A fórmula secreta

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A paulista Chemyunion se especializou em explorar a biodiversidade brasileira - e hoje exporta conhecimento para os maiores fabricantes mundiais de cosméticos

 

Com um mercado consumidor avaliado em 25 bilhões de reais no ano passado, o setor brasileiro de cosméticos destaca-se pelos grandes números. O país consumiu em 2009 mais de 1,5 milhão de toneladas de produtos de beleza - crescimento de mais de 25% desde 2004. Também lidera o ranking global de venda de desodorantes e é o segundo colocado em produtos para cabelos, protetores solares e perfumaria. Em volume total, os brasileiros ficam atrás somente de Estados Unidos e Japão. Por trás dos números expressivos, existe ainda uma revolução silenciosa, que se dá longe das prateleiras das farmácias e dos supermercados. A busca pela diferenciação entre os produtos é um dos maiores desafios da indústria, e ela passa obrigatoriamente por novos componentes e substâncias, sejam elas para atenuar as rugas de expressão ou dar mais volume aos cabelos. Quem desenvolve esses princípios ativos não são as gigantes dos cosméticos. São empresas altamente especializadas, como a virtualmente desconhecida Chemyunion. A companhia de Sorocaba, no interior paulista, se especializou em buscar na biodiversidade brasileira a fonte da juventude - ou pelo menos algo que venda essa ilusão.

 

A Chemyunion fornece componentes para cremes hidratantes, tinturas de cabelo e xampus, segmento que representa apenas 10% do total movimentado pelos cosméticos, mas no qual acontecem as maiores inovações científicas. As descobertas da equipe da empresa estão presentes em algumas das marcas mais famosas do mundo, como Estée Lauder, Victoria’s Secret, L’Oréal, Avon e Natura. Quem entra na sede da Chemyunion, porém, não poderia estar mais longe da imagem sofisticada que a indústria dos cosméticos tenta emprestar a seus produtos. A sensação é mais parecida com a de entrar numa universidade. Os laboratórios são repletos de equipamentos misteriosos e pelos corredores só se veem jovens de avental branco. "Acreditamos que é nesse ambiente que floresce a inovação", diz Marcelo Golino, presidente da empresa. A principal matéria- prima da Chemyunion é a capacidade intelectual da equipe. Hoje, 40% do time da empresa - são 100 funcionários - tem pós-graduação, mestrado ou doutorado. São eles os responsáveis por desenvolver os ativos que darão aos cosméticos seus poderes especiais. A empresa já conquistou com suas descobertas 23 patentes, registradas no Brasil e nos Estados Unidos. Todos os anos são investidos 8% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento. O número é significativo: segundo dados do último estudo da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), as empresas brasileiras vêm reduzindo gradativamente seus investimentos em pesquisa e inovação nos últimos anos.

 

Quem observa um tubo de xampu ou um pote de creme hidratante não imagina todo o trabalho de desenvolvimento dos componentes por trás do produto. A Chemyunion elaborou, por exemplo, uma fórmula para extrair um óleo do grão de café que serve como base para cremes antienvelhecimento e protetores solares. Do angico branco, árvore nativa do cerrado e da caatinga, foi criado o Aquasense, princípio hidratante que rendeu à empresa o primeiro lugar no Congresso Latino-Americano de Químicos Cosméticos. Entre o início das pesquisas e a obtenção de uma substância eficaz, porém, passam-se alguns anos. "A primeira parte do trabalho é descobrir na natureza o que pode ser utilizado para chegar a esse resultado", diz Golino. Existem basicamente dois modelos. Em um deles, um cliente como a Natura, por exemplo, apresenta à Chemyunion o efeito que deseja obter. Mas a Chemyunion também faz pesquisas por conta própria e oferece suas descobertas às grandes marcas. Pesquisas na literatura científica fazem parte do trabalho, assim como a interação com a rede de pesquisadores em universidades brasileiras, entre elas as vizinhas Unesp e Unicamp, no interior de São Paulo. Os passos seguintes envolvem testes in vitro e em humanos para a comprovação da eficácia da substância. Somente depois de comprovados os efeitos do princípio ativo é que o extrato é vendido para os clientes. "É um trabalho intensivo de desenvolvimento", afirma Golino. "Atuamos num negócio de risco. Em alguns casos chegamos ao meio do projeto e constatamos que não atingimos o resultado previsto. Com isso, voltamos à estaca zero e começamos de novo."

