A sociedade brasileira foi positivamente surpreendida, há alguns dias, pelo anúncio do corte nos impostos federais incidentes sobre alguns dos itens da cesta básica da população. A partir de então, têm sido recorrentes - e justificados - os questionamentos da imprensa, dos órgãos competentes e dos consumidores sobre quando, em que proporção e em quais produtos o preço final seria aliviado no ponto de venda. Esta é uma equação que parece simples, mas não é. O preço dos produtos não caiu e nem cairá na mesma proporção do corte no PIS e na Cofins, e o motivo é a complexidade do sistema tributário em níveis federal e estadual.
O varejo gaúcho, entretanto, não pode - e não irá - se eximir de sua responsabilidade. Elogiamos a postura da presidente Dilma Roussef, ainda que saibamos que esta desoneração não chegou por acaso. O governo percebeu que a inflação se aproximava e que a perda do poder de compra dos brasileiros era iminente. Não fosse a desoneração destes itens e, sem qualquer sombra de dúvidas, os alimentos sofreriam uma alta média de 12% nos próximos meses em todos os supermercados brasileiros. A desoneração da cesta básica é uma reivindicação histórica do varejo brasileiro e da classe supermercadista gaúcha, e por isso conclamamos os empresários do setor a fazerem o seu mea-culpa.
Reconhecemos as dificuldades históricas de indústrias e supermercados, bem como os problemas causados pelo emaranhado tributário, pela alta carga de impostos e pelos encargos excessivos, mas este não é o momento da classe empresarial compensar estas perdas. Este é um momento único para os supermercados, já que governo nenhum fez isso pelo varejo nacional e pelos consumidores. Mas é também a hora de honrarmos a nossa palavra e darmos legitimidade aos nossos pleitos. Se tivermos um ganho de 2% em função da desoneração, devemos repassar estes 2% em abatimento no preço do produto aos clientes. Se for de 15% o ganho, deverá ser de 15% o repasse de queda nos preços.
Mais do que nunca, o setor supermercadista gaúcho deve fazer jus à sua constante atuação em busca de melhorias para os mecanismos econômicos que movem o Estado e o País. É o momento de provarmos que nossos pleitos e todos os nossos discursos não foram em vão, ou não terá sentido toda a trajetória de 40 anos de lutas e reivindicações do setor. Qual terá sido o objetivo de uma entidade de classe se, no momento em que seus pleitos forem atendidos, ela não oferecer à população a contrapartida por esta conquista? Contamos com todos os supermercadistas e empresários do autosserviço para que, efetivamente, pleiteemos o repasse desta queda de impostos junto aos fornecedores e apliquemos, na prática, preços menores sobre os itens desonerados. É uma questão de palavra, de visão, de valores. Uma questão de honra.
Antônio Cesa Longo
Presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS)