Responsável pelo primeiro shopping center de Curitiba, no Paraná, o Grupo Soifer está investindo R$ 280 milhões - recursos próprios - em seu novo empreendimento, o Pátio Batel, cuja área de convivência terá destaque em relação à Área Bruta Locável (ABL), onde se instalam os comerciantes. Se no imóvel de estreia do grupo, o Shopping Mueller (de 1983), o espaço para lojistas equivale a 39,2% da área construída, no novo empreendimento essa proporção será de 26,9%. Em 110,3 mil metros quadrados de construção, 29,7 mil metros quadrados serão destinados à instalação de 200 unidades de loja.
A ideia por trás da redução da ABL, segundo informou ao DCI o fundador do grupo, Salomão Soifer, é valorizar o espaço em que as pessoas podem passear mesmo que elas não façam compras. Isso inclui as atividades de lazer e cultura que a companhia pretende promover no Pátio Batel, que será inaugurado em breve. "Nós sacrificamos áreas que dariam lucro para que as pessoas venham ao shopping center como se fosse um museu", disse Soifer.
"As pessoas vão ficando cada vez mais sofisticadas, nós estamos nos propondo a ter um diferencial."
O empresário contou que há outros três concorrentes na área de influência do novo centro de compras. "O consumidor poderia optar por A, B ou C. Se esse shopping center não tivesse as características que propusemos, não seria viável", afirmou. O diferencial, contudo, pode dificultar a conquista de locatários. "Os lojistas estão cada vez mais exigentes em sua análise para a escolha do ponto que alugarão, em função da oferta. Muitos ainda não compraram nossa ideia, não querem pagar mais caro porque há menos ABL e mais comodidade", disse Soifer.
Além grife de vestuário Louis Vuitton, outra marca de peso, a Zara, figura entre as empresas que já fecharam negócio com o grupo, e terá quatro unidades de loja, segundo o empresário. Na sua visão, as grifes internacionais são cautelosas: ao contrário das companhias brasileiras, que geralmente confiam nos empreendimentos, as gringas fazem estudos de mercado aprofundados antes de se fixar. Outra marca garantida para o Pátio Batel é a mexicana Cinépolis, de salas de cinema, que entra para o rol de atrações do centro de compras. A busca de Soifer é por empresas que possam "engalanar" (ou seja, adornar) o shopping center.
Tendo isso em vista, uma das propostas é marcar reuniões com lojistas para capacitá-los de acordo com os ideais do negócio. Para isso, o grupo mantém contato com profissionais que lhe dão assistência na forma de consultoria - sobre comportamento, consumo e outras áreas.
A área de alimentação do empreendimento será dividida em várias partes, quebrando a tradição da praça. Num lugar destinado à classe A, com presença esperada da B, Soifer tomará cuidado para que o ambiente não seja estigmatizado como caro e inacessível. "Haverá ainda o McDonald's", disse ele.
Origem e tendências
Salomão Soifer, 77, garante que inaugurou o primeiro shopping center de Curitiba e o 19º do Brasil, o Mueller, em 1983. "Chamei arquitetos e construtores e disse: 'Corram para os outros 18 [centros de compra então existentes no País] e vejam os acertos e erros deles", contou o empresário, explicando como idealizou o empreendimento, com base em toda a experiência que o setor tinha em território nacional.
Apaixonado por shopping centers, Soifer os vê como "templos de consumo". "Mesmo quando há ameaças, como no caso do Center Norte [em São Paulo, que está construído sobre um bolsão de gás metano], as pessoas continuam frequentando." Os segredos, segundo Soifer, são a segurança e a comodidade que os centros de compra oferecem.
Com 28 anos de experiência no setor, o executivo atesta a tendência de que os shopping centers, por terem saturado as capitais brasileiras, começam a penetrar o interior dos estados. "Já esgotamos aquilo que era possível nas cidades grandes, chegamos ao máximo". Na Região Sul do País, Curitiba, Joinville e Florianópolis, por exemplo, já não podem comportar novos centros de compra, na visão de Soifer. Mas e quanto ao Pátio Batel, um megaempreendimento na capital paranaense? "É o último shopping possível nos próximos dez anos", ele afirmou. "Outras empresas estavam buscando terreno [na cidade], mas acho que desistiram."
A companhia
O grupo Soifer faturou R$ 510 milhões no ano passado e não atua exclusivamente no setor de shoppings. Também tem negócios em logística, turismo, tratamento de resíduos e criação de cavalos. A empresa tem planos de abrir um hotel em Fernando de Noronha (PE). Seu líder, Salomão, começou a trabalhar como carregador de malas, estudou Direito e Administração e virou pequeno empresário antes de erguer centros de compras no Paraná.
Veículo: DCI