É melhor unir do que remediar

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Droga Raia e Drogasil querem se unir para enfrentar os concorrentes nacionais agora e os estrangeiros daqui a pouco

Os empresários Carlos Pires de Oliveira Dias e Antonio Carlos Pipponzi têm estilos de administração bastante distintos. Dias gosta de descentralizar decisões, delega e cobra resultados. Pipponzi prefere saber de todos os detalhes e seria dele a última palavra antes de qualquer movimento estratégico. Mas essas diferenças não foram fortes o suficiente para impedir que Oliveira Dias e Pipponzi sentassem à mesma mesa durante os três últimos meses para negociar a fusão da Drogasil, comandada por Oliveira Dias, com a Droga Raia, liderada por Pipponzi. O casamento aparentemente improvável das duas gigantes nacionais do varejo de medicamento, higiene e beleza foi anunciado na terça-feira 26. Juntas, elas formarão uma companhia com receita estimada em R$ 4 bilhões e participação de 9,5% de mercado, um gigante que ocupará a liderança do setor no País.

O principal motivo que as fez superar eventuais divergências e unir esforços atende pelo nome de Boots Company, rede de 3,2 mil farmácias espalhadas por 25 países e receita de R$ 6 bilhões. Segundo fontes que acompanham a negociação, há pelo menos dois anos a companhia britânica sonda o mercado brasileiro,  interessada em fincar sua bandeira por aqui. Nos últimos meses, mais precisamente no início deste ano, essa sondagem teria se intensificado e a chegada da Boots ao Brasil seria questão de tempo. Pouco tempo, diz um executivo do varejo de medicamentos, ouvido pela DINHEIRO. Outro executivo da indústria farmacêutica afirma que a Boots quer se associar a um distribuidor para testar o mercado. “O negócio só não saiu do papel, ainda, por conta da excessiva regulamentação do mercado de medicamentos no Brasil”, afirma a fonte. A união de Droga Raia e Drogasil é apenas mais um sinal das mudanças que começam a redesenhar o perfil do varejo de medicamentos, higiene e beleza no País.
 
O primeiro veio com o aperto do cerco à sonegação. “Esse mercado tem dois players: as redes regionais e o pequeno varejo”, afirma Iago Whately, analista da corretora Fator. Com o regime de substituição tributária – em que a tributação acontece na indústria – e com a adoção da nota fiscal eletrônica em vários Estados, quem se mantinha no mercado à custa de sonegação fechou as portas e abriu espaço para marcas como Drogaria Pacheco, do Rio de Janeiro, ou Pague Menos, do Ceará, migrarem para outras regiões. As fusões, como a anunciada pela Raia e Drogasil, é outro sinal de que os movimentos de consolidação serão intensos nesse segmento que, ao contrário do varejo de alimentos, é muito menos concentrado. “Somadas as receitas das grandes do setor, como Drogasil, Droga Raia, Pague Menos e Pacheco, não representam 25% do seguimento”, diz Whately. “Em número de lojas, então, a participação é bem menor, na casa dos 5%.”
 
A empresa que surgirá do casamento entre Droga Raia e Drogasil terá a liderança do setor, mas não será uma liderança folgada. Depois de comprar as 72 lojas da rede Drogão, em junho de 2010, a Drogaria São Paulo retomou a dianteira do setor com 342 lojas e receita de
R$ 2,2 bilhões. Outra aquisição que surpreendeu o mercado foi anunciada poucos meses depois. A Brazil Pharma, holding do banco BTG Pactual, comprou a rede Rosário Distrital, principal marca do Centro-Oeste. O braço do BTC no varejo farmacêutico encerrou o ano com mais de 500 lojas e marcas como Farmais e Farmácia dos Pobres. Não sem razão, embora tenha muito chão a percorrer, esse movimento de consolidação é algo que começa a preocupar os laboratórios. “Concentrar poder de negociação nas mãos de poucos é preocupante em qualquer mercado, em qualquer país”, diz o dirigente de uma entidade da indústria. Nem todo mundo concorda com essa avaliação.
 
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 “Dizer que haverá menos competição é uma análise imediata e simplista”, afirma Whately.  Hoje, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), há 65 mil farmácias no Brasil. Desse total, 3,5 mil unidades pertencem a 28 empresas, que detêm cerca de 30% do mercado. “Não dá para falar em concentração”, diz Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma. Depois de fechada, a fusão entre Drogasil e Droga Raia precisará ser submetida aos órgãos de defesa da concorrência. De qualquer forma, a expectativa do mercado é saber qual dos dois modelos prevalecerá, pois não é só no estilo de administrar dos comandantes em que as duas empresas diferem. Enquanto a Drogasil tem um perfil mais popular – tanto no layout das lojas quanto no mix de produtos – a Droga Raia está mais voltada ao público de maior poder aquisitivo. Tanto a Droga Raia quanto a Drogasil foram procuradas, mas não quiseram se manifestar. Já a britânica Boots não retornou o pedido de entrevista.

Veiculo: Isto É Dinheiro

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