Apesar dos valores do produto não estarem tão baixos quanto os montantes do ano passado, produtores brasileiros estão segurando as vendas.
Após os preços da saca do café atingirem a marca recorde de R$ 555,00 em maio deste ano no Brasil, os valores começam a recuar. As principais razões são a entrada da nova safra, o desaquecimento da demanda mundial e a atual situação macroeconômica dos principais consumidores do produto. Segundo analistas do setor, a palavra-chave do cenário atual no Brasil é incerteza.
Com uma oferta mundial de café bastante restrita no ano passado, os preços do produto que variavam na casa dos R$ 280,7 a saca de 60 quilos em janeiro de 2010 começaram a subir já no final do mesmo ano. Em janeiro deste ano os valores já superavam os R$ 435,4, o que representa uma alta de 55%. Segundo o analista da Safras & Mercado, Gil Barabach, essa valorização se deu pela quebra de safra no mundo, aliado aos baixos estoques e uma demanda extremamente aquecida, tanto no Brasil quanto nos principais países consumidores.
Em maio deste ano o setor registrou no Brasil o maior valor nominal de toda a série de preços, atingindo no dia 2 R$ 555 a saca. Na média do mês de maio o café ficou em R$ 530,7 a saca. "O preço da saca começou a subir desde a safra anterior, a partir de julho, até atingir os patamares recordes vistos entre abril e maio. A razão principal foi a escassez de grãos no mercado mundial. Muitos países estavam com problemas de ofertas e os estoques estavam muito baixos. Desde fevereiro os preços no Brasil ultrapassaram a casa dos R$ 500 a saca. No dia 5 de maio foi registrado o maior preço da série com R$ 555 a saca", disse a analista do Centro de Estudo Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Fernanda Geraldini.
A partir daí os preços começaram a recuar dado o começo da colheita da safra deste ano. O mês fechou com uma média de R$ 518,4 a saca No dia primeiro de junho a saca do café tipo seis, bebida dura, foi negociada a R$ 504. Na última semana do mês, a cotação foi para R$ 462, pegando muitos produtores desprevenidos. "Os preços que normalmente recuariam já no mês de maio, com a entrada da nova safra, acabaram sustentados pelos problemas de geadas em alguns estados. Entretanto isso não sustentou os valores e eles começaram a recuar", disse a analista do CaféPoint, Natália Fernandes.
Para Gil, a entrada da safra brasileira e o atual cenário macroeconômico dos principais consumidores do produto ajudaram as cotações a recuarem no final de junho. "De um lado temos um mercado de café acomodado por conta da oferta brasileira. E, por outro lado, o setor está vulnerável a fatores climáticos, no caso do Brasil as geadas que podem complicar tudo e comprometer a safra de 2012. Outro fator é a questão da incerteza financeira que mexe muito com os mercados, e o café não fica imune. Os preços oscilam com o dólar, pois as commodities são dolarizadas", frisou Gil Barabach ao DCI.
Com isso, os produtores resolveram desacelerar as vendas do produto na busca de preços mais altos que os atuais, que giram na média de R$ 472,5 a saca nesse mês de julho. Como os preços chegaram a patamares bem altos recentemente, muitos agricultores estão capitalizados e preferem esperar o momento certo para vender. "As vendas seguem mais lentas nos últimos dias pois os produtores estão aguardando uma nova alta. Eles sabem que a demanda segue aquecida no mundo e a oferta brasileira não irá suprir isso e nem aumentar os estoques ao ponto de dar conforto ao mercado. Então, eles estão aguardando que os preços voltem aos patamares acima de R$ 500. Como eles estão capitalizados, o momento agora é de espera", disse Natália.
Para ambos analistas o momento agora é de incertezas a respeito dos preços. Segundo Barabach a safra nova depende de climas favoráveis em todas as regiões do mundo para aumentar a oferta de café, e assim acalmar as cotações do produto. "Se a chuva vier, confirmaremos a safra recorde para 2012. Aliado a isso, temos a temporada de furacões, que pode atingir a Colômbia, comprometendo a produção a exemplo do ano passado. Mas, se tudo correr bem, o abastecimento começará a caminhar para a normalidade. Mas, para isso, o fator clima precisa colaborar", finalizou o analista da Safras.
Segundo levantamento de Safras & Mercado junto a produtores, cooperativas e corretores das principais regiões produtoras do país, o cafeicultor brasileiro já comprometeu 25% da safra 2011, ligeiramente abaixo de igual período do ano passado, quando os produtores haviam negociado 28% da safra. "Quem fechou negócio a termo em 2010 não perdeu, apenas deixou de ganhar com a venda do seu produto"
Veículo: DCI