Balanço: PIB do setor deverá recuar R$ 4 bilhões no acumulado do ano
A queda de rentabilidade - parte em função da valorização do real, parte pela flutuação das commodities agrícolas - foi a principal marca do agronegócio de Minas em 2009, segundo avaliou ontem o secretário estadual de Agricultura mineiro, Gilman Viana. De acordo com levantamento disponível na página da secretaria da Internet, a estimativa é que o PIB do agronegócio mineiro este ano tenha uma perda de R$ 4 bilhões em relação aos R$ 90,5 bilhões registrados em 2008. Os valores são de setembro. Isto equivale a uma contração da ordem de 4,4%.
Parte do recuo se explica pelo caráter sazonal da cultura do café, com ciclo bienal, que deve produzir este ano 19,6 milhões de sacas, ou 16,8% a menos do que em 2008. O café é o principal item na balança comercial do agronegócio mineiro e o Estado responde por cerca de 50% da produção nacional.
Mas mesmo na cafeicultura há indícios de que há um desinvestimento que não se explica pela sazonalidade: maior produtora nacional , a cooperativa Cooxupé divulgou ontem uma estimativa de safra de 9,4 milhões de sacas para 2010. Em comparação com a safra de 2008, será 4,3% a menos. A cooperativa terá crescimento de produção no cerrado mineiro (2,8%) e no nordeste paulista (7,3%), áreas pouco expressivas. No sul de Minas, onde concentra-se cerca de um quarto da produção nacional, a queda da Cooxupé será de 8,7%.
Outro sinal de desinvestimento pode ser visto no setor de insumos. Segundo a análise de conjuntura da secretaria da Agricultura, o nível de preços de fertilizantes e corretivos de solo acumularam uma queda de 15,6% em preços reais em novembro, grande parte em função do próprio câmbio, já que este setor é um grande importador. Mas o preço menor não representou um aumento de vendas, pelo contrário: o volume negociado recuou no Estado 17,8%.
"O câmbio é o principal gargalo, a grande ameaça à rentabilidade no campo. Avalio que este ano ele tirou de 12% a 14% da renda do produtor", disse Viana.
No final do ano, a taxa do câmbio fechou em cerca de R$ 2,40. Este ano, deve oscilar em torno de R$ 1,60 para cada dólar. Além do fator cambial, contudo, houve a própria desvalorização das commodities. O café este ano gerou, nos onze primeiros meses de 2009, US$ 2,6 bilhões em exportações, ou 4,2% a menos do que no mesmo período do ano passado, em moeda estrangeira. Mas o volume embarcado aumentou 11,9%, atingindo 1,1 milhão de toneladas.
O mesmo fenômeno ocorreu com o segundo maior item da pauta de exportações do agronegócio mineiro, as vendas do complexo carne. Minas foi o Estado menos atingido pelas medidas restritivas da União Europeia, por ter 35% do total nacional das fazendas de pecuária bovina certificadas para exportar. Mas de janeiro a novembro, a venda de carnes gerou US$ 599 milhões , ou 2,4% a menos do que obtido em 2008 nesta mesma época. Já o volume subiu 16,8%, alcançando 285 mil toneladas.
Deste total, 74 mil foram de carne bovina e 211 mil toneladas de aves e frangos. No principal mercado da pecuária bovina, que é o da União Europeia, foram vendidas 10,5 mil toneladas em onze meses, conseguindo-se uma receita de US$ 67,2 milhões, ou 26,1% do total da venda de carne bovina, que foi de US$ 257,1 milhões.
Segundo Gilman Viana, o setor de grãos em Minas aumentou a produção em relação ao que se observa no Brasil como um todo. Nos primeiros onze meses do ano, o Estado produziu 10,4 milhões de toneladas de grãos, uma alta de 2%, ao passo que nacionalmente houve um recuo de 6,3%, com a safra prevista de 135,1 milhões. A produção de soja em Minas deve alcançar 2,7 milhões de toneladas, uma alta de 5,7%, ante um recuo de 4,9% na produção nacional, que deve ficar em 57 milhões. Mesmo na cana, Minas deve atingir uma produção recorde de 51,3 milhões, alta de 16%. No Brasil, a produção de cana também deverá ser inédita, com 629 milhões de toneladas, mas com um aumento de 10%.
Veículo: Valor Econômico