Gaúchos da serra plantam uva de mesa

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No Vale dos Vinhedos começam a surgir 'dissidentes', que preferem cultivar variedades não-viníferas
 


No Vale dos Vinhedos, região certificada e reconhecida como produtora de vinhos finos, começa a surgir uma "dissidência" entre os produtores de uva. A uva para vinho continua a representar a maior parcela dos plantios, afinal, a produção vinífera ali, trazida pelos imigrantes europeus, remonta a décadas.

 

Mas alguns produtores, embora não tenham deixado de lado a fruta, trocaram as variedades e a forma de cultivo, optando pela uva de mesa, vendida in natura e, em alguns casos, colhida no próprio pé, pelo consumidor. Já são 800 hectares cultivados sob plásticos, técnica que garante mais qualidade final e redução na aplicação de agrotóxicos. Há sete anos, segundo a Embrapa Uva e Vinho, eram apenas 50 hectares.

 

As variedades de mesa introduzidas na região são a itália, niagaras branca e rosada e rubi, que "roubam" o espaço da isabel e da bordeaux.

 

Os municípios de Caxias, Farroupilha, Flores da Cunha e Bento Gonçalves abrigam propriedades de no máximo meio hectare (5 mil metros quadrados) com as uvas de mesa, conforme o pesquisador Marcos Botton, da Embrapa Uva e Vinho.

 

Diversificação. As principais razões para a expansão das variedades de mesa na Serra Gaúcha, conforme especialistas e produtores, são a necessidade de diversificação das propriedades e, principalmente, a demanda aquecida e o alto valor agregado dessas frutas. "O baixo valor pago pelo quilo da uva pelas vinícolas nas últimas safras tem obrigado os produtores a procurar uma alternativa de renda. E a remuneração da uva de mesa é muito maior", afirma o também pesquisador da Embrapa Henrique Pessoa dos Santos.

 

Conforme Santos, ao passo que o preço médio pago por quilo de uva comum fica próximo dos R$ 0,50, o quilo da uva de mesa chega a ser vendido por até R$ 5. "Muitos produtores vendem diretamente para o consumidor final, que vêm até o sítio para colher a uva. É um programa turístico", explica Santos. "De olho nessa possibilidade, muitos produtores aderem à uva de mesa", adiciona Botton.

 

Foi justamente por isso que o vinicultor Ismael Boff, do município de Caxias do Sul (RS), decidiu, quatro anos atrás, apostar no cultivo das uvas de mesa. Ele conta que, por 50 anos, sua família trabalhou somente com variedades de uvas próprias para a produção de vinho e suco. "Há alguns anos, porém, o preço dessas uvas têm sido muito baixos", diz Boff. "Passamos então a procurar uma alternativa mais lucrativa e, motivado pelo preço atrativo, decidi testar o plantio das uvas itália e rubi numa área pequena, de 3 mil metros quadrados".

 

Após quatro anos, Boff se diz satisfeito com os resultados, apesar de destacar que o manejo das uvas de mesa é diferente e os custos de produção, mais altos. Ele conta ainda que nos próximos anos pretende dobrar a área de cultivo. "O consumo tem crescido muito, o que leva muita gente a investir", diz.

 

Segundo os especialistas, o aumento no consumo está ligado à melhoria da qualidade das uvas de mesa produzidas na região, que por sua vez está ligada à adoção de uma técnica de cultivo muito comum na produção de morangos, introduzida na região há cerca de 15 anos: o cultivo protegido.

 

Plástico. Trata-se de instalar uma cobertura de plástico por cima dos parreirais. "O clima da Serra Gaúcha é muito úmido, o que favorece as pragas e obriga o produtor a utilizar muitos agrotóxicos", frisa Botton. "Com isso, a uva sempre aparecia entre as frutas com maior quantidade de resíduos, segundo os relatórios da Anvisa, e isso assustava o consumidor."

 

"Além disso, com a plasticultura você fica menos à mercê do tempo", afirma Valderez Formigueir, que há nove anos passou a cultivar uva itália em sua propriedade em Caxias do Sul (RS). Ele conta que, além do preço atrativo, pesou o fato de que na época não havia seguro para as lavouras de uva comum, o que aumentava muito os riscos de prejuízo. "Hoje, mais do que essa segurança, as uvas de mesa são uma alternativa para que o produtor não fique nas mãos das vinícolas", diz Formigueir.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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