Conjuntura: Consultorias estimam alta entre 1,5% e 2,1% para o ritmo da economia em relação ao período anterior
O aumento do investimento foi o principal fator que impulsionou o crescimento da economia no terceiro trimestre. Após um período de nove meses - entre o último trimestre de 2008 e o primeiro semestre deste ano - em que o PIB brasileiro foi sustentado pelo aumento da demanda doméstica, no período entre julho e setembro, foi a recuperação do investimento que permitiu a continuidade da expansão. As projeções de crescimento no terceiro trimestre sobre o trimestre anterior na série com ajuste sazonal variam de 1,5% a 2,1%, valores semelhantes a marca de 1,9% registrada entre abril e junho, quando o país deixou a breve recessão pela qual passou após a explosão da crise mundial.
No segundo trimestre, enquanto a indústria ainda mantinha estoques elevados e o pé no freio em investimentos e contratações, o consumo das famílias subiu 2,1% sobre o primeiro trimestre. Ao contrário da indústria, cuja atividade caiu naquele período, o comércio varejista e o consumo permaneceram crescendo durante a crise, apenas em menor ritmo. Assim, a ampliação do consumo no terceiro trimestre se deu sob uma base alta, em movimento inverso ao da indústria, que registra crescimento sobre uma base fraca.
"O investimento neste terceiro trimestre, pela primeira vez, cresceu acima do consumo e da demanda, o que indica o início de um processo que se estenderá a 2010", avalia Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. Quando as turbulências mundiais se acirraram, em setembro do ano passado, a indústria estava com estoques elevados, construídos com os investimentos feitos anteriormente. Apenas quando os estoques foram diminuindo - e o nível de capacidade instalada (Nuci) se estreitando - é que as fábricas se motivaram a retomar investimentos. Este movimento, segundo Borges, começou no segundo semestre e ficou mais forte em setembro. Para ele, o "gatilho" se dá quando o Nuci é superior a 81,5%. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Nuci, em setembro, foi de 83% - chegou a bater 77,3% em janeiro.
O mercado de trabalhou não sofreu o choque que muitos previam no fim do ano passado, contribuindo para tornar o consumo mais resiliente à queda da indústria. "Entre agosto do ano passado e janeiro, quando a indústria atingiu o fundo do poço, apenas 2,75% dos postos de trabalho no setor industrial foram fechados. No mesmo período, a produção industrial tombou 16,6%. Quer dizer, o emprego sofreu menos relativamente à produtividade", afirma Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria.
Para ele, o ritmo de recuperação no terceiro trimestre "surpreendeu", especialmente o crescimento da indústria em julho (2,2%) e agosto (1,1%). "Os estoques deram conta do recado nos primeiros seis meses, mas esse ajuste acabou. A indústria percebeu que era hora de voltar a produzir." A Tendências está revisando suas projeções para o PIB do terceiro trimestre e deve aproximá-la de 1,5% na comparação com o segundo trimestre.
Para Luiza Betina, economista do Santander, o terceiro trimestre inicia uma tendência que deverá ser verificada ao longo do próximo ano. Segundo ela, os investimentos devem continuar crescendo acima do consumo e da demanda, ainda que todos os componentes continuem se expandindo. "O consumo cresceu fortemente nos últimos trimestres graças aos estímulos fiscais concedidos pelo governo, que já começaram a ser retirados. Houve antecipação de consumo, o que, por si só, já reduz elevações futuras", afirma. Nas contas do banco, a expansão do PIB no terceiro trimestre será semelhante ao 1,9% do trimestre anterior.
Segundo Borges, da LCA, o consumo das famílias crescerá, ao todo, 3,5% neste ano sobre o ano passado, e 6% em 2010, sobre uma base alta. "Com a retomada do PIB, é natural que o consumo se acelere", explica o economista, "até porque, com uma elevação de 2,1% no terceiro trimestre e algo próximo disso nestes últimos três meses, o 'carry-over' para o ano que vem será robusto", diz , em referência ao crescimento que passa de um ano para o outro na economia se a atividade só repetir, no ano seguinte, o ritmo dos últimos meses.
Veículo: Valor Econômico