O tradicional almoço do Círio, no segundo domingo de outubro, será realizado novamente neste ano pêlos paraenses, ao contrário das romarias oficiais da festividade, que foram canceladas devido à pandemia de coronavírus. O número de convidados para as reuniões nos domicílios, no entanto, será bem menor que nos anos anteriores, o que é refletido na redução da compra de produtos típicos do período nos supermercados. A análise é feita pelo presidente da Associação Paraense de supermercados (Aspas), Jorge Portugal, que calcula queda entre 40% e 50% das vendas em comparação com o ano passado.
O representante dos supermercadistas afirma que o Círio 2020 seguirá a mesma tendência de datas importantes para o comércio paraense, como o Dia das Mães deste ano, também ocorrido durante a crise sanitária global. "As coisas mudaram muito, infelizmente, como todos sabem. O Círio é o segundo Natal dos paraenses, mas não será o mesmo. Tucupi, jambu, frango, a maniva, estão sendo comercializados sim, mas não há comparação com os anos passados, já que os almoços serão para um número menor de pessoas", argumenta.
Como sinal das mudanças, a maioria dos supermercados deverá abrir até as 14h no próximo domingo, diferente dos últimos anos, refletindo a necessidade dos empresários em buscar a manutenção de um padrão de vendas no mês. "Nos últimos anos, todos (os supermercados), com poucas exceções, fecharam no domingo do Círio. Neste ano, quase todos trabalharão até as 14h. É a forma que encontraram de manter as vendas, já que não teremos aquela corrida pêlos produtos, que costumamos ver", reitera.
A economista Socorro Rodrigues, que comprava os últimos ingredientes do almoço na tarde de ontem, conta que decidiu restringir o encontro familiar a somente 15 convidados. Neste ano, a reunião não terá convidados de outros estados, apenas uma filha da anfitriã, moradora de Curitiba. "Mesmo com a pandemia e todos os cuidados que somos obrigados a tomar, nós vamos fazer nosso almoço. Não tem como deixar de fazer. Mas, com certeza, será menor que nos outros anos, apesar de não abrirmos mão de nenhum prato tradicional"garante.
O cardápio de Socorro Rodrigues terá pato no tucupi, frango, "para quem não come pato", arroz paraense e a tradicional maniço-ba. Entre os alimentos oferecidos, os preços que mais chamaram atenção da consumidora foram das proteínas, como pato, frango e as carnes de porco utilizadas para o preparo da maniçoba. "No caso do tucupi e do jambu, que compro sempre, não notei diferenças de preço muito significativas. Mas, no caso, das proteínas, sem dúvida ficaram bem mais caras" enfatiza.
A empregada doméstica Rose-ane Serra também faz parte da parcela de paraenses devotos de Nossa Senhora de Nazaré que já está com as comidas "quase prontas" para o almoço. Roseane destaca que, mesmo antes dos preparos para o Círio, não estava fácil conciliar as demandas por alimentos com a organização financeira. Segundo ela, os preços de arroz e feijão ainda são os piores inimigos. "No caso do Círio, não mudou tanto (o planejamento). Não compro pato, e sim o frango, que é mais barato. E jamais deixo de fazer a maniçoba", sorri.
Fonte: O Liberal