Investimento. Chegada de sócio estrangeiro foi anunciada ontem pela manhã em Paris, sem que fosse informado o valor, que, segundo fontes de mercado, ficou em US$ 110 milhões; fundador da Talent garante que empresa continua independente
O grupo Publicis, terceiro maior do mercado publicitário mundial, anunciou ontem a compra de 49% das ações da agência Talent, com sede em São Paulo. O anúncio foi feito em um comunicado oficial, sem detalhes sobre o negócio, no qual não consta o valor da transação.
De acordo com informações obtidas pelo Estado em Paris, a transferência custará à empresa francesa US$ 110 milhões - valor bem abaixo dos US$ 200 milhões cogitados em agosto pelo jornal Financial Times.
O negócio foi informado por meio de uma nota oficial lacônica, na qual 60% das informações são dedicadas a descrever o grupo Talent. O único dado relativo à transação é o porcentual de 49%. Fontes do mercado publicitário da França garantem que a participação pode ser aumentada, sem, no entanto, que haja um prazo tal. Diretora de Comunicação Externa, Peggy Nahmany, não se manifestou sobre o tema, ontem, quando consultada pela reportagem.
Ainda no comunicado, a companhia francesa afirma: "A transação está em linha com a estratégia do Grupo Publicis de realizar aquisições pontuais visando expandir a liderança em mercados de alto crescimento, como o Brasil."
A empresa ainda lembra que, em agosto, já oficializara a aquisição da agência A2G, em Porto Alegre, escritório se uniu à subsidiária Publicis Modem, braço digital da Publicis Worldwide. "O movimento segue a aquisição pelo Grupo Publicis da agência digital AG2 e sua fatia minoritária na agência Taterka, também neste ano."
Segundo a Publicis, os negócios se justificam porque "o Brasil é um dos mais promissores mercados de publicidade do mundo". Com a aquisição da Talent, a Publicis chega a mil funcionários no País, onde reúne cinco marcas: Publicis Worldwide, Saatchi & Saatchi, Leo Burnett, VivaKi e MS&LGroup.
Além de ampliar sua estrutura física no Brasil ao adquirir a agência fundada por Julio Ribeiro, o grupo francês se consolida como a grande oponente da WPP, a número 1 da publicidade. Para tanto, a Publicis contará agora com clientes da Talent do peso de Sony, Santander, Timberland e Embratel.
A companhia já fatura a metade de sua renda em países emergentes e no ambiente digital, e sua projeção é chegar a 60% entre 2013 e 2014. Em julho, segundo a agência Reuters, o presidente do diretório da Publicis, Maurice Lévy, afirmou que o grupo pretende seguir uma política de aquisições, de forma a ampliar seu mercado na China.
Planos. "Assinamos ontem (terça-feira), depois de um ano de conversas", afirmou Ribeiro, em São Paulo. "O acordo aumenta minha ambição."
O publicitário explicou que seus clientes brasileiros - como Semp Toshiba, Tigre, Alpargatas e Votorantim Cimentos - estão se tornando multinacionais, e que ele precisava de um sócio internacional para atender a essas empresas fora do País. "Achamos que o modelo anterior era muito restritivo", explicou. "Era difícil crescer só no Brasil."
Ribeiro não confirmou o valor do negócio, dizendo que "existem muitos boatos no mercado". Ele garantiu que a Talent continuará atuando como uma agência independente, tanto do ponto de vista da criação quanto administrativo.
A Publicis tem uma operação brasileira, que continuará separada da Talent.
O fundador da Talent comunicou ontem à equipe a chegada do novo sócio. "O pessoal recebeu bem", disse Ribeiro. "Com o acordo assinado, minha sensação é de alívio, depois de um ano de negociações. Agora vou tirar uma semana de férias."
Mercado atrai agências estrangeiras
A compra da Talent pela Publicis reflete uma tendência de as grandes agências brasileiras se associarem a grupos internacionais. Em abril, o publicitário Washington Olivetto uniu-se à rede americana de agências McCann-Erickson, formando a WMcCann.
Criada em 1980 por Julio Ribeiro, a Talent prevê crescer 25% este ano, chegando a um faturamento de R$ 1 bilhão. A compra da Talent incluiu a QG Propaganda, criada há 18 anos.
A Talent continuará sob o comando de Ribeiro e dos sócios José Eustachio, vice-presidente de Operações, e Antonio Lino, vice-presidente de Administração. A QG continuará sob a presidência de Paulo Zoega Neto.
PONTOS-CHAVE
Expansão
Maurice Lévy, presidente do diretório da Publicis, afirmou em julho que o grupo planeja seguir sua política de aquisições, para ampliar seu mercado nos emergentes.
Crescimento
25%
É o aumento previsto para o faturamento da Talent neste ano, sobre o resultado de 2009, chegando a R$ 1 bilhão.
História
A agência de publicidade Talent criou slogans memoráveis,
como "Não é assim nenhuma Brastemp" e "Bonita camisa, Fernandinho", para as camisas UsTop.
Veículo: O Estado de S.Paulo