Setor movimenta R$ 1,1 bilhão por ano, mas muita matéria-prima vai parar no lixo
Para chamar a atenção sobre a degradação ambiental da cidade de São Paulo, há dois anos, o artista plástico Eduardo Srur instalou 20 garrafas infláveis gigantes, tipo PET, às margens do Rio Tietê. Iluminadas, eram um símbolo do lixo que se acumula no meio urbano. Não deveria ser assim, garante um grupo de empreendedores que há anos se dedica a fornecer resina reciclada à indústria. Representa 462 empresas comatividades ligadas a esse material, que geram um faturamento da ordem de R$ 1,1 bilhão por ano.
“A demanda pelas embalagens de PET reciclado é muito maior do que a oferta”, afirma Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria
de PET (Abipet). “Muitos projetos de ampliação de capacidade continuam suspensos e novos desenvolvimentos para aplicação do PET reciclado não evoluempela falta dematerial.”
PET mais caro no Brasil
Marçon explica que o país vive um paradoxo. Sem um sistema eficiente e amplo de coleta seletiva nas mãos do setor público, as embalagens acabam no meio
ambiente. Na outra ponta, falta matéria-prima preciosa. É uma realidade vivenciada, por exemplo, pela Unnafibras Têxtil, uma das maiores fornecedoras de fibras de poliéster a partir de garrafas de PET recicladas do país, que exporta para o Mercosul e Comunidade Europeia.
Seu presidente, José Trevisan, conta que a empresa fabrica 2,7 mil toneladas de resina por mês, mas poderia aumentar para 3,5 mil toneladas se tivesse material. A Unnafibras possui duas unidades de reciclagem que trabalham aquém de sua capacidade. “Nós temos de gerar demanda, ir às cidades, avisar que estamos comprando, encontrar pessoas com espírito empreendedor para fazer a coleta”, diz Trevisan.
Para Marçon, da Abipet, a indústria da reciclagem de PET apresenta uma ociosidade de 20%, o que torna o setor capaz de absorver rapidamente qualquer aumento de volume sem precisar de muito investimento.
Ele explica ainda que o país desenvolveu uma enorme gama de aplicações do produto. “Recebo pedidos de todo o país de interessados em abrir empresas com atividades ligadas à reciclagem”, informa. “E todas as vezes tenho de explicar que o negócio pode não prosperar se não houver umsistema eficiente de coleta nas proximidades.”
A Abipet informa que em 2009 foram vendidas 522 mil toneladas de resina PET, um crescimento de 7,4% em relação a 2008. Segundo Marçon, as deficiências de coleta na maioria dos municípios brasileiros são responsáveis por outro paradoxo: o preço médio do quilo do PET usado no Brasil é umdos mais altos do mundo: R$ 1,20, quando nos Estados Unidos é em torno de R$ 0,80.
Até uniforme da Seleção
Mesmo assim, o uso desse material resulta em um preço 30% inferior para o consumidor dos artefatos produzidos com plástico reciclado em relação àqueles fabricados com resina virgem. A boa notícia é que o Brasil é um dos países que mais utilizamPET reciclado.
Esse tipo de poliéster serve de matéria-prima para fibras têxteis, tapetes, carpetes, embalagens, filmes, fitas, cordas,mantas de proteção para construção civil, pranchas de surfe, painéis de veículos, cerdas de vassoura e maisuma infinidade de coisas.
Até o uniforme da Seleção Brasileira é feito de garrafas PET recicladas. A fabricação consome 30% menos energia que um poliéster comum. De fato, só há um fim para o qual o PET não é adequado — o lixão. Uma garrafa demora centenas de anos para se desfazer na natureza.
Veículo: Brasil Econômico