EMS é o primeiro laboratório a obter a licença da Anvisa para produzir o genérico da pílula azul e quer vendê-lo já no dia seguinte à expiração da patente
Pode-se dizer que a palavra Viagra tem vários significados. Tudo, é claro, depende do ponto de vista. No dicionário Oxford, ela consta como “substantivo – marca – um composto sintético utilizado para melhorar a potência masculina.” Para o laboratório americano Pfizer, que desenvolveu o medicamento em 1998, representa bilhões de dólares. E, desde o fim de abril, quando sua patente foi quebrada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), um ano antes do previsto, seu nome pode ser traduzido em uma única palavra: oportunidade.
Pelo menos para laboratórios de medicamentos genéricos. O primeiro a agarrá-la é o EMS. “Já recebemos a aprovação da Anvisa”, comemora Waldir Eschberger Júnior, o vice-presidente da empresa, de olho em um mercado estimado em R$ 500 milhões. “Estamos trabalhando para, se possível, chegar às farmácias já no dia 21 de junho. Quem chega primeiro, sai ganhando”, disse o executivo à DINHEIRO. A data é estratégica, já que é exatamente o dia seguinte ao do vencimento da patente.
Dona das marcas Energil C e Gerovital, a EMS é hoje uma das maiores empresas do segmento de genéricos, com faturamento anual de R$ 2,4 bilhões, dentro de um mercado que, no ano passado, registrou vendas de R$ 4,5 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos). A empresa não revela ainda o valor pelo qual o seu genérico do Viagra, que já está sendo produzido, será vendido, mas dá para ter uma ideia.
Por lei, o medicamento genérico deve ser 35% mais barato do que o produto de referência. “Certamente, ofereceremos um desconto maior do que o mínimo, mas a porcentagem de redução ainda não está definida”, contou Eschberger. No caso do Viagra original, uma caixa com duas pílulas de 50 mg cada uma custa cerca de R$ 60 – ou seja, R$ 30 por comprimido. O genérico reduziria esse preço a, no mínimo, R$ 19,50 cada pílula, o que o tornaria mais acessível a classes mais baixas da população. “O medicamento original perde em valor de mercado, mas ganha em volume de venda”, avalia Marcello Albuquerque, diretor de negócios da consultoria farmacêutica IMS Health.
Eschberger, da EMS : "Estamos trabalhando para, se possível, chegar às farmácias já no dia 21 de junho"
Outros laboratórios também estão no páreo. O Teuto é um deles. “Estamos trabalhando no desenvolvimento do produto e aguardando a autorização da Anvisa”, afirmou Marcelo Henriques Leite, presidente-executivo. “Outras duas que não devem ficar de fora são a Hypermarcas e a Medley, a maior fabricantes de genéricos”, diz Bruno Savio Nogueira, analista do setor farmacêutico da Lafis Consultoria.
Já a Eurofarma confirma negociar acordo de fornecimento e distribuição com a própria Pfizer, garantindo assim seu acesso à matéria-prima — que é importada. Os detalhes do acordo ainda serão discutidos. Outra opção para a Pfizer seria se aventurar em um mercado que não atua e lançar ela mesma um genérico do Viagra. “A Pfizer analisa diversas oportunidades de negócios no País, que incluem diferentes iniciativas em estudo, envolvendo diferentes medicamentos, entre eles o Viagra”, afirmou Adilson Montaneira, diretor da unidade de negócios primary care da empresa no Brasil.
Os efeitos da pílula azul
Além de revolucionar a história da indústria farmacêutica, o Viagra gerou mudanças sociais. Segundo dados do Registro Civil divulgados pelo IBGE, o volume de casamentos envolvendo homens acima de 50 anos cresceu 76% entre 2003 e 2008, bem acima da média do País que subiu 28,6%.Detalhe: a maior parte desses casamentos ocorre com mulheres mais novas. Em 2008, apenas 13,7% dos homens entre 60 a 64 anos se casaram com alguém da mesma faixa etária ou da superior. Mas o mais grave é o aumento do número de idosos infectados pelo vírus HIV.
Levantamento da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo aponta que a proporção de homens acima de 50 anos que foram infectados pelo HIV chegou a 23 a cada 100 mil habitantes em 2007, caindo para 18 no ano seguinte. No início da epidemia, em 1983, esse índice era de apenas 4. “O envelhecimento da população e o surgimento de medicações que permitem uma vida sexual ativa contribuem para ampliar a proporção de pessoas idosas que contraem o HIV, a maioria em razão do sexo sem proteção”, diz a coordenadora do Programa de DST/Aids, Maria Clara Gianna.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro