Selmi amplia linha e terá fábrica no nordeste

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O mercado de macarrão no País tem crescido à medida que a renda da população aumenta. Inserida neste contexto e presente no mercado brasileiro há 103 anos, a Selmi tem planos sólidos de expansão no País e deve terminar o ano com um investimento de R$ 40 milhões.

 

Dentro do campo de visão para o futuro, segundo Ricardo Selmi, presidente da empresa, está a instalação de uma fábrica no porto de Suape, na cidade de Cabo de Santo Agostinho, no Estado de Pernambuco.

 

Selmi acredita que a expansão para as Regiões Norte e Nordeste deve aproximar a participação de mercado da região do desempenho que tem nas Regiões Sul e Sudeste. Atualmente com 12% de fatia do mercado em todo o País, no segmento de macarrão, a Região Nordeste é a que puxa a média de participação para baixo, uma vez que nos estados do sul a empresa tem uma fatia mais expressiva: 20% do mercado.

 

A nova fábrica na Região Nordeste - onde atualmente a empresa tem atuação tímida - deve entrar em operação em meados de 2011 e, segundo estimativa do presidente da empresa, inicialmente deve produzir três mil toneladas de macarrão e mil toneladas de macarrão instantâneo ao mês. A Selmi tem fábrica na cidade de Sumaré, interior de São Paulo, e em Londrina, no Estado do Paraná.

 

A entrada em novos segmentos, como biscoitos, azeite e café, dá à empresa visão de possíveis investimentos industriais no futuro. Atualmente a produção dos itens é terceirizada e a escolha dos parceiros é criteriosa, como explica Selmi na entrevista ao "Panorama do Brasil" desta semana. A entrevista foi feita pelo jornalista Roberto Müller, com Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM e Márcio Rodrigues, secretário de Redação do jornal DCI.

 

Roberto Müller: Eu queria te perguntar: o Brasil está crescendo, espantando o mundo com seu crescimento, sobretudo, segundo todas as pesquisas, pela emergência das classes C e D: elas passaram a consumir, criou-se uma nova classe média no Brasil. Isso é acentuado nas classes populares em geral, mas sobretudo no nosso nordeste. Você dirige um negócio, uma empresa que é termômetro disso tudo. Como é que está sendo com você e como é que você vê este fenômeno no Brasil?

 

Ricardo Selmi: Nos últimos quatro anos nós temos crescido de 12% a 13% ao ano, uma taxa positiva. E notamos que o nordeste, toda a Região Nordeste, tem crescido um pouco mais que o restante do Brasil em matéria de produtos alimentícios e outros também. Acho que esta tendência de migração da classe E para D, e da D para a C tem acontecido e tem migrado para alguns produtos de maior valor agregado. Então existe esta movimentação vertical.

 

Milton Paes: Isto é o que teria motivado a Selmi a ampliar o seu portfólio de produtos? Porque, veja bem, a população associa o nome da empresa a macarrão, que é o carro-chefe da empresa. Mas hoje, por exemplo, vocês entraram na linha de biscoitos, azeite importado, vocês entraram no segmento de queijo ralado, café... Então esta situação de crescimento anual e esta estabilidade no Brasil levou vocês a ampliar o portfolio?

 

Ricardo Selmi: Eu acho que quando a economia está num momento favorável facilita a introdução de novos produtos, mas outros pontos são importantes. Para nossa própria longevidade e para a diminuição de custos de distribuição é importante também termos outros produtos. E um outro ponto é que o varejo brasileiro, os supermercados, estão com uma tendência de diminuir o número de fornecedores a fim de racionalizar as operações deles mesmos. São três motivos que nos levaram a ampliar o leque de produtos.

 

Márcio Rodrigues: Ricardo, você citou o crescimento do nordeste e hoje você tem uma fábrica em São Paulo e uma no Paraná. Você tem algum plano para o nordeste, especificamente as Regiões Norte e Nordeste do País?

 

Ricardo Selmi: Nas Regiões Norte e Nordeste nossa atuação é tímida: iniciamos a operação no nordeste há cerca de dois anos. Estamos presentes em algumas redes de bons supermercados, mas o nosso giro é pequeno. Isso está nos obrigando a realmente fazer uma fábrica no nordeste a fim de que possamos ser mais competitivos e com isso também enfrentar nossos concorrentes lá. Nós estamos um pouco desequilibrados em relação à nossa atuação. Estamos muito bem aqui no sul e no sudeste, no centro-oeste, mas somos mais fracos no norte e no nordeste.

 

Milton Paes: O consumidor está ficando cada vez mais exigente e mais criterioso. Talvez este seja outro motivo para a ampliação do portfólio. Mas tanto com seu café quanto com seu queijo ralado você compete com outras grandes marcas que estão há muito tempo no mercado. Que estratégia vocês adotaram para ter competitividade perante marcas que já existem?

