Comida saudável muda tendências

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A alimentação é um fato social total, mobiliza as esferas políticas, ideológicas, sociais, culturais e ambientais, e confere uma identidade social e um estilo de vida. O conceito sintetiza a apresentação da diretora de pesquisa do Centro de Altos Estudos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (CAEPM), Lívia Barbosa, uma das palestrantes do 8º Congresso Brasileiro de Marketing Rural, realizado na semana passada pela Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio (ABMR&A).

A pesquisadora falou sobre as tendências da alimentação contemporânea e destacou alguns cenários que a enaltecem. Nos últimos dez anos, comentou, foram produzidos cerca de 50 filmes dando visibilidade à alimentação. O assunto também foi destaque em cidades da Itália e Estados Unidos, com proibição da instalação de redes de fast food, para preservar hábitos regionais ou diminuir a obesidade da população. Há, acrescentou, movimentos atentos às questões éticas relacionadas à criação de animais confinados.
 
"Qualquer tema, hoje, tem um vínculo com a alimentação e nós estamos caminhando nessa direção. Questões como essas afetam os produtores e consumidores brasileiros", comentou Lívia. No Brasil, exemplificou, o assunto ganha visibilidade, por exemplo, com a merenda escolar verde-amarela e a realização de aproximados 20 eventos semanais sobre alimentação.

O papel do Estado com relação ao tema também mudou, de atitude reativa (para verificar, por exemplo, se os alimentos estavam contaminados) para proativa, com regulações e implementação de políticas públicas, que tendem a crescer, segundo ela.
 
Tendências

A busca pela saúde e o bem-estar foram destacados pela pesquisadora entre as principais tendências da alimentação contemporânea. O consumidor observa, na "ideologia da saúde", além do lado funcional (nutrientes), que aproxima a fronteira entre alimento e remédio, o aspecto holístico, que inclui o alimento na cadeia produtiva e conecta o indivíduo com as condições em que aquela comida foi feita. "É o comer reflexivo", conceituou Lívia. Hoje ganham destaque, em todo o contexto, os produtos orgânicos.

No Brasil, segundo ela, existem "consumidores ideológicos", que se alimentam visando a saudabilidade, para os quais comer é um estilo de vida. Mas eles são minoria. "O brasileiro ainda é pouco motivado, na prática, pelas questões éticas na hora do consumo. Ele muda de atitude motivado pelo preço", afirmou a pesquisadora. Mas o questionamento sobre a origem dos produtos, no entanto, também é apontado por ela como uma tendência.
 
A diretora da CAEPM lembrou que na Alemanha, 80% da alimentação para bebês é orgânica. Ainda que não seja possível dizer que o Brasil chegará nesse ponto, a estudiosa disse que 4% dos jovens brasileiros entre 15 e 20 anos são vegetarianos – percentual maior que o registrado em muitos países desenvolvidos, comparou.

Livia contou que em estudo da ESPM, em parceria com a Toledo & Associados, 70% dos entrevistados declararam praticar a alimentação saudável, mas pecam por ingerir muito sal e poucos legumes e verduras. O brasileiro também quer resgatar o prazer de comer e o resgate das tradições locais. É nesse contexto, exemplificou, que o café da manhã passou de uma atividade solitária no cotidiano das pessoas para uma verdadeira festa aos sábados e domingos; e que os chefs de cozinha fazem releituras de um conjunto de tradições.

"A gastronomização da alimentação é outra das tendências", aponta a pesquisadora.

O reposicionamento da cozinha – não como parte da casa, mas tendo a casa em torno dela, "em todas as classes sociais", dá a esse espaço um status de área de lazer: a cozinha passa a ser vista como hobby e como estilo de vida. "As tendências se reforçam mutuamente", definiu Lívia.

Veículo: Diário do Comércio - SP

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