Indústrias de café enfrentam preço elevado e oferta reduzida

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Custo de produção subiu sete vezes em 15 anos; estoque atual equivale a 20% do consumo


As indústrias de café, que tiveram bom desenvolvimento nos últimos anos, poderão passar por um período mais difícil a partir de agora.

Os preços da matéria-prima estão elevados, a economia mundial se desacelera e as indústrias são obrigadas a reajustar as tabelas de preço da bebida exatamente no momento em que os consumidores perdem renda, principalmente nos países mais ricos.
A entrada do café ainda é crescente nos países emergentes, mas o consumo em alguns desses mercados ainda está amadurecendo e não há garantia imediata de evolução.
O cenário não é bom, pelo menos a curto prazo, mas Andrea Illy, presidente da italiana Illycaffè, uma das principais marcas no mundo, está confiante. Illy esteve no Brasil para a abertura da primeira loja da empresa no país.

Ele admite que a atual crise financeira que afeta a Europa pode dificultar a evolução do consumo a curto prazo. Outra grande mola propulsora da evolução do consumo mundial nos últimos anos, o Brasil, já atingiu os patamares de consumo da Itália e da França -cinco quilos per capita- e agora poderá ter um ritmo menos acelerado de crescimento.
Illy tem consciência, no entanto, de que é o momento de manter a qualidade do produto, mesmo tendo de pagar mais pela matéria-prima. Isso obrigou a empresa a reajustar em 10% sua tabela de preços.

SEM OUTRO VIETNÃ

A empresa busca um reposicionamento da marca mantendo "a paixão pela excelência", diz ele. Importa café do tipo arábica de 14 países e mantém apenas um "blend" nos nove produtos que coloca no mercado. No Brasil, busca um parceiro para ampliar sua atuação.

Ele está consciente de que os preços do café, elevados no campo devido à demanda e aos baixos estoques, não têm data para ceder. Na avaliação do presidente da Illy, o produto deve ser negociado entre US$ 1,80 e US$ 2 por libra-peso (453 gramas) a partir do início do próximo ano.

Os estoques mundiais de café estão baixos e, mesmo após a reposição, os preços não devem ceder muito. Os custos dos produtores aumentaram pelo menos sete vezes nos últimos 15 anos.

Esses custos elevados vão impedir, aliás, um grande avanço da produção em áreas novas, o que deveria ocorrer devido aos bons preços do produto no momento. "Não teremos outro Vietnã", país que teve aceleração muito grande de produção em poucos anos, assumindo o posto de segundo maior produtor no mundo, abaixo apenas do Brasil, diz Illy.

O aumento de oferta de café deverá vir da elevação da produtividade, o que já está ocorrendo. Nos últimos 15 anos, a produção cresceu quase 50% graças à produtividade, diz ele.

CONSUMO MAIOR

Os estoques mundiais estão baixos, inferiores a 20% do consumo, que é de 135 milhões de sacas por ano.
Em 2012, com a safra melhor do Brasil, poderá haver ampliação de 10 milhões de sacas nos estoques, "mas antes de 2014 não se chegará a um patamar objetivo de 40 milhões a 45 milhões de sacas", diz.

Com isso, os preços médios ficarão altos, conclui.

Apesar desse cenário desconfortável de preços e demanda atual nos países ricos, Illy acredita em boa evolução do consumo de café no médio prazo. China e Índia adquirem cada vez mais hábitos ocidentais, inclusive o de tomar café. Em uma geração, a China será um dos principais consumidores mundiais de café, segundo Illy.

Acreditando nisso, a Illy acaba de adquirir participação de um sócio em uma empresa que tinha na China e incrementa o desenvolvimento da marca naquele país.
O presidente da Illy acredita que a demanda de café deverá aumentar pelo menos 30 milhões de sacas nos próximos dez anos.

Nos anos 1990, o consumo cresceu à média anual de 1,7%, subindo para 2,5% nos anos 2000. Nesta década, poderá ficar um pouco acima de 2%, se confirmado esse volume estimado por Illy.


Veículo: Folha de S.Paulo


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