 

Ricardo Selmi: Ambos são produtos terceirizados, então nós temos de ter bons parceiros. Parceiros confiáveis, para que nós possamos ter certeza de que o produto vai ser adequado quando chegar ao consumidor. Por que as nossas marcas estão lá. Então escolhendo bons parceiros a gente definiu uma qualidade de produto boa e com preço razoável. Não é o preço mais barato, nós temos um queijo ralado grosso, que é um queijo ralado diferenciado - não tem outro queijo parmesão no mercado ralado grosso - e que tem uma sinergia muito boa: o queijo Renata com a marca Renata. Uma sinergia forte que está trazendo para nós uma venda muito interessante.

 

E o café, efetivamente está um pouco fora do mercado de massa queijo... mas que está aí no mercado de alimentos, que é um mercado muito grande. Nos intreressa começar a participar e amanhã poder crescer, fazer uma indústria efetiva e poder crescer bastante neste mercado. Isso no médio e longo prazo.

 

Milton Paes: Agora naquele período de crise, entre 2008 e 2009; mesmo naquele período vocês investiram forte em máquinas e equipamentos para a planta de Sumaré...

 

Ricardo Selmi: Só a de Sumaré. A do Paraná a gente vai investir neste próximo ano. A gente vai colocar uma máquina nova de espaguete grande. E em Sumaré a gente investiu porque a fábrica tem um terreno grande, de 223 mil metros quadrados e com projeto bem para o futuro, bem planejado. Então era rápido o retorno de produção. Então investimos lá pela necessidade de por produto no mercado co mais velocidade.

 

Márcio Rodrigues: Vocês também atuam no setor de biscoitos. Existe algum plano de expansão para este setor? Qual a importância deste segmento para o grupo Selmi?

 

Ricardo Selmi: É um sonho muito antigo da nossa empresa ter biscoitos. Nunca houve a oportunidade e agora foi o momento. Nós iniciamos com os biscoitos moldados. Doces moldados, o que inclui recheados, amanteigados e rosquinhas. E agora, a partir do próximo mês, nós vamos virar uma linha muito grande de crackers e água-e-sal. Vamos fazer também laminados doces, que seria Maria, Maisena e de coco. Então a partir do mês que vem nós vamos estar com todo o portfólio de biscoitos à venda.

 

Roberto Müller: Este setor está crescendo mais do que as massas?

 

Ricardo Selmi: Eu diria que massas e biscoitos estão crescendo de forma vegetativa, de acordo com o crescimento populacional. Em torno de 1% ou 1,5%. É o que tem acontecido. Cresce, mas não cresce como a gente esperava que pudesse crescer. Acontece que em valores, em preço médio, isso tem crescido mais, porque traz maior valor agregado. O mercado de biscoito é um mercado grande, é um mercado de R$ 7,5 bilhões ao ano no Brasil. E é um mercado que traz uma aderência grande também para a nossa marca. Tanto que hoje, depois de um pouco mais de um ano de lançado, o nosso produto está em metade dos pontos-de-venda que nós temos de massas - quer dizer, num curto tempo. Nós temos 32 mil pontos-de-venda de massas, ativos, que a Selmi atende diretamente. E temos 16 mil pontos de biscoitos. Então foi uma aceitação muito grande e o giro está sendo muito bom também.

 

Roberto Müller: Quando é que fica pronta a fábrica no nordeste e qual é a capacidade de produção?

 

Ricardo Selmi: A nossa previsão é de que ela fique pronta em agosto ou setembro de 2011; já em operação, ela vai produzir massas e macarrão instantâneo inicialmente. Existe a previsão de produção de biscoitos também, mas não temos o planejamento ainda.

 

Milton Paes: O centro de distribuição de vocês fica onde?

 

Ricardo Selmi: Nós temos vários. O principal é em Sumaré; depois temos, na fábrica de Londrina, um outro centro de distribuição, e temos no Rio de Janeiro, temos em Santa Catarina, Mato Grosso. A gente tem de estar próximo dos clientes.

 

Márcio Rodrigues: Qual será o local desta fábrica?

 

Ricardo Selmi: Vai ser no Porto de Suape, na cidade de Cabo de Santo Agostinho.

 

Márcio Rodrigues: E a escolha foi planejada para facilitar a logística dentro da região ou facilitar a distribuição...

 

Ricardo Selmi: Isso, Pernambuco é um estado que, além de ser populoso, está entre Fortaleza e Salvador, que são locais populosos também. Então logisticamente, para uma primeira fábrica, é interessante para nós.

 

Roberto Müller: Você fala primeira fábrica porque já está pensando em outra no nordeste?

 

Ricardo Selmi: O nordeste é populoso e a gente vê que estes incentivos fiscais existem até entre os estados do nordeste. Então é possível que num período mais longo a gente deva construir outra fábrica.

