Abacaxi mais doce deve ganhar espaço em SP

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Nova variedade reflete maior demanda e preocupação com qualidade do fruto, cuja produção quase dobrou na década


Vendas do havaí, mais ácido, perderam espaço para o pérola em São Paulo; produtores buscam opção mais resistente a pragas

 

A procura dos brasileiros por abacaxis cresceu nos últimos anos, assim como a exigência sobre a qualidade da fruta. Segundo especialistas, o aumento resulta, principalmente, do calor e da melhoria de renda da população e vem acompanhado da busca por frutos mais doces.

 

Atento ao mercado, o IAC (Instituto Agronômico) lançou no início deste ano uma nova variedade de abacaxi, com menor acidez e maior doçura que o havaí e o pérola, hoje dominantes no mercado. O IAC fantástico, como foi batizado, tem em média 16,4 brix -grau de aferição do teor de açúcar-, contra 13,7 e 13,6 dos concorrentes, respectivamente.

 

Há um ano e meio, a seleção do consumidor pelos tipos menos ácidos se tornou mais visível ao produtor. Nos últimos anos, o havaí, cultura tradicional paulista, perdeu espaço entre consumidores para o pérola, da Bahia, devido à acidez.

 

"As pessoas começaram a evitar porque querem a segurança de não comer o azedo", diz Gabriel Bitencourt, agrônomo do centro de qualidade em horticultura da Ceagesp.

 

Ainda assim, a cultura no Estado cresceu 71% nos últimos nove anos, de acordo com dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola).

 

Além do gosto, o novo fruto também é resistente à fusariose, doença típica do abacaxi, o que abre um mercado promissor para os produtores. Alguns, inclusive, já anteveem a substituição das plantações.

 

Em Guaraçaí, grande município produtor no oeste de São Paulo, várias mudas foram adquiridas. Shoji Korin, presidente da associação de produtores de abacaxi da cidade, diz que o novo fruto pode atingir o mercado europeu devido ao sabor e à coloração "bem amarelada".

 

Produtores


"Os produtores estão ávidos por um abacaxi de qualidade, menos ácido e resistente a doenças", diz Ademar Spironello, pesquisador que participou do desenvolvimento do IAC fantástico. Para ele, o apelo do novo fruto é maior para o produtor que para o consumidor.

 

Na região de Rio Claro, o produtor João Guedes planeja substituir toda a sua plantação. "Estou muito entusiasmado. Creio que será uma tendência. Sempre vai ter mercado para todo fruto, mas acho que o fantástico vai sair na frente", diz.

 

Hoje, em São Paulo, os produtores recebem em média R$ 0,70 por unidade vendida, que chega ao consumidor por R$ 1,42, em média, conforme dados da Ceagesp. Com o novo tipo, porém, espera-se que o valor unitário aumente e que a fruta chegue ao consumidor custando de R$ 3 a R$ 5.

 

Outros Estados também já se mostram dispostos a experimentar o IAC fantástico. Na Bahia, um dos principais Estados produtores do abacaxi pérola, adaptado a climas mais secos, há grandes expectativas.

 

"Sendo adaptável ao nosso clima, com certeza vamos cultivar", disse Tatiana Piedade, gerente comercial da Cooperativa dos Produtores de Abacaxi de Itaberaba.

 

A área plantada e a quantidade de frutos duplicou desde 2007 em Itaberaba, passando para 5.000 hectares e 60 milhões de unidades ao ano de acordo com a cooperativa.

 

"Quem já estava na cultura aqui hoje está aumentando [a produção]. Outros produtores estão se integrando ao cultivo e a tendência é aumentar ainda mais", disse.

 

Variedade anterior, em gomos, frustra produtores

 

Na contramão das promessas acerca do IAC fantástico, outra variedade de abacaxi lançada pelo IAC (Instituto Agronômico) nos anos 1990 -o IAC gomos de mel- pode estar com os dias contados nas plantações brasileiras.