 

Com um mercado consumidor avaliado em 25 bilhões de reais no ano passado, o setor brasileiro de cosméticos destaca-se pelos grandes números. O país consumiu em 2009 mais de 1,5 milhão de toneladas de produtos de beleza - crescimento de mais de 25% desde 2004. Também lidera o ranking global de venda de desodorantes e é o segundo colocado em produtos para cabelos, protetores solares e perfumaria. Em volume total, os brasileiros ficam atrás somente de Estados Unidos e Japão. Por trás dos números expressivos, existe ainda uma revolução silenciosa, que se dá longe das prateleiras das farmácias e dos supermercados. A busca pela diferenciação entre os produtos é um dos maiores desafios da indústria, e ela passa obrigatoriamente por novos componentes e substâncias, sejam elas para atenuar as rugas de expressão ou dar mais volume aos cabelos. Quem desenvolve esses princípios ativos não são as gigantes dos cosméticos. São empresas altamente especializadas, como a virtualmente desconhecida Chemyunion. A companhia de Sorocaba, no interior paulista, se especializou em buscar na biodiversidade brasileira a fonte da juventude - ou pelo menos algo que venda essa ilusão.

 

A Chemyunion fornece componentes para cremes hidratantes, tinturas de cabelo e xampus, segmento que representa apenas 10% do total movimentado pelos cosméticos, mas no qual acontecem as maiores inovações científicas. As descobertas da equipe da empresa estão presentes em algumas das marcas mais famosas do mundo, como Estée Lauder, Victoria’s Secret, L’Oréal, Avon e Natura. Quem entra na sede da Chemyunion, porém, não poderia estar mais longe da imagem sofisticada que a indústria dos cosméticos tenta emprestar a seus produtos. A sensação é mais parecida com a de entrar numa universidade. Os laboratórios são repletos de equipamentos misteriosos e pelos corredores só se veem jovens de avental branco. "Acreditamos que é nesse ambiente que floresce a inovação", diz Marcelo Golino, presidente da empresa. A principal matéria- prima da Chemyunion é a capacidade intelectual da equipe. Hoje, 40% do time da empresa - são 100 funcionários - tem pós-graduação, mestrado ou doutorado. São eles os responsáveis por desenvolver os ativos que darão aos cosméticos seus poderes especiais. A empresa já conquistou com suas descobertas 23 patentes, registradas no Brasil e nos Estados Unidos. Todos os anos são investidos 8% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento. O número é significativo: segundo dados do último estudo da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), as empresas brasileiras vêm reduzindo gradativamente seus investimentos em pesquisa e inovação nos últimos anos.

 

Quem observa um tubo de xampu ou um pote de creme hidratante não imagina todo o trabalho de desenvolvimento dos componentes por trás do produto. A Chemyunion elaborou, por exemplo, uma fórmula para extrair um óleo do grão de café que serve como base para cremes antienvelhecimento e protetores solares. Do angico branco, árvore nativa do cerrado e da caatinga, foi criado o Aquasense, princípio hidratante que rendeu à empresa o primeiro lugar no Congresso Latino-Americano de Químicos Cosméticos. Entre o início das pesquisas e a obtenção de uma substância eficaz, porém, passam-se alguns anos. "A primeira parte do trabalho é descobrir na natureza o que pode ser utilizado para chegar a esse resultado", diz Golino. Existem basicamente dois modelos. Em um deles, um cliente como a Natura, por exemplo, apresenta à Chemyunion o efeito que deseja obter. Mas a Chemyunion também faz pesquisas por conta própria e oferece suas descobertas às grandes marcas. Pesquisas na literatura científica fazem parte do trabalho, assim como a interação com a rede de pesquisadores em universidades brasileiras, entre elas as vizinhas Unesp e Unicamp, no interior de São Paulo. Os passos seguintes envolvem testes in vitro e em humanos para a comprovação da eficácia da substância. Somente depois de comprovados os efeitos do princípio ativo é que o extrato é vendido para os clientes. "É um trabalho intensivo de desenvolvimento", afirma Golino. "Atuamos num negócio de risco. Em alguns casos chegamos ao meio do projeto e constatamos que não atingimos o resultado previsto. Com isso, voltamos à estaca zero e começamos de novo."

