Apenas 5% dos brasileiros não conhecem nenhuma marca própria à venda no varejo. Cerca de 87% já compraram, em algum momento, pelo menos um alimento com o nome de rede varejista estampado na embalagem. E nove entre cada dez consumidores aceita levar novamente a mercadoria para casa, após a boa experiência com a primeira compra. Os dados devem ser apresentados hoje, na abertura do 1º Congresso Nacional de Marcas Próprias, em São Paulo, que deve reunir a linha de frente das maiores redes de varejo do Brasil.
Comemorações à parte, o estudo realizado pela consultoria Gouvêa de Souza (GS&MD) servirá para os analistas puxarem a orelha do varejo. A questão é que os altos níveis de aceitação dessas linhas no mercado consumidor não tem se refletido numa parcela maior das vendas dentro do faturamento total do setor de autosserviço no país. "O varejo no Brasil ainda não dá a devida atenção ao segmento de marcas próprias. O potencial é gigantesco, mas ainda falta uma visão mais planejada e estratégica desses investimentos a longo prazo", afirma Fábio Beltrão, sócio-diretor da GS&MD.
Dados da consultoria Nielsen mostram que, no ano passado, os produtos marca própria responderam por 5,6% do volume de produtos comercializados pelas lojas, uma taxa próxima ou abaixo da verificada nos últimos anos. O índice chegou a bater em 5,9% em 2006, 6,8% no ano seguinte e 5,5% em 2008. A quantidade de itens comercializados tem crescido - aumentou 22,7% em 2009 - mas os dados mostram que isso não se traduz, necessariamente, em demanda maior dentro do bolo total.
Em relação à receita bruta obtida com os produtos, foi verificada uma alta de 7% no ano passado (valor nominal). Essa velocidade de crescimento está abaixo daquela apurada no setor varejista. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o setor de autosserviço se expandiu 10,65% no Brasil em 2009, em valores nominais.
Na avaliação de Marco Quintela, consultor da área há 16 anos, nos últimos dez anos tem havido um maior esforço das redes varejistas no sentido de criar projetos de produtos mais consistentes, dentro de estudos de mercado mais profundos e detalhados. "Isso é perceptível nas redes mais profissionalizadas, como Pão de Açúcar e Carrefour. Se analisarmos todo o mercado brasileiro, as ações ainda são feitas sem um começo, meio e fim", diz ele. "As empresas criam um ou outro produto, desenham uma embalagem bonita e colocam na gôndola", afirma ele. "Ainda temos poucas varejistas num segundo estágio nesse segmento, caminhando para um maior nível de diferenciação e de segmentação de seu produto marca própria", completa.
Dados da pesquisa da Gouvea & Souza mostra que 68% dos brasileiros ainda escolhem a marca própria pelo preço baixo. Outros 46% (as respostas foram múltiplas) são motivados a comprar o produto porque experimentaram antes. "Existe um esforço para ampliar a experimentação no ponto de venda. Mas isso precisa ser feito com cuidado. A marca própria ainda consegue crescer no Brasil porque o preço é competitivo. Se gastarmos em promoção, o custo sobe e ela pode perder esse diferencial", afirma Isadora Sbrissa, gerente de marcas da linha Taeq, do grupo Pão de Açúcar.
Veículo: Valor Econômico