Construção de uma carreira

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Rede Cidadã já ajudou mais de 9 mil jovens a serem contratados pelas cerca de 1 mil empresas parceiras

 

Todos os dias, quem chega à recepção do Centro de Seleção da ONG Rede Cidadã, no Centro de Belo Horizonte, encontra jovens com semblantes que variam entre curiosos e tímidos, à espera de orientações preciosas. Munidos de currículos ou apenas de muitas dúvidas, eles buscam ajuda para ser inseridos no mercado de trabalho. No espaço, eles encontram uma equipe disposta a mostrar que o primeiro emprego pode, e deve, ser muito mais que um salário no fim do mês. Desde 2004, a Rede Cidadã ajudou mais de 9 mil jovens a serem contratados pelas cerca de 1 mil empresas parceiras e, com isso, darem um passo importante para a construção de suas carreiras.

 

Com a ajuda do Projeto Conexão, criado em 2008, em parceria com o Comitê para Democratização da Informática (CDI) e apoio da joint venture Accenture Foundation, mais de 2 mil jovens acima de 18 anos foram contratados pela primeira vez ou recolocados no mercado, em Belo Horizonte. Outro programa, o Aprendiz Legal, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, capacita e encaminha para experiências práticas jovens entre 16 e 22 anos e quatro meses – em sete anos, quase 2,5 mil aprendizes foram efetivados.

 

Diante de um cenário em que 12,5% das pessoas entre 18 e 24 anos não estão empregadas no país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esses resultados são bastante expressivos. Para Elidiene Geralda de Carvalho Perdigão, assistente de projetos da Rede Cidadã, o trabalho deve ir além das estatísticas. “Quando o jovem chega à Rede Cidadã, ele faz o cadastro e é encaminhado à sala de valores, onde é realizada uma dinâmica e são reafirmados os compromissos, o valor do trabalho, a importância de construir uma carreira. O nosso trabalho é fazer com que esses jovens cheguem ao mercado mais preparados e que não enxerguem apenas como um emprego para pagar as contas.”

 

Todo o caminho percorrido pelos jovens até serem encaminhados para entrevistas de trabalho é desenvolvido com cuidado pela ONG. Os interessados passam por uma triagem, em que são mapeados os conhecimentos de português, matemática e redação. “Não é uma etapa eliminatória, mas uma forma de medirmos o nível do jovem.”

 

Uma etapa importante é o estudo feito pelo Iriskon, um software que analisa 24 habilidades e competências e, com isso, identifica o potencial realizador do jovem e o que precisa ser trabalhado. “Podemos saber se ele tem um perfil mais estratégico, mais prático ou operacional, se tem espírito empreendedor. Isso é importante para que possamos encaminhá-lo para a vaga certa e, com isso, aumentarmos o aproveitamento.” Os resultados são repassados aos candidatos, para que eles possam entender melhor cada competência analisada. “Nesse momento, também realizamos uma seleção simulada, como se fosse uma entrevista de emprego, para que os jovens tenham orientações gerais, desde o jeito de vestir até a postura ideal.”

 

OPORTUNIDADE Dicas como essas foram fundamentais para Érica dos Santos Linhares, de 24 anos, que conseguiu o trabalho de operadora de caixa na Padaria Boníssima, por meio da Rede Cidadã. “Já tinha trabalhado em alguns lugares na minha cidade, São José de Almeida, e em Belo Horizonte, mas achei aqui um pouco mais difícil. Fui chamada para algumas entrevistas, mas não me retornaram, nem para falar que não passei. Na Rede Cidadã, eles me ajudaram a saber o que deveria fazer durante as entrevistas.” Há apenas um mês no novo trabalho, Érica diz que, mesmo ainda estando no período de experiência, muita coisa já mudou. “Estou tendo uma oportunidade que os outros lugares não me deram.”

 

Banco de talentos

 

Marca principal dos projetos da Rede Cidadã é transformar jovens em profissionais qualificados e não apenas dar trabalho remunerado

 

Os projetos da Rede Cidadã – que conta também com o Rede Inclusiva, para inserção de pessoas com deficiência no mercado, e com o eixo Empreendedorismo, dentro do Projeto Conexão, que orienta na abertura de novos negócios – têm como marca principal o cuidado para não apenas dar trabalho remunerado e sim transformar jovens em profissionais qualificados.

 

Um dos diferenciais é a preocupação com a forma com eles irão lidar com novas responsabilidades. “Oferecemos o curso de orientação profissional prática (OPP), realizado por voluntários, e o investir vale a pena (IVP), uma espécie de alfabetização financeira”, diz Elidiene Geralda de Carvalho Perdigão, assistente de projetos da rede. Além disso, quando é identificada uma demanda maior para determinado tipo de trabalho, são formados grupos para aulas de capacitação especializada, para 15 diferentes funções, como garçom, secretária e recepcionista.

