Grupo chileno teria de pagar multa de US$ 250 milhões à Fibria para ampliar a unidade antes de 2015
Animada com a recuperação dos preços da celulose no mercado internacional, que só neste ano sofreram dois reajustes de US$ 30 por tonelada, a chilena CMPC já admite pagar uma multa de US$ 250 milhões para antecipar a expansão da Celulose Riograndense, em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre. A fábrica foi adquirida no ano passado da Fibria por US$ 1,43 bilhão, mas uma cláusula contratual prevê o pagamento adicional se os novos controladores ampliarem a unidade antes de primeiro de janeiro de 2015.
"Temos condições de antecipar o projeto caso seja justificável do ponto de vista econômico", disse ontem o presidente da Celulose Riograndense, Walter Lídio Nunes, ex-diretor da Aracruz e da Fibria que foi contratado pelos chilenos para tocar a operação no Brasil. Segundo o executivo, depois de caírem para US$ 380 por tonelada no auge da crise econômica, as cotações da celulose de fibra curta (como a fabricada em Guaíba) recuperaram-se e hoje estão numa situação "bem melhor".
Com os últimos aumentos, os preços de referência passaram para US$ 720 na China, US$ 760 na Europa e US$ 790 na América do Norte, puxadas pelo crescimento da demanda nas três regiões. As projeções mais otimistas já apontam para US$ 840 por tonelada no mercado europeu no fim do ano, o melhor patamar desde 2000, mas mesmo assim Nunes não especificou qual seria o valor mínimo que justificaria antecipar a expansão. "Estamos fazendo novos estudos de viabilidade", explicou.
Elaborado originalmente pela Aracruz, o projeto de ampliação prevê o aumento da capacidade da fábrica de Guaíba de 450 mil para 1,8 milhão de toneladas por ano e já dispõe das licenças ambientais necessárias. A meta inicial era concluir as obras, que chegaram a ser orçadas em US$ 3 bilhões, em agosto deste ano, mas o processo foi congelado devido à crise. Ainda assim, o plano foi decisivo para o negócio com os chilenos. "A aquisição do ativo está necessariamente associada à expansão, que praticamente vai dobrar a capacidade de produção da CMPC (anterior à aquisição da unidade)", explicou Nunes.
Conforme o executivo, o grupo que fatura US$ 3 bilhões por ano decidiu investir no Brasil porque a disponibilidade de áreas para plantio de florestas no Chile suportaria um aumento de apenas 500 mil toneladas na produção anual de celulose. No Rio Grande do Sul, a Celulose Riograndense já tem 125 mil hectares plantados e dispõe de outros 20 mil hectares para plantio em 2010 e 2011. Desse total, entre 20% e 30% correspondem a áreas arrendadas ou de produtores parceiros.
Só neste ano, os investimentos na implantação de 13 mil hectares e na recuperação de outros 19 mil vão alcançar os US$ 250 milhões, financiados preferencialmente com a geração de caixa da própria controlada no Brasil, disse Nunes. Ainda em 2010 serão feitas obras viárias no entorno da fábrica para facilitar o acesso às novas instalações.
De acordo com o presidente da empresa, o orçamento original para a ampliação da fábrica deverá ser reduzido em função da queda de preços de máquinas, equipamentos e matérias-primas. "Depois da crise podemos comprar as mesmas coisas por muito menos", afirmou o executivo. Segundo Nunes, contratos que já haviam sido firmados pela Aracruz com fornecedores para o projeto de expansão, no valor de US$ 180 milhões, ficaram com a Fibria.
Nunes explicou ainda que a partir de agora as exportações da Celulose Riograndense, que representam 97% da produção local, serão coordenadas pela controladora chilena. Já as vendas no mercado interno, incluindo a celulose de fibra longa produzida no Chile, ficarão sob responsabilidade da empresa no Brasil. A companhia brasileira fabrica ainda 60 mil toneladas por ano de papel de imprimir e escrever, vendido totalmente no mercado doméstico.
Veículo: Valor Econômico