A criação da Raia Drogasil, anunciada na terça-feira, levará os controladores da varejista a fazer ajustes na operação das redes. Não é uma fusão de negócios em situações opostas, mas também não chega a ser uma associação entre iguais em relação a alguns indicadores de desempenho.
Os executivos da nova companhia comentaram a questão ontem com analistas, que questionaram os ganhos de sinergia e as adequações necessárias a curto prazo. A Drogasil tem 57% do capital da empresa recém-criada e a Raia, 43%. O processo de integração dos negócios pode durar de um a dois anos, segundo as redes.
Devem ser tomadas medidas para ampliar a rentabilidade dos negócios da Raia, por meio da adoção de práticas que já existem na Drogasil, com margem Ebitda mais alta que na sócia. Além disso, ambas investem de forma acelerada e crescem rapidamente há anos, mas a relação entre receita bruta e despesas gerais, com vendas e administrativas é maior na Raia.
"Um dos nossos primeiros targets é fazer a nova empresa alcançar a rentabilidade da Drogasil, que esteve numa condição diferente de caixa da Raia", disse Cláudio Roberto Ely, presidente da Raia Drogasil. Enquanto na Raia a margem Ebitda foi de 4,1% em 2010 (cresceu 0,5 ponto no ano) e a relação lucro líquido e receita alcançou 0,1% nos dois últimos anos, na Drogasil a margem atingiu 6,9% e a relação lucro e receita sobe ano a ano e ficou em 4,3% em 2010.
Segundo relatório da Raymond James, "o negócio terá um efeito transformador para o varejo de farmácias no Brasil", sendo a primeira grande fusão desse segmento, e deve influenciar futuras aquisiçôes e fusões no setor. "Drogasil e Raia devem entregar o crescimento esperado, enquanto Raia tende a atingir margens semelhantes às nossas estimativas para a Drogasil, que apresenta hoje um melhor desempenho operacional."
Certas práticas relacionadas ao modelo comercial também devem ser alteradas nas duas companhias, na visão de especialistas em varejo. Enquanto a Raia tem trabalhado com grandes distribuidores de medicamentos, a Drogasil opera diretamente com os fornecedores, conforme comentários de analistas. "Não posso contar o que vamos fazer a respeito disso. Essas questões são estratégicas", diz Ely.
Já está definido que as bandeiras das redes permanecem em operação, visto que elas registram baixa sobreposição geográfica - no máximo 20% em bairros de grandes capitais -, e haverá uma estratégia de fortalecimento das marcas em públicos diferentes. Assim, se mantêm os patamares de venda por metro quadrado.
Ainda será estudado, quando a integração tiver avançado, a entrada da Raia Drogasil em novos Estados - inclusive por meio da aquisição de novas redes, afirmaram os executivos. A Raia Drogasil é dona de 8,3% do mercado. "Temos uma chance de ouro para criar dois negócios fortes em mercados não concorrentes e em crescimento", afirmou Antônio Carlos Pipponzi, presidente do conselho de administração da Raia Drogasil.
Em relatório, analistas do Credit Suisse dizem acreditar que há espaço para o fortalecimento da Drogasil como rede mais popular, enquanto a Raia seria focada num segmento mais premium. Pelos cálculos do BTG, segundo critério de menos de um quilômetro de distância, a sobreposição de pontos pode alcançar 130 unidades - algo que a empresa informa não ter calculado ainda.
Também não foram calculados os ganhos de sinergia. "O que posso dizer é que se formos fechar lojas, será algo seletivo e apenas se o ponto fechado transferir faturamento para a loja mais próxima", disse Eugênio De Zagottis, diretor de relações com investidores.
Pelo acordo, houve a incorporação da Raia pela Drogasil e cada ação da Raia será trocada por 2,29 papéis da Drogasil. Há uma pequena diferença entre o preço de fechamento das ações da Raia na terça (R$ 27,5) e o preço resultante de quase 2,3 ações da Drogasil (R$ 28,2), que implica um pequeno prêmio de 2% a favor da Raia.
Veículo: Valor Econômico