Quatrocentos presidentes e CEOs de grandes empresas do mundo assinam uma declaração internacional que será entregue na terça ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, em Nova York. A carta lista posições consensuais do empresariado no debate sobre o acordo climático a ser firmado em Copenhague, em dezembro. É assinada pelos executivos que lideram pesos-pesados como Alcoa, Adidas, Santander, Air France, Deutsche Telekom, Shell ou Sun Microsystems, só para citar alguns nomes.
Entre os brasileiros há Natura, O Boticário, Vale, Grupo Orsa, Copagás e Energias do Brasil. O texto levanta temas consensuais no setor privado, não pontua temas de conflito no debate sobre o aquecimento. Os líderes pedem um "acordo mundial robusto e equitativo" em Copenhague e que garanta que o aumento de temperatura não ultrapasse os 2 C em 2100. Recomenda aos países desenvolvidos assumirem "imediatamente compromissos de redução" e sugere que demonstrem que "o crescimento baseado em baixo carbono é possível e desejável." Os países em desenvolvimento, por seu turno, devem desenhar seus planos de redução de emissões de acordo com suas capacidades e responsabilidades. Os mais avançados no grupo dos países em desenvolvimento devem desenvolver planos de crescimento de baixo carbono.
A iniciativa vem sendo costurada há alguns anos pelo Grupo de Líderes Corporativos sobre Mudanças Climáticas (CLG, na sigla em inglês), uma iniciativa do Príncipe Charles com a Universidade de Cambridge. O braço brasileiro desta empreitada está na Fundação Getulio Vargas, no Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVCes/FGV). "Não há contraindicação no que está no comunicado", diz Juarez Ferraz de Campos, coordenador do Programa de Sustentabilidade Global do Ces/FGV. "Tudo ali faz sentido."
O centro da FGV estrutura o programa Empresas pelo Clima (EPC) a ser lançado em 8 de outubro. Ali, uma plataforma de ações ajudará empresas a se estruturarem na economia de baixo carbono. Farão, por exemplo, inventários de emissões de acordo com padrões internacionais (o chamado GhG Protocol). "Para trazer o setor privado a reduzir teríamos que colocar à sua disposição ferramentas claras e metodologias", diz Campos.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também trabalha há meses em um documento doméstico similar. Ali se agrupam cerca de 90 federações e associações setoriais, da indústria química ao setor automotivo. Uma das tendências dos empresários, por exemplo, é não enfraquecer os direitos de propriedade quando se discute transferência de tecnologia - preferem enfocar o desenvolvimento de centros de conhecimento. No item financiamento, pedem que seja simplificado o processo de aprovação de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
"O que existe neste debate é uma agenda de oportunidades e outra de risco", diz José Augusto Fernandes, diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na de riscos, são raros os nomes dentro da indústria brasileira que aceitam que se negociem reduções de emissões setoriais na conferência do clima de Copenhague, a CoP-15. Ele pontua: "Não dá para entrar numa negociação internacional que limite o potencial da economia brasileira."
Na agenda de oportunidades há espaço para o agronegócio, o etanol (desde que se reduzam as barreiras protecionistas) ou programas de suporte ao reflorestamento, menciona. "Mas se a indústria global está se dirigindo para uma economia de baixo carbono, qual a estratégia da indústria brasileira para se adequar a este novo perfil?" questiona. "No nosso plano de política industrial não há nenhum parágrafo relevante sobre economia de baixo carbono." A indústria brasileira responde por cerca de 9% das emissões do país.
Veículo: Valor Econômico