 

Somente depois de passar pelas avaliações e orientações é que o jovem, caso seja selecionado, vai para o banco de talentos, para ser encaminhado às entrevistas em empresas parceiras. Tanto no Projeto Conexão quanto no Programa Aprendiz Legal há um acompanhamento de perto. “No caso dos aprendizes, durante 18 meses eles se dividem entre capacitação prática e teórica. São quatro dias na empresa e um na Rede Cidadã. Um tutor acompanha o jovem na empresa e um educador fica em sala de aula. Ao fim desse período, ele pode ser contratado ou não. Se não for, ele continua no banco de talentos, assim como no caso de quem está no Conexão.”

 

De acordo com Elidiene, o perfil predominante de quem procura a rede é o de jovens de vilas e aglomerados da Região Metropolitana de Belo Horizonte, mas não há critérios de exclusão e, quem precisar de orientação, será atendido. Todo o trabalho, desde a divulgação até os investimentos em infraestrutura, funciona muito bem quando toda uma rede é acionada. A IBM, por exemplo, doou, recentemente, 10 computadores com um software autodidático para o ensino de inglês. Com isso, cursos de idioma serão abertos, com inscrições a partir de 25 de maio e o apoio de voluntários.

 

A rede de parceiros também é fundamental. Fernanda Carneiro de Freitas, psicóloga do recursos humanos da Padaria Boníssima – parceira do Projeto Conexão, do Programa Aprendiz Legal e da Rede Inclusiva – explica que, quando uma vaga é aberta, todos os detalhes e o perfil da vaga são passados para a ONG, que encaminha os candidatos. “Busco quem é compromissado, tem boa vontade, é pontual e sabe lidar tanto com os clientes quanto com os colegas de trabalho. Acho que está mais difícil encontrar jovens com essas características. Muitos pensam apenas no salário no fim do mês e querem saber apenas dos direitos, e não dos deveres. Por isso, é importante quando há uma orientação e uma triagem como as que são feitas pela rede.”

 

EXPECTATIVA Na sala de cadastro e triagem, Carla Tatiane Rodrigues e Paulo Henrique França dos Santos, ambos de 15 anos, davam o primeiro passo para estrear no mercado de trabalho. “Minha madrinha indicou a Rede Cidadã. Vim porque quero experiência mesmo, buscar independência. Acho que tenho mais o perfil para trabalhar como secretária ou auxiliar administrativo”, afirma Carla. Para Paulo Henrique, a prioridade é a busca pelo conhecimento “Por enquanto, não dispenso nenhuma oportunidade, mas sei, por exemplo, que não me daria muito bem se fosse para uma vaga de telemarketing.”

 

Por outro lado, a estudante de engenharia elétrica Jéssica Lilian Pinheiro Matias, de 20, queria uma recolocação. “Já trabalhei em dois lugares com atendimento, mas consegui por indicação. Gostaria de trabalhar em escritório, me capacitar nessa área administrativa. Como já passei por comércio e telemarketing, não acho que voltaria, mas quero ver as possibilidades que vão surgir.”

 

Cursos para diversas áreas

 

Para Marcus de Tarsis Santos, de 19, a experiência na Login Infraestrutura, que oferece produtos de limpeza e conservação, não é exatamente na área em que ele quer se capacitar, mas tem sido importante para apresentá-lo ao mundo profissional. “Estou desde outubro do ano passado trabalhando como auxiliar administrativo no almoxarifado e cuido da entrada e saída de produtos e da logística. Quero me profissionalizar em artes cênicas e, inclusive, estou fazendo um curso técnico de rádio e TV. O que procuro agora é uma experiência no mercado, amadurecimento, saber lidar com as situações de um ambiente de trabalho.”

 

PLANOS Já Raphaela Cristina do Monte Raudi, também de 19, teve sorte em estar em um ambiente com a qual sempre sonhou. “Trabalho no Lifecenter, como aprendiz do faturamento, desde setembro do ano passado. Gosto muito, por ser em um hospital, já que me interesso pela área de saúde e quero fazer, futuramente, medicina ou enfermagem.” De acordo com Raphaela, apesar de ser um trabalho um pouco cansativo, é uma fonte bastante promissora. “Quero me profissionalizar na parte administrativa até conseguir fazer a faculdade. Além disso, recebo um salário que procuro gastar bem, pagando curso de inglês, por exemplo.”

 

Serviço
Rede Cidadã
Avenida do Andradas, 367, sala 219 A, 1º andar, Centro – BH
(31) 31 3236-1600 ou 3236-1601
www.redecidada.org.br

 

Saiba mais

 

Resultados da Rede Cidadã (de 2004 a março de 2011)

 

Jovens contratados
9.253

 

Jovens Aprendizes contratados
2.495

 

Pessoas com deficiência contratadas
561

 

Empreendimentos apoiados
774

 

Voluntários
1.767

 

Instituições parceiras
533

 

Empresas parceiras
1.070

 

Veículo: O Estado de Minas


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