Apesar do conflito comercial entre os dois principais sócios do Mercosul, os presidentes dos Bancos Centrais do Brasil, Henrique Meirelles, e da Argentina, Martín Redrado, estudam, com empresários de ambos os países, projetos comuns de financiamento. "Estamos discutindo questões de médio e longo prazos, como criar mecanismos de harmonização de políticas no Mercosul e de questões referentes, por exemplo, a mecanismos de financiamento de projetos comuns", afirmou Meirelles, na última sexta-feira, em Buenos Aires, onde participou de uma reunião com Redrado e empresários.
Segundo ele, "existem interesses de fundos de investimentos, particularmente na área de private equity (fundos que investem em empresas), para financiar projetos de longo prazo, e poderia existir a possibilidade de financiamento de projetos conjuntos". Meirelles explicou que "ainda é preciso discutir a estrutura de financiamento dos projetos que possam interessar os investidores e ver até que ponto podem ser financiados por bancos comerciais ou de desenvolvimento". O presidente do BC informou que a atual discussão se encontra em etapa de elaboração das minutas dos projetos. Para ele, a crise bilateral gerada por barreiras mútuas ao comércio não prejudica a relação a longo prazo entre o Brasil e a Argentina. "A curto prazo [a crise] pode prejudicar, mas a nossa visão não é pontual de questões comerciais. É uma abordagem de prazo mais longo que podemos fazer independentemente de problemas ou soluções de curto prazo", disse.
A Argentina não vai tolerar que suas exportações, em particular as de produtos perecíveis, sofram entraves comerciais por parte do Brasil, afirmou o ministro da Economia, Amado Boudou.
A tensão bilateral cresceu na semana passada quando o governo brasileiro freou importações argentinas de farinha de trigo, azeites, alho, vinho, frutas e caminhões fabricados naquele país, entre outros produtos. Dezenas de caminhões ficaram parados na fronteira e portos não puderam transportar as mercadorias para o Brasil. A medida é considerada uma represália às licenças não-automáticas (que atrasam o processo de exportação) que a Argentina implementou como argumento para proteger o emprego, a indústria e a produção frente à crise mundial.
Segundo dados do Ministério do Comércio e Indústria brasileiro, o comércio bilateral dos países somou US$ 30,864 bilhões de janeiro a dezembro de 2008.
Veículo: DCI