Se os investidores não estivessem tão reticentes, a Pague Menos registraria amanhã o seu pedido de oferta pública inicial. Mas, a contragosto do seu fundador, o cearense Francisco Deusmar de Queirós, a estreia da rede de farmácias na bolsa não deve ocorrer antes de abril do ano que vem.
"Estamos há cinco anos nos preparando para isso. Mas o capital estrangeiro, que é quem sustenta as ofertas iniciais no Brasil, está bloqueado", diz Deusmar. A Pague Menos recebeu na semana passada o registro de companhia aberta concedido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Em um segmento que passa por uma fase de consolidação - com a Raia se unindo à Drogasil e a São Paulo à Pacheco - Deusmar não tem a mínima intenção de se posicionar diante da concorrência via aquisições. "Antes só do que mal acompanhado", diz.
Hoje a Pague Menos conta com 465 lojas e planeja atingir 480 até dezembro. Para não sucumbir à concorrência entre gigantes, vai contar apenas com seus números vigorosos e modelo de negócio com margens mais folgadas.
O faturamento total nos seis primeiros meses deste ano ficou em quase R$ 1,3 bilhão, à frente das principais concorrentes listadas, Raia e Drogasil. O lucro líquido foi de R$ 47 milhões, segundo o balanço enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A margem operacional (antes dos impostos e das despesas com juros) ficou em 7,4%, enquanto Raia, Drogasil apresentaram 3,5% e 4,2%, respectivamente, no mesmo período.
"Enquanto as novas fusões não se consolidarem, podemos continuar dizendo que somos a maior empresa de farmácias do Brasil em faturamento e número de lojas", diz.
Sem informar quanto pretende levantar com a oferta, coordenada pelo Itaú, Deusmar adianta que quer atingir apenas a parcela mínima de ações em circulação no mercado (25%) para conseguir entrar no Novo Mercado. "Não precisa mais do que isso."
O plano do empresário é fazer uma oferta mista: metade primária - com destinação de recursos para a empresa -e a outra metade secundária - com recursos destinados aos acionistas que quiserem reduzir ou vender sua participação.
A família de Deusmar detém 100% da Pague Menos. O fundador, sozinho, tem cerca de 70%. "Tive que dar um pedaço para os meus filhos para eles não ficaram rezando para que eu morra logo", dispara o empresário, que não é do tipo que esconde o jogo.
Sobre o que pretende fazer com o dinheiro da venda de parte do seu patrimônio, ele fala, sem rodeios: "Comprar iate, avião, algumas mordomias mesmo. E imóveis, claro".
Já os recursos da oferta primária, segundo ele, serão investidos no crescimento orgânico da companhia, que encerrou o primeiro semestre com dívida líquida de R$ 242 milhões.
Se a oferta demorar mais do que o previsto para emplacar, Deusmar garante que não vai faltar dinheiro para sustentar seus planos de expansão. Se necessário, diz que faz empréstimo com lastro em recebíveis. Ao fim de junho, a companhia tinha R$ 169,3 milhões em contas a receber.
Como principal executivo da Pague Menos desde a sua fundação, 30 anos atrás, Deusmar também é o presidente do conselho de administração. "Essa empresa é uma democracia, mas também é uma ditadura", brinca.
Aos 64 anos, ele pretende acumular os dois cargos até quando expirar a tolerância de três anos da BM&FBovespa para adaptação de companhias listadas em algum dos níveis de governança. "Fico só no conselho e deixo a presidência-executiva para um dos meus filhos." Mais por obrigação do que por vontade própria, assume.
Veículo: Valor Econômico