Tecelagem de índigo tenta subir preços no Brasil

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O preço do algodão acumula alta de 74,17% nos últimos doze meses na bolsa de Nova York, que baliza as cotações dos produtores no Brasil. Mas não é o brasileiro, o terceiro maior consumidor de jeans do mundo, que está levando a cotação da principal matéria-prima do índigo às alturas novamente (ver gráfico ao lado). A alavanca da demanda está sendo levantada, mais uma vez, pela China, responsável por 50% do consumo de produtos têxteis no mundo.

 

"Ninguém imaginou que a China fosse começar o ano tão aquecida e muitos fornecedores na própria China e em outros países da Ásia não estavam preparados", diz Fernando Roland, diretor de marketing e vendas no Brasil da Hyosung, a coreana que vai começar a produzir fio elastano em Santa Catarina ainda neste ano.

 

A voracidade chinesa é combinada a uma safra menor de algodão no Brasil e em outros grandes produtores como os Estados Unidos. A colheita mundial de algodão da safra que se encerra em julho será 4,8% menor do que a anterior, informou nesta semana o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

 

Mas se na China a demanda está muito aquecida desde o fim de 2009, no Brasil a situação é diferente. As vendas de jeans encolheram 7% no ano passado no mercado brasileiro, segundo a Associação Brasileira de Vestuário (Abravest). Por isso as confecções resistem em pagar os preços propostos pelas tecelagens.

 

"O mercado começou o ano desabastecido de algodão e isso começou há dois, três anos, quando o preço do algodão estava baixo e a área de plantio começou a encolher", diz o gerente de negócios da Santana Textiles, Antônio Sampaio. No início do ano, a Santana tentou vender o denim às confecções a um preço de 6% a 9% maior. "Mas o mercado não absorveu".

 

Maior fabricante de índigo do país, a Vicunha Têxtil ainda carrega estoques altos, mas prevê reajustes para os próximos meses, disse o diretor-superintendente Marcel Imaizumi.

 

Na Santana, o preço médio do denim está entre R$ 6,70 e R$ 7,50 o metro linear. "Embute algum reajuste já, mas ainda precisamos recuperar o preço", diz Sampaio. Em um ano, desde o último trimestre de 2008 até o fim de 2009, calcula, o preço do algodão subiu 40% no Brasil. Subiu de R$ 1,10 a libra/peso, em Mato Grosso (sem ICMS), para R$ 1,54.

 

A Santana compra cerca de 30% do algodão que precisa no Paraguai. "Não pago imposto de importação pois o Paraguai é membro do Mercosul e o algodão é de boa qualidade". Chega na fábrica da Santana a R$ 1,56 a libra/peso - quase o mesmo preço do algodão comprado no Mato Grosso.

 

A demanda na ponta do consumo continua não muito aquecida no Brasil, mas a expectativa é que as vendas da coleção de inverno, que duram em geral até julho, cresçam. Na Ellus, tradicional marca de jeans, a meta é vender 15% mais em relação ao inverno de 2009. Na Zoomp, que possui 10 lojas próprias, as vendas a 700 multimarcas feitas em fevereiro cresceram 20% em relação ao início de 2009, diz Claudio Fernandes, diretor financeiro e comercial. Mas mesmo com vendas melhores, diz, não há como absorver custos maiores. Se o jeans ficar mair caro, a Zoomp poderá reduzir prazos de pagamento ao consumidor.

 

O brasileiro, o terceiro maior comprador de jeans do mundo, poderá continuar passeando pelos shoppings, mas se decidir comprar um jeans de verão - mais leves e em tons claros de azuis e verdes, segundo os estudos da Ellus - provavelmente terá que gastar um pouco mais.

 

Veículo: Valor Econômico


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