Alesat pode definir o ranking das maiores

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Distribuidora de combustíveis com apenas 3,6% do mercado é cobiçada por concorrentes, mas presidente diz que companhia não está à venda

 

Por não ter uma rede tão robusta, Marcelo Alecrim, presidente da distribuidora Alesat, ainda consegue frequentar festas de inauguração de postos de combustíveis no interior, participar de encontros com revendedores e conversar "tête-à-tête" com os donos dos estabelecimentos que operam sob a sua bandeira. A Alesat detém 3,6% de participação do mercado brasileiro. Embora a empresa não seja uma gigante na distribuição, os olhos do setor, que passa por um forte processo de consolidação, estão voltados para ela.

 

A companhia, de capital mineiro e potiguar, virou a "noiva" da vez nesse mercado, cuja líder absoluta é a BR Distribuidora, da Petrobrás. Entre analistas de mercado, a Alesat é cotada como peça-chave para decidir a disputa pelo segundo lugar - hoje nas mãos do Grupo Ultra (Ipiranga e Texaco). Com a concretização da joint venture entre Cosan (com a bandeira Esso) e a anglo-holandesa Shell, os dois players terão participação semelhante. "Quem abocanhar os postos Alesat conseguirá se distanciar da concorrente", afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

 

Alecrim diz que a empresa vem sendo cobiçada "como cavalo que ganha prêmio". "Todo mundo me pergunta se quero vender", diz o empresário, com participação majoritária na companhia. Ele garante, no entanto, que a empresa não está à venda e quer manter a expansão da rede com a mesma estratégia que vem adotando desde que começou a trabalhar com distribuição de combustíveis: o alvo são postos e distribuidoras regionais, geralmente em cidades do interior, que costumam ficar de fora do radar das grandes empresas.

 

Em 2011, a Alesat prevê a aquisição de 200 novos estabelecimentos para alcançar a meta de 1,9 mil postos ao fim do ano. O investimento previsto é de R$ 20 milhões. Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), dos 36,7 mil postos do País, 43% são de bandeira branca (sem marca) e 11% estão nas mãos de 109 pequenas distribuidoras. Os quatro maiores grupos do setor, incluindo a Alesat, detêm 45% dos postos e mais de 80% do mercado, que movimenta anualmente R$ 190 bilhões.

 

Alecrim percebeu a possibilidade de crescer com a compra de pequenos postos quando ainda trabalhava como frentista no posto do pai em Canguaretama (RN). Na época, era bandeira Esso - rede que mais tarde tentou comprar. "Postos de capitais e dos grandes centros conseguiam mais vantagens com as distribuidoras", lembra. "Quem atendesse bem os menores ia ganhar dinheiro." Depois de quintuplicar os negócios da família em cinco anos, Alecrim colocou os pés no mercado de distribuição, criando a rede regional Sat. "Penhorei tudo, até casa de praia, para comprar um navio para transportar combustível."

 

Abertura. Isso foi possível porque, na década de 90, o governo brasileiro instituiu a abertura do mercado de distribuição de combustível, permitindo que novas empresas atuassem no setor e autorizando a operação dos postos bandeira branca. "Da noite para o dia, mais de 200 empresas entraram nesse mercado", conta Alísio Vaz, diretor do sindicato das distribuidoras (Sindicom). "Como esse é um mercado de escala, muitas optaram por sonegar impostos e adulterar combustível para garantir lucro", acrescenta. A única desse período que passou a integrar o Sindicom, entidade que reúne as maiores do setor, foi a Alesat. "Como estou entre os grandes, me sinto grande também", diz Alecrim.

 

Nos últimos dez anos, o mercado de distribuição voltou a se concentrar e essa movimentação ficou ainda mais intensa a partir de 2006. A Sat, de Alecrim, fez uma fusão com a Ale, do grupo mineiro Asamar. Depois comprou a Repsol e a catarinense Polipetro. Os concorrentes também se movimentaram: o grupo Ultrapar adquiriu Ipiranga e Texaco. A Cosan, empresa do setor sucroalcooleiro, entrou para a distribuição com a compra da Esso em 2008. No início do ano, anunciou uma joint venture com a Shell. "Com isso, o mercado tem enfrentado duas grandes mudanças, firmadas na concentração e na nacionalização", explica Adriano Pires.

 

Para o presidente da Cosan Combustíveis e Lubrificantes, Leonardo Gadotti, esse movimento deve continuar ainda por alguns anos. "É um mercado de escala, para grandes empresas, que não tem espaço para amador." A expansão da Cosan, segundo ele, está baseada na aquisição de redes regionais e postos bandeira branca. A empresa não fez comentários sobre a Alesat.

 

No mercado, o futuro da rede presidida por Marcelo Alecrim é uma incógnita. "Como eles passaram incólumes pela consolidação até aqui, pode ser que consigam sobreviver sozinhos", diz Osmar Sanches, analista da Lafis. Para ele, um dos sinais de que a Alesat está resistente são os investimentos previstos para a aquisição de postos.

 

Adriano Pires acredita que a Alesat tem chances de se manter entre as gigantes, caso opte por recusar os "cheques" que hão de vir. "O País está crescendo e tem espaço para todos", diz. Outra possibilidade, segundo ele, é que a rede seja porta de entrada de alguma petroleira estrangeira que queira explorar o mercado brasileiro.

 

Especulações à parte, a Alesat faz o possível para demonstrar que pretende seguir independente: não descartou a intenção de fazer uma oferta inicial de ações (IPO) - medida que foi frustrada no passado por causa da crise global - e mantém a tática de crescer fazendo um trabalho de formiguinha.

 

Cronologia

 

Distribuição concentrada

 

Abril de 2006 As redes Ale, de Minas, e Sat, do Rio Grande do Norte, anunciam a fusão de suas operações. A nova empresa, batizada de Alesat, torna-se a sexta maior do setor Abril de 2007 A Ultrapar adquire 69,2% das ações ordinárias e 13,5% das ações preferenciais da Distribuidora Ipiranga S/A Abril de 2008 A Cosan, empresa do setor sucroalcooleiro, adquire os ativos da Esso Brasileira de Petróleo, controlada pela americana Exxon/Móbil Agosto de 2008 O grupo Ultra adquire a rede de postos Texaco, da americana Chevron Setembro de 2008 A AleSat compra a distribuidora catarinense Polipetro, com 130 postos Dezembro de 2008 A AleSat adquire a distribuição de combustíveis da Repsol YPF, que contava com 327 postos Dezembro de 2009 Cosan compra rede Petrosul do interior de São Paulo Fevereiro de 2010 Cosan anuncia negociação com a Shell para a criação de uma joint venture, que formará uma empresa de R$ 50 bi.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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