Inspirados nas cores lançadas pela Chanel, pequenos fabricantes nacionais ganham força no mercado de esmaltes
Não dá para questionar a referência da toda-poderosa Chanel nas passarelas. Mas, de três anos para cá, a grife francesa ganhou um novo rótulo, o de ícone no mercado de esmaltes. O gatilho para atuar num novo segmento foi a crise econômica global de 2008, responsável pela queda no consumo de luxo na Europa e Estados Unidos. As apaixonadas pela grife tiveram nos esmaltes, vendidos em média por US$ 23, uma espécie de prazer de baixo custo para suportar os dias difíceis.
Aos poucos, a Chanel, com faturamento estimado entre 2 bilhões e 3 bilhões, disseminou nos grandes mercados consumidores o uso de cores da passarela também nos esmaltes. Graças ao apelo fashion, em 2009 os esmaltes foram o único segmento entre os produtos de beleza que tiveram aumento nas vendas nos Estados Unidos.
O casamento entre moda e esmaltes também virou febre no Brasil e resultou na introdução de cores lançadas pela Chanel no portfólio de empresas. O mercado, ainda que pequeno em faturamento, apresenta altas taxas de crescimento - na casa dos 30% de janeiro a maio, de acordo com dados da Nielsen. Risqué (da Hypermarcas), Colorama (da L"Oréal) e Impala (da Mundial) têm mais da metade do mercado. Mas as pequenas empresas começam a despontar.
Um desses casos é o da Big Universo, de Mauá (SP). A empresa foi fundada há 25 anos por Roque de Siqueira, um metalúrgico que, depois de perder o braço em um acidente de trabalho, teve de procurar outra fonte de renda. Foi quando soube por um conhecido que poderia fabricar esmaltes em casa. As primeiras experiências foram feitas literalmente no fundo do quintal. Mais tarde, um dos filhos, Gilmar, se interessou pelo negócio e se formou em química para tocar os projetos de expansão.
Recentemente a terceira geração chegou aos negócios. Clarissa Ezaki, filha de Gilmar, assumiu a área de marketing e de relacionamento com clientes. "Não temos dinheiro para investir em anúncios, então tratamos as blogueiras com carinho, antecipando as novidades. Apesar de tanto tempo de mercado, apenas há seis meses nos tornamos conhecidos graças aos blogs", conta. Até novembro do ano passado, a produção da Big Universo oscilava entre 100 mil e 150 mil frascos por mês. Agora a empresa produz entre 400 mil e 500 mil e espera fechar 2010 com um faturamento de R$ 3 milhões.
Made in Pará. Outra empresa que comemora a boa fase é a Ludurana, de Ananindeua, na Grande Belém. Seu fundador é Francisco José Anastácio da Silva, de 42 anos, um ex-vendedor que há 14 anos resolveu trocar as castanhas pelos esmaltes. Hoje, segundo Paulo Romualdo, diretor da empresa, a produção da Ludurana é de 7 milhões de vidros por mês e, até dezembro, a meta é chegar a 10 milhões de unidades e atingir R$ 60 milhões em vendas - o dobro de 2009.
Os competidores tradicionais do setor não estão parados. A Impala aumentou a produção em 90% e desde março a linha de produção trabalha em três turnos. A gerente de marketing Luciana Laurito conta que as cores tradicionais perderam a majestade. Há dois meses as vendas da Impala são lideradas pela cartela de cores da linha matte flúor. "Desde os lançamentos da Chanel de cores como blue satin, black satin e jade, os esmaltes ficaram mais ligados a moda", explica.
Até a Coca-Cola pegou carona na febre dos esmaltes. A fabricante de bebidas lançou uma ação promocional com a marca inglesa de esmaltes Nails Inc. Na compra de duas garrafas de Diet Coke, a consumidora ganha um esmalte da Coca feito com cores exclusivas pela Nails Inc. A brasileira Arezzo também entrou nessa moda e há duas coleções incluiu a venda de esmaltes nas suas lojas. Como se vê, ninguém quer perder o bom momento.
Destaque
O Brasil é o segundo maior consumidor de esmaltes do mundo, atrás dos EUA. Segundo dados da consultoria Euromonitor, as vendas no País somaram US$ 326 milhões no ano passado.
Veículo: O Estado de S.Paulo