Moinhos 'garimpam' trigo com qualidade dentro e fora do país

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Os moinhos processadores de trigo estão tendo de garimpar matéria-prima para encontrar qualidade. Chuvas fora de época na América do Sul afetaram a colheita do cereal brasileiro e também a qualidade do produto da Argentina e do Uruguai, fornecedores de trigo para o Brasil. O resultado disso foi a devolução de mercadoria e a renegociação de contratos quando cargas fora de padrão chegaram ao país no primeiro trimestre.

 

Diante desse quadro, indústrias se preparam para, nos próximos meses, buscar volume maior de trigo fora do Mercosul para garantir o abastecimento. Isso significará custo maior por conta da Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% que incide sobre a importação de países extra-Mercosul e de outros impostos.

 

Christian Saigh, diretor-superintendente do Moinho Santa Clara, diz que em torno de 10% das cargas compradas no primeiro trimestre deste ano tiveram de ser devolvidas por estarem fora do padrão acordado. "Estamos tendo muito trabalho no departamento de classificação. Há muito tempo não víamos tanto trigo ruim", diz.

 

E a dificuldade não vem somente do cereal nacional. O moinho, localizado em São Caetano do Sul (SP), detectou problemas de qualidade nos trigos argentino e uruguaio. "Nestes casos, não está havendo devolução de carga, mas renegociação do valor acordado", explica. A situação parece generalizada, afirma João Carlos Veríssimo, presidente do Moinho Paulista, localizado em Santos (SP). "Toda a carga recebida está com qualidade baixa e elevado nível de sujeira", diz, referindo-se basicamente ao trigo dos países vizinhos, de onde vem a maior parte da matéria-prima adquirida pela empresa.

 

No processo industrial, os atributos do produto final (farinha de trigo) estão sendo recuperados, segundo ele. No entanto, o elevado volume de resíduos no trigo afeta o rendimento e o faturamento da empresa. "Quanto mais sujeira, menos produto final. A condição atual traz impacto de 10% no nosso resultado final", calcula o empresário.

 

Apesar disso, Veríssimo diz que as renegociações de contrato estão sendo feitas muito "caso a caso". "Depende muito do relacionamento que temos com o exportador. Temos que considerar ainda que essa qualidade baixa é condição geral do mercado, não ocorre isoladamente em um ou outro fornecedor", diz.

 

A empresa continuará trazendo o produto da Argentina até quando ainda houver oferta no país vizinho, antes de buscar em outras localidades. Apesar de estar a uma distância maior do Brasil, o Canadá deve ser o alvo dos moinhos brasileiros no segundo semestre, uma vez que o trigo dos EUA pode ser objeto de retaliação do Brasil, resultado do contencioso do algodão na Organização Mundial do Comércio (OMC).

 

Em comparação com a Argentina, o valor do frete marítimo do Canadá para o Brasil é 30% maior. Além disso, há a TEC de 10% e o Adicional de Frete da Marinha Mercante, que incide em 25% sobre o frete.

 

Alguma compensação pode vir da queda do preço do trigo que neste ano recuou perto de 14% na bolsa de Chicago. "Mas o que ocorre é que, na medida em que nossos compradores de farinha observam que a matéria-prima está mais barata, há uma pressão para baixarmos o preço do produto final", diz Veríssimo.

 

Para Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, o maior do país, a desvalorização no preço do trigo alivia a situação. A empresa também está com dificuldade de encontrar matéria-prima de boa qualidade. Apenas uma das três principais regiões produtoras de trigo na Argentina oferta o cereal de boa qualidade. "Avaliamos amostras do Uruguai e do Paraguai e não foi possível fechar negócio", conta Pih.

 

No fim do ano passado, a empresa comprou uma grande remessa de trigo melhorador - que como o próprio nome diz é usado em misturas para elevar a qualidade de cereais inferiores - da região de Bahia Blanca, na Argentina, a menos atingida pelas chuvas na colheita. "Temos esse volume estocado que nos dará fôlego para trabalhar até setembro", diz.

 

Normalmente, o Brasil já é grande importador de trigo, uma vez que a produção nacional (entre 5 milhões e 6 milhões de toneladas) não supre o consumo interno (entre 9 milhões e 10 milhões de toneladas). Mas, com as chuvas na colheita no Brasil, em torno de 1,5 milhão de toneladas do cereal (30% da safra atual) tiveram comercialização subsidiada por Prêmio para Escoamento de Produto (PEP), do Governo Federal, com destino à exportação ou a outros fins que não a alimentação humana.

 

Veículo: Valor Econômico


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