Demanda mundial vai ampliar vendas de carne e grãos

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Fatia do Brasil crescerá 7 pontos porcentuais até 2020, enquanto participação no mercado de óleo e farelo de soja deverá cair 3 pontos

 

A forte demanda mundial por alimentos vai turbinar a posição brasileira no mercado internacional na próxima década. A previsão é que a participação do País nas exportações mundiais de grãos e carnes cresça, pelo menos, 7 pontos porcentuais até 2020. Em contrapartida, a fatia de alguns produtos de maior valor agregado, como o farelo de soja e o óleo de soja, sofrerá uma redução no período, em torno de 3 pontos porcentuais.

 

As exportações desses produtos continuarão a crescer, mas em ritmo menor que o dos concorrentes, afirma o coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, José Gasques. Estudo preliminar do governo mostra que, no caso do farelo de soja, a participação do Brasil no mercado internacional vai encolher de 22% para 19,5% até 2020; e a de óleo de soja, de 21% para 18%.

 

"Vamos perder participação nesse mercado por causa da concorrência de países como Argentina e Estados Unidos", diz Gasques. Na avaliação dos produtores, essa redução decorre de uma série de fatores. Um deles é que todos os países querem importar grãos para beneficiarem e agregarem valor ao produto. Assim geram mais investimentos e empregos.

 

Do outro lado, há a necessidade de uma política pública que incentive a exportação, como a redução de impostos, afirma o secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho. Ele explica que a exportação do grão é isenta de ICMS. Mas, no caso do farelo e do óleo, se o produto for industrializado em Estado diferente do local de produção, há tributação no deslocamento. "Nosso desejo é vender mais farelo e óleo ao exterior. Para isso, o País tem de eliminar esse viés antiexportador."

 

De acordo com dados da Abiove, entre 2000 e 2010, o volume de exportação de farelo e óleo de soja cresceu 50%, enquanto o de soja em grão teve salto três vezes maior, de 153%. Esse ritmo deve continuar nos próximos anos. Até 2020, o Ministério da Agricultura projeta que a participação da soja em grãos no mercado mundial suba de 30% para 37%.

 

Carnes. O destaque, no entanto, ficará com o avanço das exportações de carne, diz Gasques. Até o fim da década, a fatia de mercado da carne de frango brasileira saltará de 42% para 48%; e a de carne bovina, de 25% para 32%. Nesse caso, o maior aumento deverá ocorrer também em frango in natura, que é mais barata que a industrializada, completa o coordenador do Ministério da Agricultura. Detalhe: o preço médio da carne in natura é de US$ 1,673 a tonelada e a industrializada, US$ 2,755 a tonelada.

 

Para Gasques, embora a expectativa de crescimento da exportação dos produtos de maior valor agregado seja menor que a de matéria-prima, o Brasil terá ganhos significativos no agronegócio. Um deles é a diversificação dos produtos vendidos. "Antes era só café, açúcar e soja. Agora temos o avanço das carnes, sucos, leite, milho e frutas." No futuro, a lista de mercados liderados pelo Brasil pode incluir produtos como algodão, celulose, frango e etanol.

 

O líder global para o segmento de agronegócio da consultoria Accenture, Eduardo Barros, está convicto que o País tem plena condição para conquistar novos mercados no exterior. Ele lembra que nos últimos oito anos a participação do Brasil no mercado internacional quase dobrou para 7% de toda produção disponível.

 

"Esse número continuará em alta, especialmente porque a previsão é que a produção nacional cresça algo em torno de 40% nos próximos dez anos, enquanto nos Estados Unidos o avanço ficará entre 10% e 15%." Parte do aumento da produção ficará no mercado interno, cujo consumo também apresentará forte crescimento, por causa da melhora da renda da população.

 

Marketing e acordos. Barros pondera, entretanto, que o governo brasileiro precisa reforçar o marketing de seus produtos no exterior, a exemplo do que fez a Colômbia com o café. Na avaliação dele, isso faz uma grande diferença e facilita o aumento das exportações de novos produtos.

 

A superintendente técnica da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rosemeire Cristina dos Santos, adiciona outro ingrediente necessário à expansão da participação brasileira no mercado global: os acordos bilaterais com outros países e blocos econômicos para reduzir ou eliminar tarifas de importação.

 

Para ela, a liderança do País no agronegócio depende muito dessas negociações, especialmente com a União Europeia. "Esse é um mercado extremamente importante para o Brasil."

 

Infraestrutura é desafio para garantir competitividade

 

Com apenas 7% da área dedicada à lavoura, o Brasil é o produtor com maior potencial de suprir a demanda mundial por alimentos nas próximas décadas. Para isso, entretanto, alguns desafios precisam ser superados. Além da questão tributária e cambial, as deficiências na infraestrutura são apontadas como um dos fatores que neutralizam as vantagens naturais do País.

 

Quase 60% da produção agrícola é transportada, das fazendas até os portos, por caminhões que enfrentam milhares de quilômetros (km) de estradas esburacadas e, muitas vezes, sem asfalto. Hoje apenas 10% da rede rodoviária do País é asfaltada. A ferrovia tem apenas 28 mil de extensão e não chega até grandes polos produtores, como é o caso do Mato Grosso. Nos portos, o sistema é caro e deficiente. A carga fica horas - e até dias - aguardando armazenada nos caminhões para serem embarcadas nos navios. A falta de armazéns é outra carência do País. Calcula-se que o déficit de armazenagem de grãos seja de 43 milhões de toneladas.

 

"Temos de melhorar os custos Brasil para investir mais e exportar mais", avalia o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho da Silva. Segundo ele, não faltam problemas para reduzir a competitividade do agronegócio. "Temos 100 números de dificuldades, como burocracia, contestações ideológicas, insegurança jurídica, questões ambientais, etc."

 

A grande preocupação é que as novas fronteiras agrícolas ainda não têm infraestrutura adequada para escoar a produção, a exemplo do Piauí e do Oeste da Bahia. O governo conta com três ferrovias - a Norte Sul, Transnordestina e Oeste Leste - para resolver os problemas de falta de transporte.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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