A tendência de queda nas cotações do leite se confirmou, porém, em proporções superiores às que eram esperadas. Na média nacional, os valores pagos aos produtores recuaram 5,4%, o equivalente a R$ 0,039/litro. Desde maio, a queda no preço já acumula 7,7%. Observe, na Tabela 1, os valores pagos em agosto, pela produção de julho, e a comparação com os valores do mês anterior.
Em agosto, a maior queda foi observada no Estado de Rondônia, onde os valores foram reduzidos em 9%. Em dois meses, os produtores rondonienses já perderam 23,6% nos preços, o maior recuo no País. Até junho, os preços médios pagos no Estado eram praticamente os mesmos pagos no Paraná. Portanto, anteriormente, o mercado de Rondônia estava sobre-valorizado quando comparado à região sul e sudeste.
Para o pagamento de setembro, quando é remunerado o leite produzido e entregue em agosto, a opinião geral beira à unanimidade: os preços devem recuar mais um pouco. Desde julho de 2003, quando a Scot Consultoria passou a registrar o índice de consenso, essa foi a segunda vez que o número de entrevistados esperando queda de preços para o mês seguinte passa de 90%. A primeira vez foi em outubro de 2007.
Atualmente, são 90,24% dos entrevistados falando em queda para o próximo pagamento. Os demais falam em estabilidade e ninguém relatou a possibilidade de alta. Faz sentido. No atacado - preço recebido pela indústria - o valor do leite longa vida caiu 8%, uma redução superior à registrada no campo. Com isso, a indústria segue mais pressionada ainda, com dificuldade em repassar preços para o varejo e pagando mais que em 2007 pela matéria-prima.
Na média de janeiro a agosto de 2008, o preço do leite longa vida foi 5,49% inferior ao do mesmo período de 2007. Isso em valores nominais, sem considerar o efeito da inflação. No campo, comparando o mesmo período, os preços que a indústria paga aos produtores são 21,5% superiores na média nacional. É inquestionável o desconforto que vive atualmente a indústria.
Embora essa comparação simples possa levar à conclusão de que o mercado seja bem favorável ao produtor, a realidade é outra. Comparando os mesmos períodos - janeiro a agosto - os custos atuais de produção de leite são 32,26% superiores em 2008. É pressão para todo lado. Só o varejo "nada de braçada" neste mercado, com suas margens nas vendas do leite longa vida em 18,2%, quando historicamente são de 14%.
Mesmo a análise das exportações pode levar a conclusões equivocadas. Até julho, em equivalentes/litros de leite, o setor lácteo exportou mais de 85% de todo o volume que foi exportado durante 2007. Quando se compara o saldo entre os volumes das exportações e importações do setor lácteo, o superávit já atinge 99% do total que foi registrado em 2007, evidenciando que o setor caminha para um novo recorde em 2008.
Em faturamento, até julho, o superávit da balança comercial de lácteos já superou em 27% o que foi registrado em todo o ano de 2007, segundo relatório do Secex do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Nos sete primeiros meses do ano, o saldo da balança de lácteos é de US$ 155,8 milhões.
Apesar do recorde prenunciado, as exportações não têm sido lucrativas como foram em anos anteriores. Segundo o USDA (departamento de agricultura norte-americano), os preços do leite em pó estão por volta de US$ 3,95 mil a US$ 4,30 mil por tonelada no este da Comunidade Européia e na Oceania.
No Brasil, em dólares, a cotação média nacional do leite é de US$ 0,42/litro. Apenas a matéria-prima, na plataforma, já chega a aproximadamente US$ 3,40 mil por tonelada de leite em pó, considerando oito litros para cada quilo de leite em pó. Ainda é necessário incluir os custos operacionais de secagem do leite, embalagem, transporte e todos os demais custos envolvidos no processo de exportação. As margens da indústria, portanto, são bem reduzidas também nas vendas externas.
Com toda essa pressão atual, pela primeira vez desde outubro de 2007, o preço do leite no mercado spot fica praticamente igual ao valor médio ponderado pago aos produtores nos maiores Estados lácteos. De janeiro de 2007 até julho de 2008, a cotação, em média, do mercado spot nos Estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais ficou 14,22% superior ao valor médio pago aos produtores nestas regiões.
O mês de agosto trouxe algumas semelhanças, já citadas no texto, com o mês de outubro de 2007. Depois de outubro do ano passado, os preços recuaram mais um pouco, cerca de R$ 0,02/litro. Porém, o movimento de baixa perdeu força logo depois e os preços passaram a se estabilizar. Se o comportamento atual repetir o do ano passado, é provável que o valor médio do leite em 2008 se aproxime, ou até fique abaixo, ao valor praticado em 2007.
Até o momento, o preço médio do leite em 2008 é 13% superior à média de 2007, em valores nominais. Até julho, acreditávamos que os preços do ano seriam superiores à média do ano anterior, crença que vem sendo derrubada com o cenário de agosto e as perspectivas que se desenham.
Mesmo com os custos mais elevados, a atividade ainda é remuneradora aos produtores de melhor eficiência técnica e gerencial. A opinião sobre os preços dos alimentos, que são tão relacionados à inflação, divide diversos analistas. Há quem acredite que a inflação esteja controlada, enquanto outros apostam numa nova recuperação dos preços, em médio prazo. Atualmente, para a maior parte dos produtos agrícolas, as margens continuam apertadas, tendo em vista os altos preços dos fertilizantes.
De qualquer forma, o mercado do leite tende a se comportar de maneira semelhante ao comportamento das outras commodities agrícolas. Evidentemente que a indústria só poderá melhorar os pagamentos se os preços do leite e derivados forem repassados para frente.
Veículo: Revista Balde Branco
