ou "exigência de reciprocidades" para conseguir crédito de curto prazo. Isso significa ter de comprar outro serviço financeiro. Nos grupos de médias e pequenas, essa reclamação é de 29,1% e 36,7%, respectivamente.
Veículo: Valor Econômico