 

Milton Paes: Vocês trabalham com logística própria ou terceirizada?

 

Ricardo Selmi: Temos própria, temos terceirizadas, temos contratadas e transportadoras também. Eu diria que 30% a 35% são de logística própria.

 

Márcio Rodrigues: Você tocou no assunto terceirização e tinha comentado também que parte dos produtos que vocês vendem são terceirizados. Como se dá o processo de escolha destes fornecedores? Vocês tentam buscar o maior número possível de fornecedores ou vocês têm um fornecedor exclusivo para cada produto?

 

Ricardo Selmi: Exclusivo para cada produto. Mas para podermos escolher nós temos de conhecer o produto, saber da qualidade do produto, da saúde financeira da empresa, o grau de confiabilidade... Isso é uma pesquisa que fazemos com um ou dois anos de antecedência até que podermos ter certeza de que aquele é o fornecedor adequado. E tem-se mostrado confiável.

 

Roberto Müller: Como vocês vão fazer para levar também as suas marcas de todos os segmentos para o nordeste?

 

Ricardo Selmi: O que tem acontecido é que no nordeste as marcas são conhecidas pelos supermercados. Então eles querem ter um outro bom fornecedor e isso tem facilitado a entrada do nosso produto. O que a gente precisava mais era ter um preço mais condizente com a realidade para que os volumes pudessem acontecer. E isso vai se dar realmente com a instalação da nova fábrica.

 

Milton Paes: Vocês exportam também?

 

Ricardo Selmi: Exportamos, sim. Exportamos para Venezuela, Angola, Caribe, Antilhas, para outros países da África, para Portugal: ao todo são 25 países.

 

Milton Paes: E isso representa quanto do seu faturamento?

 

Ricardo Selmi: Ainda pouco. é um movimento de investimento que a gente está fazendo e que demanda um pouco de tempo. Mas é de cerca de 3% em cima dos produtos de varejo.

 

Márcio Rodrigues: Vocês também estão diversificando além da indústria, e abriram uma unidade própria num shopping que vende macarrão com o molho de um chef. Isso faz parte do plano de expansão da sua empresa?

 

Ricardo Selmi: Faz, faz. Efetivamente, o chef é o Sérgio Arno, um chef renomado, que conhece muito da matéria. Na realidade a ideia foi dele. Ele disse: "Puxa, por que não fazemos um fast-food de macarrão instantâneo, que não existe?" e então nós partimos para construir e temos a primeira loja, que está funcionando no shopping do Alphaville, o Shopping Tamboré. Temos dois meses e meio de operação por enquanto, e estamos fazendo os ajustes necessários para que, quando estiverem alinhadas as questões de produto, portfólio, faturamento, possamos vender a franquia para o Brasil todo.

 

Roberto Müller: Como funciona? É uma loja, um restaurante...?

 

Ricardo Selmi: É um fast-food normal de shopping, na praça de alimentção, em que a gente procura mostrar a marca Renata Express. As vendas estão aumentando, e eu acho que logo estaremos vendendo. Quem sabe a gente pode estar com 50 ou 100 lojas. E com isso, nossa estratégia é divulgar também a nossa marca. É uma ação integrada, vamos dizer assim. Lógico que fazer o negócio crescer com sustentabilidade e com isso, nós sabemos, nossa marca vai agradecer.

 

Milton Paes: Vocês têm planos de entrar no ramo de congelados também?

 

Ricardo Selmi: É um mercado, como a gente tem notado, que está bem delineado. Você vê carnes, frango, pizzas, massas frescas... Você vê que a cadeia de distribuição do frio é própria. E eles têm que diluir custos de distribuição dentro desta cadeia. Então seria muito fora do nosso target.

 

Roberto Müller: Com quem que a sua marca se comunica? Como você planeja a necessidade de ter sua marca sempre presente e sempre lembrada?

 

Ricardo Selmi: Eu diria que primeiramente para o nosso consumidor final, que são nossos clientes, que consomem nossos produtos, existem campanhas de marketing, mídia televisiva, quer dizer, são várias mídias que a gente faz e que têm um contrato direto com o público consumidor. E, secundariamente, a gente tem um contato muito intenso com nossos clientes diretos, que seriam os supermercadistas. Promovemos visitas deles às nossas fabricas constantemente, participamos dos eventos de classe, isso tudo ajuda, e prestamos um serviço adequado. Com isso a confiança existe. Assim, as vendas acabam aumentando também.

 

Roberto Müller: Qual é o seu tamanho relativo no sul e no sudeste, onde você já tem 103 anos? Quanto por cento do mercado você tem?

 

Ricardo Selmi: Eu diria que no mercado nacional nós temos 12% do mercado de macarrão. Se falarmos em sul e sudeste, eventualmente nós devemos ter em torno de 20%.

 

Veículo: DCI


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