 

O gomos de mel ganhou destaque em 2005 e se tornou, então, a nova aposta dos produtores de abacaxi. Seu diferencial era o consumo em gomos, que acabava com a necessidade de descascar a fruta.

 

Outra característica marcante era o alto índice brix -aferição de teor de açúcar-, que chegava a 26, contra 13, em média, das outras variedades.

 

O que pareceu extremamente atrativo ao consumidor, contudo, se tornou problemático para os produtores. A alta suscetibilidade do novo tipo à frutariose -doença típica do abacaxi- e o tamanho reduzido dos frutos tornou a produção pouco ou nada rentável em função das perdas.

 

José Guedes, produtor da região de Rio Claro que hoje investe no IAC fantástico, vai "erradicar totalmente" a plantação do gomos de mel. "É uma cultura que não valeu a pena. De que adianta usar fungicida e não resolver?", questiona.

 

Além da doença, outro aspecto negativo apontado por produtores é o excesso de espinhos, o que dificulta o consumo e a colheita, que passou a exigir roupas especiais para proteger os trabalhadores.

 

"Machuca muito e o consumidor não gosta", diz Shoji Korin, presidente da associação de produtores de abacaxi de Guaraçaí, grande município produtor no oeste de São Paulo.

 

Além dos problemas de produção, Korin diz não ser possível comer o gomos de mel com facilidade. "Não é igual à fruta de pinho, também tem que descascar", afirma, contrariando a principal publicidade da fruta.

 

No entanto, segundo Ademar Spironello, técnico do IAC que participou do desenvolvimento do IAC fantástico e do IAC gomos de mel, a produção do gomos não irá se extinguir.

 

"Pode ser uma fruta de renda muito boa e alguns produtores estão desenvolvendo bem o produto", afirma.

 

Ele ressalva, porém, que a variedade deverá manter como característica a produção em pequenas quantidades. O motivo é o custo maior pelo alto percentual de frutos pequenos e pela necessidade de mais investimento em fungicidas.

 

Spironello garante que ainda existe procura por mudas do IAC gomos de mel e que, hoje, a variedade já é produzida fora de São Paulo, mas não soube apontar em quais localidades. "Não deixa de ser um nicho, principalmente para grandes redes de supermercados. É um fruto de qualidade extraordinária", diz. (FM)

 

Pesquisador cria versão ornamental sem espinhos

 

Em vez da salada de fruta, um belo arranjo floral.

 

Uma variedade de abacaxi originária da Amazônia, muito menor que a fruta original, está sendo estudada por um pesquisador do Espírito Santo para ser utilizada como planta ornamental.

 

O abacaxizinho cabe na palma da mão, é avermelhado, não tem espinhos nas folhas e possui um leve aroma frutado.

 

Até o final do mês, o pesquisador José Aires Ventura, do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), que desenvolve comercialmente a variedade, deve registrá-la no Ministério da Agricultura -primeiro passo para iniciar a produção de mudas e o cultivo comercial.

 

A expectativa do pesquisador é começar a produção a partir do próximo ano e comercializá-la em floriculturas.

 

A tendência, segundo ele, é fazer a distribuição de mudas para cooperativas de agricultores ou associações de produtores por intermédio da Secretaria da Agricultura do Estado.

 

De acordo com Ventura, o abacaxizinho, ainda sem nome comercial, pode ser produzido durante todo o ano, cresce rápido e dispensa o uso de agrotóxicos, pois é resistente a doenças.

 

"O fruto não é comestível, pois a polpa é muito fibrosa, mas ele se presta muito bem para fins ornamentais. É muito bonito", afirma o pesquisador do Incaper.

 

Após cortado, o fruto dura até 40 dias em arranjos.

 

O abacaxizinho, da variedade erectifolius, começou a ser estudado dentro de um projeto de pesquisa iniciado há nove anos por Ventura, que busca identificar uma variedade da fruta que seja resistente à fusariose, doença que ataca o abacaxi.

 

Veículo: Folha de São Paulo


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