O Fundo Monetário Internacional (FMI) manifestou ontem sua preocupação com relação ao aumento das taxas de juros nos próximos anos. De acordo com relatório semestral do órgão sobre a situação do G20 (países ricos e principais emergentes), os juros se elevarão em até dois pontos percentuais em nível mundial nos próximos anos devido ao aumento da dívida dos países ricos.
A entidade demonstra preocupação com o cenário e alerta aos países que ainda não é o momento de retirar as medidas de estímulos econômico promovidas para combater a crise mundial, como já está ocorrendo em lugares como Austrália, Noruega ou Japão. "A recuperação é ainda frágil e é resultado em parte desse apoio, por isso seria prematuro retirar o apoio fiscal", explicou em coletiva de imprensa Carlo Cottarelli, diretor do departamento de assuntos fiscais da entidade, que pediu que as medidas de estímulo sejam mantidas pelo menos até 2010.
Segundo o Fundo, a alta prevista dos juros encarecerá o custo dos empréstimos públicos e privados tanto nos países avançados como nas nações em desenvolvimento, o que freará o crescimento a médio prazo. O aumento dos juros será impulsionado por uma dívida pública que chegará a 118% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 nos países ricos.
O FMI pede aos governos em seu relatório que "desenhe e comunique, atualmente, estratégias críveis de saída" de seus programas de estímulo. De acordo com o Fundo, não basta o anúncio de quando retirarão essas medidas, mas os governos dos países avançados devem considerar aumentos de impostos equivalentes a 3% do PIB.
O relatório defende um congelamento da despesa per capita, excluídas as em pensões e saúde, que aumentarão inevitavelmente com o envelhecimento da população. Além disso, o Fundo pede reformas para manter o crescimento dos desembolsos nessas áreas no mesmo ritmo do aumento do PIB.
O objetivo deve ser uma melhora do déficit primário (o saldo das contas públicas antes do pagamento dos juros da dívida) equivalente a 10,5% do PIB na próxima década e mantê-lo nessa margem por outros dez anos mais. Com isso, a dívida dos países avançados cairá de 114% do PIB em 2014 a 60% em 2030, que era a média antes da crise.
Em 2009, os membros do G20 terão um déficit coletivo de 7,9% do PIB, causado pela recessão e as medidas de estímulo econômico aplicadas. Em 2010, esse déficit deve recuar para 6,9% do PIB.
EMERGENTES. O relatório do órgão tem como objetivo avaliar a situação das finanças públicas mundiais. O documento mostrou que a tendência fiscal para as economias avançadas é mais fraco do que o originalmente estimado. Nos países emergentes, porém, os déficits aparentam ser menores do que as estimativas preliminares. "Muitas economias avançadas entraram na crise com posições fiscais estruturalmente fracas que se deterioraram ainda mais posteriormente, não apenas pelas medidas contra a crise, mas também por pressões de gastos subjacentes", segundo o relatório. Apesar disso, segundo Carlo Cottarelli, "este não é o momento para apertar a política fiscal, mas é o momento para pensar em como ajustar a política fiscal no futuro". (Com agências)
Veículo: Jornal do Commercio - RJ