Mais do que dobrou o número de empresas investigadas por cartel de telas de LCD. Eram apenas seis envolvidas, em 2008, quando o processo teve início. Na semana passada, esse número subiu para 14. Uma das empresas que, antes participava das chamadas "reuniões de cristal" para definir os preços, decidiu entregar as outras.
A estimativa é que os painéis representam entre 60% e 70% do custo total de uma TV. No caso de monitores de computador e notebooks, os percentuais são menores, mas também representam acréscimos no preço final.
O cartel atuou em vários países entre 2001e 2006, período que coincide com a alta nos preços de TVs de LCD no Brasil. O déficit na balança comercial com relação a esses produtos chegou a R$ 1,5 bilhão por ano, até 2009.
O nome da empresa dedo-duro é mantido sob sigilo pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça. Essa empresa tem razões financeiras para entregar as companhias com que teria feito acordos para manter o cartel.
Nas investigações feitas no exterior, a Samsung foi a delatora e teve redução de pena. Outras companhias pagaram multas pesadas. A LG pagou US$ 400 milhões ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos. A Sharp concordou em cooperar com as investigações, mas pagou US$ 120 milhões. A Chungwa fez acordo para pagar US$ 65 milhões. A Hitachi, US$ 31 milhões, e a Epson, US$ 26 milhões. Também nos EUA, empresas que teriam sido vítimas do cartel, como Motorola, ATT e Nokia, pedem indenização na Justiça contra as fabricantes de telas de LCD.
No Brasil, as investigações começaram em 2008, após os EUA tornarem públicas as penas de cartel. As investigações transcorreram sob sigilo por um ano até a abertura de processo contra seis companhias, em dezembro de 2009. As companhias que foram investigadas de início são: Chungwa Picture Tubes, Hitachi Displays, LG Display, Samsung Electronics Corporation, Sharp Corporation e Epson Imaging Devices Corporation.
Na semana passada, o número de réus cresceu devido a novas denúncias feitas por uma empresa delatora. Com isso, também respondem ao processo: LG Electronics Taiwan Taipei, LG Electronics, Samsung Electronics Taiwan e Sharp Corporation, AU Optionics Corporation, Hannstar Display, Havix Corporation; e Quanta Display.
As "reuniões de cristal", em que teriam sido fixados os preços dos painéis das telas, foram realizadas nos Estados Unidos, Taiwan e na Coréia do Sul.
Caso sejam condenadas no Brasil, as empresas podem sofrer penas que variam entre 1% e 30% de seus respectivos faturamentos.
Além das empresas, a SDE também investiga 125 pessoas que teriam atuado no cartel. No caso das pessoas físicas, a pena é de multa ou prisão de dois a cinco anos em regime de reclusão.
Na semana passada, a SDE concedeu 15 dias para as empresas apresentarem defesa e tornou o processo confidencial.
Procurada pelo Valor, a Samsung informou que "irá cooperar com as autoridades para esclarecer que não violou a legislação brasileira e permanece comprometida com sua política de respeito às leis vigentes no país." As demais empresas investigadas não retornaram a ligação ou seus escritórios não foram localizados.
Guerra de preços tira competidores do mercado
Cinco marcas de TVs de LCD e LED deixaram de ser vendidas no mercado brasileiro nos últimos seis meses. Eram 17 fabricantes em dezembro e 12 em junho, segundo levantamento da GfK. A consultoria não informa o nome das empresas, nem a participação delas no mercado, mas sabe-se que quatro grandes marcas (Samsung, LG, Sony e Philips) concentram 75% das vendas no Brasil. Sinal de que foram os pequenos competidores que deixaram de vender.
"A guerra de preços tem sido tão intensa que nem todos os 'players' conseguem se manter na disputa", diz Gisela Pougy, diretora da GfK. Para um fabricante do setor, a entrada dos chineses na briga, com marcas mais baratas, popularizou o segmento: "Os maiores competidores estão em uma briga suicida, têm prejuízo na venda de televisores, mas procuram compensar com outros produtos".
O preço dos televisores de LCD (cristal líquido) e LED (sigla em inglês para diodo emissor de luz) despencou no mundo e no Brasil: no país, só no primeiro semestre, o preço caiu 20,2%, envolvendo a venda de aparelhos das duas tecnologias. Em 2010, a diminuição de preços havia sido de 13,4% em relação ao ano anterior. No primeiro semestre do ano, a tecnologia de ponta, a LED, foi a que puxou a retração: queda de 45,3%, em relação ao mesmo período de 2010. Uma TV de LED de 23 polegadas é encontrada a R$ 999. Um modelo de 40 polegadas é oferecido a R$ 2 mil. Valores impensáveis em 2005, quando LG e Samsung introduziram a tela plana no país.
"O preço ainda não terminou de cair", diz Gisela. "Nem mesmo nos países em que a tecnologia foi desenvolvida, como Japão". No primeiro semestre, o mercado de televisores registrou vendas de 4,8 milhões de unidades, movimentando R$ 7 bilhões. A venda das TVs de LED, em unidades, representou 27% do mercado total de televisores. A tecnologia LCD domina, com 50% de participação. O modelo de plasma já ficou ultrapassado e responde hoje por apenas 3% das vendas. Mas o tubo sobrevive, com 20% da demanda, em unidades.
Veículo: Valor Econômico