Tetra Pak vê como irreversível concentração em lácteos

Leia em 4min 30s

Dona de 95% do mercado de embalagens para leite longa vida no Brasil, a Tetra Pak vê como positiva e irreversível a consolidação no mercado de leite. O movimento, que se intensificou nos últimos dois anos, principalmente com a crise no fim de 2008, criou grandes empresas no setor de leite do país e ainda deve ter outros capítulos.

 

"O movimento é positivo. Porque as empresas [que se unirem] vão cuidar melhor dos processos, da qualidade, da marca, dando mais valor à categoria", avalia Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak no Brasil. Um dos efeitos da consolidação é que melhora a capacidade das empresas para reinvestirem em tecnologia, diz.

 

Para o executivo, por motivos óbvios um dos maiores conhecedores do mercado de leite do Brasil atualmente, o fenômeno da concentração "aconteceu no mundo inteiro e tem que acontecer também por aqui". Mas, pondera ele, "o Brasil nunca será totalmente concentrado". A razão, afirma, é que é a consolidação levará ao aparecimento de novos laticínios regionais, já que surgirão espaços no mercado.

 
 
A maior concentração no varejo nacional também é um fator de estímulo para uma segunda onda de consolidação no setor de leite no país, diz o executivo. É que num varejo mais concentrado, as indústrias buscam ter mais poder de negociação.

 

Em 2009, a sueca Tetra Pak comercializou 10 bilhões de embalagens (para leite e outras bebidas) no Brasil, e Nigro acredita que o número não vai cair por conta da diminuição da quantidade de empresas no setor de leite - nos últimos anos, cerca de 25 deixaram de operar ou se uniram a outros laticínios.

 

A afirmação está baseada na certeza de que "o consumo [de leite] é irreversível". De acordo com o presidente da Tetra Pak, com o esforço feito para aumentar a disponibilidade do produto "todas as classes tiveram acesso ao leite". "O consumidor, mesmo na base da pirâmide, começou a tomar leite", acrescenta.

 

Em sua visão, a queda no consumo no ano passado foi um "ponto fora da curva". Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), a demanda por leite longa vida caiu 1% no país, para 5,262 bilhões de litros.

 

Na avaliação de Nigro, a demanda por alimentos líquidos aumentará, mas o mercado será mais concorrido. "O desafio não é a demanda. Isso haverá. A questão é a competência, é saber quem vai conseguir capturar o crescimento. (...) O leite tem de ser rentável", observa.

 

Ele cita como possibilidade para concorrer num mercado mais competitivo e com novos consumidores - de renda mais baixa - as embalagens menores para o leite. Foi o que ocorreu na China - com as caixinhas de 250 mililitros.

 

A confiança da Tetra Pak de que a demanda seguirá em alta reflete-se nos planos de investimento da empresa no Brasil. Justamente por acreditar nisso, a companhia sueca decidiu antecipar a duplicação de sua unidade de Ponta Grossa (PR), de onde fornece para Brasil, países da América Latina e Caribe.

 

A previsão inicial era que a duplicação estivesse finalizada em 2014. Agora, o plano é que a fábrica estará operando, já ampliada, a partir do segundo semestre de 2013. Segundo Nigro, o projeto de ampliação deve estar definido em setembro, incluindo o valor do investimento. Além de Ponta Grossa, a Tetra Pak também investiu R$ 100 milhões no aumento da capacidade de sua unidade de Monte Mor (SP). A ampliação da fábrica começa a operar até outubro.

 

Responsável por fomentar a produção de leite longa vida no Brasil, principalmente nos anos 1990, a Tetra Pak ficou mais criteriosa em relação "à qualidade dos clientes" nos últimos anos, de acordo com Paulo Nigro. A empresa, que fornece linhas de processamento, envase e distribuição de embalagens, acaba financiando o negócio. "Estamos mais criteriosos em relação à capacidade financeira do cliente de pagar suas contas", afirma.
 

 

Contexto


   
A compra da Eleva pela Perdigão (hoje Brasil Foods), no fim de 2007, marcou o início da concentração no segmento de lácteos no Brasil. Depois, também em 2007, a Bertin (incorporada pela JBS no ano passado) comprou a Vigor. Ao mesmo tempo, outro movimento importante se iniciava: o avanço da gaúcha Bom Gosto, que de 2007 até agora fez oito aquisições. A Parmalat, controlada pela Laep, entrou em crise novamente e acabou se juntando, este ano, num consórcio à GP Investments, que já tinha comprado a Leitbom, em 2008. Antes, a Parmalat já tinha vendido unidades para a Nestlé, para a Bom Gosto e para a própria Leitbom. Como é consenso no mercado, a concentração ainda não acabou. A Indústria de Alimentos Nilza, em recuperação judicial, está à venda e existe, ainda, o projeto de fusão entre as cooperativas de lácteos Itambé, Centroleite, Confepar, Cemil e Minas Leite, que segue em fase de negociação. Nesse caso, como aponta estudo do banco holandês Rabobank (ver abaixo), o resultado da fusão será um conglomerado que deverá entrar, no próximo ano, na lista dos 20 maiores grupos de lácteos do mundo, ranking tradicionalmente liderado pela multinacional suíça Nestlé.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Nova fábrica da Danone moderniza produção e distribuição regional

A Danone, uma das maiores indústrias de laticínios do mundo, está investindo R$ 60 milhões n...

Veja mais
Consumidor presta menos atenção às propagandas

Segundo pesquisa, anunciante tem apenas 6,5 segundos para apresentar sua mensagem   Num dos corredores do Palais ...

Veja mais
Vulcabras-Azaléia investe R$ 98 mi em expansão de fábricas e tecnologias

A Vulcabras-Azaléia, maior fabricante brasileiro de calçados , investirá R$ 98 milhões na ex...

Veja mais
Rossi garante apoio para preços do arroz

"A cadeia produtiva do arroz terá todo o apoio do governo no que se refere à comercialização...

Veja mais
Cancro cítrico volta a incomodar a citricultura em viveiro de São Paulo

A Secretaria de Agricultura de São Paulo confirmou o retorno de casos de cancro em viveiros de citros no estado, ...

Veja mais
Walmart muda tática com sindicatos

O Walmart vai utilizar só trabalhadores de construção civil sindicalizados em Chicago, num esfor&cc...

Veja mais
Pobres ficam fora da cobertura do Farmácia Popular

Os modelos do projeto Farmácia Popular e o controle de preços dos medicamentos no varejo são bons p...

Veja mais
Minas reduz para 7% ICMS de setor têxtil

O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB) anunciou ontem a redução de 12% para 7% do ICMS no ...

Veja mais
Drogaria São Paulo compra a rede Drogão e mira liderança

Com a aquisição da rede Drogão, a Drogaria São Paulo, na terceira posição em f...

Veja mais