Crise europeia impacta na venda de orgânico

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A crise na Europa já impacta as exportações de orgânicos brasileiro. Segundo Ming Liu, coordenador do projeto Organics Brasil, a Europa começou a proteger o mercado doméstico, criando barreiras relacionadas a certificações para outros países. "O ambiente externo não está favorável à exportação. A sobrevalorização do real é outro fator negativo nesse cenário", afirma.

 

De acordo com Liu, o consumidor passou a optar por produtos mais baratos, onde lá fora as grandes redes de supermercados entram para o segmento, disponibilizando orgânicos de marca própria. "Como também ocorre no País. O Pão de Açúcar, por exemplo, criou a marca Taeq", afirma o executivo.

 

Em 2009, as exportações das 74 empresas de orgânicos que integram o programa Organics Brasil somaram US$ 58 milhões.

 

Para o coordenador, se no fim de 2010 esse montante se repetir, também com as participações em feiras internacionais, o setor no Brasil já terá motivo para comemorar. Em 2009, a Organics participou de sete feiras no exterior, inclusive na maior delas, a Biofach Nuremberg, na Alemanha. Só nesta, os negócios gerados renderam US$ 34 milhões. Eventos nos Estados Unidos, Japão, Canadá e Inglaterra também foram incluídos no roteiro do orgânico brasileiro.

 

Por outro lado, segundo Liu, as matérias-primas orgânicas embarcadas para formulação de cosméticos, mesmo com a crise, devem continuar em expansão.

 

O Brasil é o maior extrativista mundial de ingredientes também utilizados na cosmetologia como óleo de andiroba, buriti, açaí e castanhas. "Temos seis milhões de hectares nos biomas Amazônico e do Cerrado."

 

De acordo com Liu, o último levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), realizado em 2003, mostra uma área de 872 mil hectares de orgânicos no País. "Dados de certificadoras para o mercado externo apontam hoje 7,1 milhões de hectares", diz.

 

De acordo com Censo Agropecuário, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), são 90,5 mil estabelecimentos rurais de agricultura orgânica.

 

O mercado anual de produtos orgânicos do Brasil, de acordo com MDA, é de cerca de R$ 700 milhões, sendo 40% comercializados no País e 60% para exportação, com crescimento aproximado de 25% ao ano. Estima-se que 85% dos produtores orgânicos brasileiros sejam familiares.

 

No entanto, a incerteza estatística quanto a hectares, produtores, cultivares e consumo interno de orgânicos está com os dias contados. Já que 2011 será o ano do marco orgânico para o Brasil, quando a cadeia contará com o cadastro oficial finalizado.

 

Em 2011, o País terá ainda a certificação do orgânico brasileiro uniformizada com selo nacional. O documento será creditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).

 

De acordo com o MDA, os agricultores familiares e empreendedores da agricultura familiar têm até dezembro para se adequarem ao novo sistema de garantia dos produtos orgânicos.

 

A medida faz parte do Decreto nº 6.323/07 que instituiu o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. O sistema, sob responsabilidade do Mapa, tem a função de regular, controlar, definir regulamentos e registros necessários relacionados aos produtos orgânicos.

 

Também no fim deste ano, além dos 7,1 milhões de hectares certificados para exportação, os números do mercado interno também serão somados. "O levantamento é essencial para elaboração de estratégias para o setor", pondera.

 

Segundo Liu, a rede Pão de Açúcar foi a única no País a divulgar o avanço de 40%, em 2009, nas vendas de produtos orgânicos. "No geral, em produção e varejo o Brasil deve crescer anualmente de 15% a 20%", estima.

 

No varejo, os preços dos produtos orgânicos são de 20% a 30% mais caros que os convencionais.

 

Dados da Organics Brasil mostram o Paraná na liderança do ranking dos estados que mais produzem orgânicos, com agricultura familiar. Seguido do Amazonas, onde o açaí é o carro-chefe. A castanha e o mel do Ceará estão na terceira colocação, e o açúcar orgânico da Native, em São Paulo, em quarto lugar. "A Native é a maior exportadora mundial de açúcar orgânico", observa.

 

Atualmente o Brasil embarca orgânicos, principalmente matéria-prima para 78 países, dentre eles, Alemanha, França, Reino Unido e Canadá. "No Brasil são pelo menos duas mil empresas que trabalham com orgânico."

 

Ainda segundo Liu, o Rio Grande do Sul, Pará, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Amapá e a Paraíba também são ativos na agricultura.

 

O coordenador adiantou que já existem empresas no Brasil interessadas em investir no setor de pet food, que ainda não conta com produtos orgânicos. "Nos Estados Unidos já existe. Aqui também deve surgir", afirma.

 

Outra novidade no Brasil é a adesão de empresas na área de sustentabilidade, como o Santander e a Natura que oferecem em seus refeitórios alimentos orgânicos no cardápio. "Para incentivar a agricultura local, alguns municípios também inseriram orgânico na merenda escolar", acrescenta.

 

Gargalo

 

Segundo Ming Liu, daqui para frente a maior dificuldade para agricultura orgânica será o acesso à semente crioula ou nativa, sem modificações genéticas.

 

Para o coordenador, o governo federal deveria criar programas de incentivo ao produtor para que parte de sua produção seja direcionada a sementes. "A Embrapa já realiza trabalhos neste sentido", diz.

 

A crise na Europa já impacta as exportações de orgânicos brasileiros. Segundo Ming Liu, coordenador do projeto Organics Brasil, a Europa começou a proteger o mercado doméstico, criando barreiras relacionadas a certificações. "O ambiente externo não está favorável. A sobrevalorização do real é outro fator negativo nesse cenário", afirma. Segundo Liu, o consumidor passou a optar por produtos mais baratos lá fora, onde as redes de supermercados entram para o segmento, disponibilizando orgânicos de marca própria.

 

Veículo: DCI


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