Logística: Múlti admite reestruturação nesta frente; pelo menos 30 unidades estão sendo negociadas em MT
Uma das maiores empresas globais do agronegócio, a Bunge estuda uma mudança radical em sua estrutura logística no Brasil. Reconhecida pelo pioneirismo na instalação de silos para recebimento de grãos em áreas de fronteiras agrícolas, a companhia está revendo sua estratégia para o serviço de armazenagem depois de ter sofrido com a desvalorização das commodities decorrente do aprofundamento da crise mundial, a partir de setembro do ano passado. Em parte por causa disso, muitos silos da empresa já foram vendidos e outros estão sendo negociados.
A Bunge chegou a ter no Brasil mais de 200 sistemas de armazenagem em praticamente todos os Estados produtores de soja e milho. Desse total, mais de 50 já foram comercializados e, apenas em Mato Grosso, outros 30 estão à venda, segundo fontes consultadas pelo Valor. Segundo essas fontes, a empresa abandonou seu projeto de estar presente em todas as regiões de fronteira. Com as vendas, estima-se que a empresa pode levantar cerca de R$ 100 milhões
Considerados estratégicos, a capacidade total de armazenagem e o número de silos administrados não são revelados pela empresa, mas apenas em Mato Grosso - Estado que representa quase 30% da produção de soja e 14% do milho produzido no Brasil - a estrutura própria é capaz de estocar 1,4 milhão de toneladas de grãos.
As fontes sabem que a multinacional está revendo seu posicionamento na área de armazenagem, mas dizem que também existe a necessidade de formação de caixa depois das perdas com a crise. Desde antes da crise financeira a Bunge já estudava readequar sua estrutura para tornar seu negócio mais eficiente.
"Na safra passada, a Bunge travou o valor de compra da soja com os produtores, mas deixou um volume importante desse produto em aberto na bolsa", disse um especialista. Quando os preços começaram a cair, a empresa se viu desprotegida das oscilações do mercado. Vale lembrar que parte do caixa da Bunge e de outras tradings foi consumida pelos ajustes diários da bolsa diante da valorização dos grãos entre 2007 e 2008.
Oficialmente, a Bunge confirma a venda de alguns armazéns, mas informa que se trata de uma otimização de sua infraestrutura logística. A companhia diz que está direcionando suas atenções nesta atividade para regiões onde existe uma demanda maior por estruturas de armazenagem. Segundo sua assessoria de imprensa, a ideia é redesenhar e organizar o serviço de armazenagem para ganhar mais agilidade neste segmento e criar um fluxo mais eficiente entre a originação dos grãos com a exportação e o processamento.
Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que o Brasil tem um déficit de 4% na capacidade de armazenamento. A situação é mais crítica na região Norte do país, onde faltam silos para 35,8% da safra total de grãos, seguida pelo Nordeste (15,8%), Sul (7,2%) e Centro-Oeste (5,1%).
Além da necessidade financeira, outro motivo que leva a Bunge a rever seu negócio de armazenagem está ligado à gestão. Segundo grandes produtores de Mato Grosso, a empresa nunca primou pela eficiência neste segmento e tem enfrentado dificuldades para administrar a originação de muitos lotes com pequenos volumes. Por esse motivo, afirmam eles, a empresa dará preferência nesta safra para compra de grandes volumes no atacado, reduzindo assim os financiamentos diretos aos produtores e também seus riscos.
"Em Mato Grosso, sentimos que a Bunge diminuiu seu financiamento para os agricultores e concedeu crédito apenas para aqueles que eram capazes de entregar grandes volumes e com quem a relação era mais antiga", disse um produtor do Estado.
Veículo: Valor Econômico