Pouco mais de um ano depois de entrar com pedido de recuperação judicial, em janeiro de 2009, a Dalponte, fabricante de tênis para futsal, chuteiras e bolas de futebol, emite sinais de que começa a sair do sufoco. Com o aquecimento do mercado interno, a fábrica de Veranópolis (RS), desativada no início do ano passado, voltará a operar este mês, enquanto a empresa negocia com um investidor estrangeiro e um fundo de investimentos nacional a venda de parte do capital ou do controle acionário hoje nas mãos da família Dal Ponte.
Segundo Luís Alberto de Paiva, diretor-geral da Dalponte e sócio da Corporate Consulting, responsável pela reestruturação da empresa, o desfecho das negociações (ele não revela os nomes dos interessados) dependerá da assembleia de credores que acontecerá até março. No encontro, ele vai propor aos bancos e fornecedores pagar os débitos de R$ 26 milhões em oito anos com 30% de deságio.
"Estamos otimistas quanto à aprovação porque os fornecedores e os bancos já voltaram a nos oferecer crédito", diz Paiva. Segundo ele, a empresa ainda aderiu ao Refis 4, programa de refinanciamento de dívidas com a União, para pagar em 180 meses outros R$ 19 milhões em impostos federais atrasados. Agora, se houver acerto com os credores remanescentes, o novo sócio poderá aportar até R$ 30 milhões e, neste caso, assumir o controle da empresa.
Mas os argumentos para sensibilizar os bancos e fornecedores não vão se limitar à iminência de um aporte externo. Conforme Paiva, as vendas da empresa em janeiro superaram em 50% as do mesmo mês de 2009 e a previsão para o ano cheio é de um faturamento de R$ 80 milhões, ante R$ 45 milhões no exercício passado. "E desde o segundo semestre de 2009 começamos a ter lucro", afirma. No acumulado do ano passado, a geração de caixa (Lajida) ficou negativa em R$ 1 milhão, ante os R$ 9,2 milhões negativos de 2008, diz.
A Dalponte vai reativar a planta de Veranópolis graças ao contrato de terceirização da fabricação de calçados esportivos para duas varejistas, que têm os nomes mantidos sob sigilo. A unidade ainda vai absorver, a partir de março, a linha de tênis infantis da fábrica de Santo Antônio de Jesus (BA), que vem operando a plena capacidade com a produção de 100 mil pares de tênis adultos e 40 mil bolas por mês (outras 50 mil bolas são importadas da China mensalmente).
Até abril, segundo Paiva, a Dalponte estará fabricando no Rio Grande do Sul 4 mil pares por dia (ou cerca de 80 mil por mês) para as duas redes de varejo, além de 1 mil pares por dia de calçados infantis com marca própria, ante os 400 pares diários feitos hoje na Bahia. Os contratos de terceirização foram possíveis depois que o Brasil adotou, em setembro, a tarifa antidumping de US$ 12,47 sobre cada par de calçado vindo da China. "Com isso a indústria nacional ficou mais competitiva", afirma.
O processo de recrutamento de pessoal para trabalhar em Veranópolis já começou e, segundo Paiva, até junho 400 pessoas devem ser contratadas. A empresa tem hoje 970 funcionários (em 2008 eram 1,2 mil), sendo 100 na área administrativa e 870 na Bahia, onde ela também montou neste ano dois ateliês de costura para abastecer a planta de Santo Antônio de Jesus.
Com produtos focados nas classes C e D, vendidos para o varejo entre R$ 19 e R$ 120, a Dalponte confia no estímulo ao consumo de artigos esportivos gerado pela Copa do Mundo de futebol deste ano. Na última Couromoda, realizada em janeiro em São Paulo, a empresa também lançou uma linha de tênis vulcanizados estilo "street" e modelos para futsal e futebol de campo. Os resultados animaram Paiva. "Depois de passar 2009 com estoques baixos, os lojistas estavam desabastecidos", diz.
A volta ao mercado externo é outra expectativa do executivo, mas ele ressalva que isso depende da entrada de um novo investidor. Até 2006, as exportações representaram 30% da receita da empresa. Agora não passam de 3%, com vendas basicamente para o Mercosul.
Veículo: Valor Econômico