Preço do algodão sobe, mas venda menor de jeans dificulta repasses

Leia em 3min

O consumidor que passeia pelos shopping centers, avaliando se compra ou não uma calça jeans para enfrentar o frio prometido para o inverno, não faz ideia da pesada negociação que está sendo travada para definir os preços dos próximos lançamentos. O aumento do preço do algodão, que superou os 40% em 2009 no mercado nacional, já chegou ao fio, que já subiu cerca de 8% desde o fim do ano, e já pressiona o denim, o tecido usado na fabricação do jeans.

 

"Para a primeira grande compra de índigo da coleção de verão, devo fechar o preço no início de maio. Nas primeiras conversas, estou ouvindo um aumento de preço em torno de 5%. Mas estamos numa queda de braço, na luta para não aumentar", diz Adriana Bozon, diretora de criação e de produto da Ellus, que confecciona e vende jeans na sua rede de 64 lojas e em mais 800 multimarcas.

 

A preocupação não é à toa. Em 2009, quando o PIB encolheu 0,2%, as vendas de jeans - produto que representa pouco mais de 40% do portfólio da Ellus - ficaram estáveis no primeiro semestre e caíram no segundo, em relação a iguais períodos do ano anterior.

 

A demora do consumidor em colocar a mão no bolso fez a Ellus trocar até de lavanderia - empresa responsável por tratar o denim, alterando cor e textura. Nessa troca, diz Adriana, o preço final do jeans mais caro da Ellus que já está nas vitrines caiu de R$ 400 para R$ 389. O básico é vendido por R$ 179.

 

A retração nas vendas de jeans na segunda metade do ano não foi sentida apenas pela Ellus. Roberto Chadad, presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), que reúne 2,5 mil empresas, informa que seus 500 associados do segmento de jeans faturaram 7% menos em 2009.

 

A Zion, que possui sete lojas e terceiriza toda a produção, registrou queda de 8% no período. Asunción Martínez-Conde, a proprietária, diz que os preços da coleção de inverno "estão relativamente parecidos com os do ano de 2009". Mas ela já prevê preços maiores para os jeans de verão, que devem ir para lojas no segundo semestre. "Essa alta no algodão será repassada para os fornecedores de índigo, que afetará a nós e, consequentemente, nossas consumidoras", observou Asunción.

 

A Vicunha Têxtil, maior fabricante de índigo do país, carrega estoques altos. "Mas, fatalmente, daqui um tempo, teremos que repassar o aumento do preço do algodão", diz o diretor-superintendente Marcel Imaizumi. Diz que ainda está vendendo índigo para confeccionar jeans de inverno, que vão aparecer no varejo nos meses de maio, junho e julho - o ciclo de produção é curto.

 

Para essas vendas os preços seguem, em geral, os patamares negociados em janeiro e fevereiro, entre R$ 7,00 e R$ 7,50 o metro linear, ou em torno de R$ 12,50 o quilo. Esses valores, diz Imaizumi, "são praticamente os mesmos há um ano. Não houve repasse nem da inflação".

 

Mas nos próximos meses esse cenário deve mudar. O fio de algodão já subiu cerca de 8%, de R$ 9,20 para R$ 10,00 o quilo, nos dois primeiros meses deste ano, diz Ivan Bezerra Filho, do comitê de algodão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Neste mês de abril, contou, os fabricantes de fio estão tentando reajustar o preço em mais 3%. "Mas está difícil, o mercado não absorve essa diferença", diz Bezerra Filho.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Tecelagem de índigo tenta subir preços no Brasil

O preço do algodão acumula alta de 74,17% nos últimos doze meses na bolsa de Nova York, que baliza ...

Veja mais
Veterano do Walmart

O ex-presidente da J.C. Penney Allen Questrom anunciou ontem que não vai mais continuar no conselho da rede de va...

Veja mais
Carrefour em Portugal

A rede de supermercados francesa Carrefour planeja vender suas 524 lojas Minipreço de Portugal, segundo publicou ...

Veja mais
Fabricantes de brinquedos querem criar gigante do setor

Para enfrentar a concorrência do mercado, as fabricantes brasileiras de brinquedos querem se juntar e formar uma g...

Veja mais
RECEITA

Um dos grandes alvos do movimento de consolidação por que tem passado o varejo brasileiro, as redes de far...

Veja mais
Copa será oportunidade para orgânicos

Evento no Brasil, em 2014, deve servir para consolidar o consumo de alimentos livres de agroquímicos   A C...

Veja mais
Cesta básica já custa R$ 350 nas cidades da região

O consumidor do Grande ABC está gastando, em média, R$ 350 para encher o carrinho do supermercado com os i...

Veja mais
Economista diz que preço do leite deve seguir em elevação

Com custo médio de R$ 1,92, mas chegando a custar R$ 2,29, o leite é o grande vilão do bolso do con...

Veja mais
Moinhos 'garimpam' trigo com qualidade dentro e fora do país

Os moinhos processadores de trigo estão tendo de garimpar matéria-prima para encontrar qualidade. Chuvas f...

Veja mais