Indústria derruba valor para R$ 0,50, queda de 30% em relação a setembro. Custo de produção é de R$ 0,77 por litro
Os preços do leite entraram outubro seguindo tendência descendente em todo o país. No Oeste de Minas Gerais, onde se concentram grandes produtores nacionais (Pompéu e Bom Despacho), o preço do litro pago ao produtor caiu para R$ 0,50. A queda é de 30% em relação à média do mês anterior, de R$ 0,65, levantada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), para a Região Sudeste. Setembro também já havia fechado com percentual negativo pelo terceiro mês consecutivo, declínio de 7,62% em relação a agosto. A queda livre disparou a luz vermelha e produtores da região planejam manifestações, incluindo a interrupção no fornecimento do produto. Estão na agenda também protestos com bloqueios da BR-262 e BR-040. “Uma medida drástica, mas que parece ser necessária. Nosso custo é de R$ 0,77 por litro. Continuar produzindo se tornou impraticável”, diz Paulino Campos Sales, presidente da Associação dos Sindicatos Rurais do Oeste Mineiro.
A crise dos preços já levou a Câmara Setorial de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a apresentar ao governo federal uma lista de reivindicações emergenciais, entre elas a liberação de R$ 300 milhões do programa de Empréstimo do Governo Federal (EGF) para financiar a compra de estoques públicos, uma tentativa de enxugar a superoferta que inunda o mercado. Hoje, representantes da pecuária de leite esperam obter um retorno do Ministério da Agricultura. “Parece que o governo federal entendeu a gravidade do problema e deve anunciar medidas de emergência”, diz Rodrigo Alvim, presidente da Comissão de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
No campo existe o temor de que a chegada da safra derrube ainda mais os preços. Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, produtores de leite, em protesto, abateram 200 matrizes. Para especialistas, o mercado agora sinaliza para uma acomodação. Segundo levantamento do Cepea/USP, a produção de leite nos oito primeiros meses do ano é 19% superior ante igual período de 2007. O Sindicato da Indústria Láctea de Minas Gerais (Silemg), estima que 2008 feche com uma produção nacional 10% superior aos 26,7 bilhões de litros produzidos no ano passado.
“Não queremos alta de preço para o consumidor, mas maior participação de quem produz. Hoje, o produtor ocupa 25% da cadeia. Esse percentual já foi de 60%”, destaca Paulino Sales. Segundo Celso Costa Moreira, diretor-executivo do Silemg, a reivindicação é inviável. “Toda a cadeia sofre com a redução das margens de lucro. A saída é ganhar no volume comercializado”, argumenta. Segundo Celso Moreira, o litro de leite comprado do produtor a R$ 0,50 é vendido pela indústria a R$ 1,25 e comprado pelo consumidor por R$ 1,60, em média. “Até o fim do ano, o preço do litro pago ao produtor vai oscilar entre R$ 0,50 e R$ 0,60”, adianta.
A despencada dos preços é atribuída a uma retração da demanda, impulsionada pelo alto valor que o produto atingiu em 2007. Em agosto do ano passado, o consumidor chegou a pagar R$ 3 pelo litro longa-vida. Este ano, a oferta do alimento cresceu, apostando na continuidade do mercado aquecido. “Houve um erro mundial, e as previsões de grande demanda não se consolidaram”, pondera o diretor Celso Moreira. Em 2007, o preço pago pela tonelada do leite em pó, estimada em US$ 2 mil, saltou para US$ 5,5 mil. Este ano, com o crescimento da oferta de grandes produtores, como a Nova Zelândia, a tonelada é comercializada a US$ 3 mil.
Veículo: O Estado de Minas - MG