Farmacêuticas planejam aporte de R$ 3 bilhões no país em 2010

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Laboratórios: Aquisições, ampliações de fábricas e pesquisas são foco dos investimentos

 

   
O Brasil entrou na rota de investimentos das principais multinacionais farmacêuticas. Aquisições, sobretudo no segmento de genéricos, deverão ser o foco dessas empresas em 2010 no país. Os grandes laboratórios nacionais, que eram considerados alvo de compra dos estrangeiros, também engrossam o movimento de consolidação e focam o mercado externo para expansão.

 

O Valor ouviu, nas últimas semanas, 15 das principais companhia brasileiras e internacionais e consultores do setor. O consenso é que o país tornou-se a bola da vez para os investimentos, que podem superar os R$ 3 bilhões em 2010, se as estratégias planejadas por essas empresas forem concretizadas. Nesses aportes, estão incluídas aquisições, expansão para promover crescimento orgânico das atuais fábricas instaladas no país, além de pesquisas e desenvolvimento de novos produtos.

 

Os incentivos vêm de todos os lados. A economia estável no Brasil, o maior acesso da população a medicamentos e as políticas do governo na área de saúde colocam o país no radar de grandes grupos. O BNDES, por meio do Profarma, programa de fomento do setor farmacêutico, está disposto a financiar aquisições de companhias brasileiras dentro e fora do país.

 

"Até há pouco tempo os laboratórios nacionais viviam de medicamentos similares e não investiam em patentes. Essa situação está mudando", afirmou Nilton Paletta, presidente da IMS Health, consultoria internacional que audita as farmacêuticas. Os países emergentes, no qual o Brasil está incluído, tornaram-se alvo dos grandes grupos farmacêuticos. "Os grandes mercados mundiais não crescem, ou avançam muito pouco", diz.

 

O ano de 2009 foi marcado por aquisições de porte dentro e fora do país no segmento farmacêutico. No mercado global, os principais protagonistas foram a americana Pfizer, que comprou a Wyeth; a Roche, que passou a controlar 100% da americana Genentech, com a aquisição dos 44% restantes da companhia; e a Merck , que fechou a compra da Schering-Plough. Agora, essas mesmas companhias olham os mercados emergentes como potencial para crescimento local. Somente essas três aquisições movimentaram mais de US$ 150 bilhões no mercado internacional.

 

No Brasil, o movimento de fusões e aquisições também foi intenso no ano passado, embora com um orçamento bem mais modesto. A própria Pfizer estava no páreo para levar a Neo Química, que acabou sendo adquirida por R$ 1,3 bilhão pela Hypermarcas. Fontes do setor afirmaram que a americana estaria agora de olho na nacional Teuto, de Goiás. As duas empresas negam negociações. A Hypermarcas também está sondando o mercado para novos negócios.

 

A compra da farmacêutica nacional Medley, em abril de 2009 pela francesa Sanofi-Aventis por R$ 1,5 bilhão, começou a inflacionar os ativos dos laboratórios nacionais, segundo fontes do setor. A multinacional reforçou sua posição em medicamentos genéricos no país, um segmento em franco crescimento.

 

"As recentes aquisições no país tornaram os ativos do setor farmacêuticos caros", afirmou Wilson Borges, presidente da Zambon no Brasil. A matriz da companhia italiana deu o aval para o grupo negociar uma aquisição este ano no Brasil. O executivo afirmou que o grupo deverá investir € 100 milhões no país, destinados para aquisição de um laboratório de médio porte e produtos. O laboratório Ferring Pharmaceuticals, com sede na Suíça, também planeja investir entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões no país, como parte da estratégia de expansão do grupo em mercados emergentes. A dinamarquesa Nycomed também engrossa o coro das multinacionais que planejam reforçar seus aportes em aquisições e licenças de medicamentos no Brasil.