 

Uma característica que diferencia a Chemyunion de outras empresas do segmento é o cultivo próprio. Muitas companhias compram os materiais e as espécies usadas no desenvolvimento. A Chemyunion produz boa parte das plantas que vai usar em seus produtos. As espécies podem vir da fazenda da empresa no Amazonas, com 900 hectares e rica em espécies nativas, como guaraná, açaí e buriti, ou então de um viveiro localizado em Sorocaba, no interior de São Paulo, que serve de laboratório vivo para o desenvolvimento de produtos. O volume extra de material biológico necessário vem de plantações arrendadas na região. O foco nas espécies brasileiras atrai clientes nacionais e estrangeiros interessados nas benesses da flora local. Hoje a empresa exporta para 14 países, entre eles Estados Unidos, Itália, Rússia e Alemanha. Para a Natura, a Chemyunion criou um ativo à base de catuaba e outras plantas amazônicas com ação antiflacidez capaz de quebrar a gordura e reduzir o inchaço característico da celulite. "Os componentes têm papel fundamental no efeito do produto. Muitas vezes são eles os responsáveis pelas principais propriedades do cosmético", diz Daniel Gonzaga, diretor de pesquisa e tecnologia da Natura. Além da verba para P&D, a Chemyunion dedica anualmente cerca de 5 milhões de reais a tecnologia e infraestrutura (parte do dinheiro vem de convênios firmados com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp). Um dos aparelhos mais importantes recém-adquiridos é um extrator que utiliza gás carbônico no estado supercrítico (uma fase de transição entre líquido e gasoso) para obter partículas vegetais com elevados níveis de pureza. No laboratório molecular - que substitui parte dos testes em animais por análises em células retiradas de material de cirurgia plástica -, o destaque é o laser capaz de captar em tempo real a imagem de todas as camadas da pele e seu nível de hidratação. Esse é o único aparelho do gênero no Brasil.

 

A CHEMYUNION TEVE EM 2009 receitas de cerca de 40 milhões de reais. É um faturamento modesto perto das cifras bilionárias das gigantes dos cosméticos. Por trás das operações não há investidores ou fundos de risco, embora a empresa conte com aportes de instituições ligadas à pesquisa acadêmica - além do acordo com a Fapesp, a companhia também conquistou um aporte de cerca de 4 milhões de reais da Finep, órgão federal, para desenvolver projetos em nanotecnologia, uma das tendências mais importantes para o ramo dos cosméticos. O controle da Chemyunion ainda é dos fundadores, um grupo de três químicos e um administrador. Eles respondem pela operação da empresa no dia a dia, mas continuam todos fortemente ligados ao mundo acadêmico, o pulmão da companhia. No início, em 1992, a Chemyunion apenas revendia ativos produzidos principalmente na Europa. "Aos poucos percebemos que seria possível fazer pesquisas científicas e inovar também no Brasil", afirma Golino. Com o aquecimento do setor, a Chemyunion já se prepara para expandir as operações. Em maio, a companhia inaugura uma nova sede num terreno de 110 000 metros quadrados em Sorocaba, que terá laboratórios maiores e mais de 40 000 metros quadrados de reserva ecológica. Acostumada a ficar longe dos holofotes, a companhia está ganhando musculatura e aos poucos começa a ter parte das luzes sempre dedicada ao glamouroso mercado de cosméticos.

 

De mãos dadas com a pesquisa

 

Pesquisas científicas avançadas são a base para a fabricação dos produtos da brasileira Chemyunion. Conheça a empresa

 

O QUE FAZ: Pesquisa e produz em laboratório substâncias naturais com base na flora brasileira para a fabricação de cosméticos
SEDE: Sorocaba, no interior de São Paulo
FATURAMENTO EM 2009: 40 milhões de reais
NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS: 100, sendo que 40% têm mestrado ou doutorado. A empresa mantém parceria com universidades
PERFIL DE INVESTIMENTOS: 8% do faturamento é alocado para pesquisa e 10% para tecnologia e infraestrutura
PRINCIPAIS CLIENTES: Natura, O Boticário, Unilever, Johnson&Johnson, Victoria's Secret, Estée Lauder, Vita Derm e L'Oréal. Exporta para Estados Unidos, Europa, Ásia e África

 


Veículo: Revista Exame


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