O Casino enviou na sexta-feira passada uma carta ao Grupo Pão de Açúcar solicitando esclarecimentos a respeito de declarações dadas pelo presidente do conselho de administração do GPA, Abilio Diniz, em evento em São Paulo, na quinta-feira. Na ocasião, Diniz fez comentários sobre o seu projeto mal-sucedido de fusão com o Carrefour e de seu relacionamento com Jean-Charles Naouri, presidente do Casino.
O Grupo Pão de Açúcar preparou ao sócio uma resposta concisa, informando que não tem nada a declarar sobre o assunto, assim como não tem informações de qualquer movimentação envolvendo a companhia. O Casino pede ainda ao grupo que Diniz, que havia sido copiado na carta enviada por e-mail, seja informado da questão. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) recebeu cópia do material.
O francês Casino tem 48,1% do capital total do GPA (incluindo a fatia da Rallye, controladora do Casino). As partes são sócias desde 1999 e segundo acordo assinado pelas empresas seis anos atrás, o Casino se tornará acionista controlador do GPA em junho de 2012. Pelo acordo, Diniz tem o direito de se manter na presidência do conselho de administração da rede.
Na manhã da última quinta-feira, em participação no painel "Lições do topo", em evento no Instituto Endeavor, Diniz fez alguns comentários sobre o plano de fusão do GPA com o Carrefour defendido por ele e rejeitado pelo Casino. "Como todos sabem, a coisa não foi para frente. Era um grande plano? Era sensacional. Pode ser ainda? Talvez possa. E acredito nele porque é um projeto com cabeça, tronco e membros", disse o empresário. O Casino não gostou do que Diniz disse. Para a rede francesa, esse é um "assunto morto".
No mesmo dia, surgiram informações no mercado de que, na semana anterior, no dia 21 de outubro, Diniz e Naouri se encontraram em reunião a portas fechadas, na França - só os dois. Isso levou o mercado a fazer uma série de especulações a respeito do teor da conversa.
Não foi discutido, nesse encontro de cerca de 45 minutos, questões relacionadas ao projeto de Abilio Diniz com o Carrefour ou detalhes do acordo de acionistas entre as partes, assinado em 2005, apurou o Valor. Abilio Diniz pediu que os próximos encontros entre eles fossem feitos sem intermediários.
Diniz pediu para conversar com Naouri, na tentativa de uma reaproximação amigável. As versões sobre o encontro de Diniz e Naouri não coincidem. Pessoas próximas a Naouri dizem que foi um encontro "protocolar", enquanto fontes ligadas a Diniz entendem que o contato foi "amistoso". "Chegou-se muito perto do que eles tinham antes", afirma uma fonte ligada ao empresário brasileiro.
O Valor apurou que Diniz ainda procura uma reconciliação com o sócio. O empresário quer recuperar as mesmas bases de entendimento que existiam no passado. E Diniz ressaltou essa questão ao sócio francês na conversa ocorrida em outubro. Fontes próximas a a Abilio Diniz contam que, na sua visão, a iniciativa da carta do Cassino recebida ontem foi "deselegante e desnecessária". Apesar disso, Diniz entende que é necessário trabalhar para uma reaproximação com o sócio para que consigam debater juntos o futuro do grupo.
Veículo: Valor Econômico