 

Maior companhia farmacêutica do país, a EMS vai reforçar sua expansão no mercado interno e negocia também aquisições fora do país, afirmou Waldir Eschberger Jr., vice-presidente de mercado do grupo. A EMS já tem uma joint venture com a Germed, o que garante a presença do grupo na Europa. Eschberger afirmou que a empresa deverá ampliar a presença fora do Brasil ainda este ano. No país, a companhia vai se concentrar no desenvolvimento de novos produtos e no fortalecimento de sua marca, com investimentos da ordem de R$ 600 milhões.

 

O laboratório Aché, que protagonizou no passado recente a compra da Biosintética, também mantém suas apostas no setor. José Ricardo Mendes da Silva, presidente do grupo, afirmou que a empresa deverá abrir capital para promover seu crescimento no país. A Eurofarma também quer consolidar sua expansão fora do país, sobretudo na América Latina, afirmou a executiva Maria Del Pilar Muñoz, diretora de sustentabilidade e novos negócios da companhia.

 

O grupo já tem um pequeno laboratório na Argentina e quer ampliar sua presença no Uruguai, Paraguai e Colômbia ainda este ano. No país, a empresa deverá fazer aportes de R$ 50 milhões em pesquisas de inovação e concluir os investimentos de R$ 80 milhões em sua nova fábrica, instalada em Itapevi, na Grande São Paulo, que já recebeu aportes de R$ 370 milhões nos últimos meses.

 

Segundo Nelson Mussolini, vice-presidente do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo), a tendência dos laboratórios brasileiros é avançar em países latino-americanos. "O momento atual é bom para investimentos. Considerando apenas as aquisições realizadas no ano passado [Medley e Neo Química], os aportes de R$ 3 bilhões são mais do que plausíveis", afirmou.

 

O país também tem atraído investimentos em ensaios clínicos, até então concentrados em mercados mais maduros, como os países da Europa e Estados Unidos. O principal executivo global da Roche, Severin Schwan, afirmou, na semana passada, que a companhia tem focado os países emergentes, entre eles o Brasil, para fazer ensaios clínicos de medicamentos em desenvolvimento.

 

"As farmacêuticas foram uma das poucas que passaram praticamente imunes à crise financeira global e registraram crescimento expressivo em 2009. Nos países emergentes, o potencial de crescimento é acima de dois dígitos nos próximos anos", disse Paletta.

 

 
Genéricos são alvo preferencial dos investimentos das multinacionais

 

O segmento de medicamentos genéricos tem recebido especial atenção de grandes companhias multinacionais. Com a perda de importantes patentes e custos mais baixos, o que estimula o maior consumo, muitos grupos especializados em inovação estão considerando começar a produzir genéricos.

 

Nos Estados Unidos, as vendas de remédios genéricos podem chegar a 50% nos próximos 10 anos, de acordo com a consultoria IMS Health. No Brasil, as vendas totais de medicamentos em 2009 somaram R$ 30,2 bilhões, dos quais 15%, ou R$ 4,5 bilhões, foram de genéricos , segundo a Pró-Genéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos ). De cada 100 unidades vendidas no país, 20 já são de genéricos.

 

A Sandoz, braço de genéricos do grupo farmacêutico suíço Novartis, vai intensificar suas apostas nesse segmento. "Vamos crescer nosso portfólio, com a busca de registro para produtos que deverão perder a patente", afirmou ao Valor José Luís Martins Lopes, diretor de operações técnicas da Sandoz.

 

A multinacional americana Pfizer afirmou, em recente entrevista a este jornal, que pretende investir na produção de genéricos de seus próprios produtos. A empresa comercializa o Lipitor (combate o colesterol elevado), que deverá perder a patente até o fim do ano. Esse medicamento é o mais vendido no mundo, movimentando US$ 13 bilhões. O Viagra, também da Pfizer, perde a patente em 2011.

 

Estimativas de mercado apontam que o segmento de medicamentos genéricos no Brasil poderá receber um incremento de cerca de R$ 800 milhões entre 2010 e 2011 por conta dos remédios de marcas que vão perder a patente neste período. No país, grandes laboratórios nacionais são especializados em produzir esses medicamentos. (MS)
 

 

Veículo: Valor Econômico


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