Amizade e interesses econômicos entre os diretores das duas redes de farmácia foram fundamentais para a unificação das operações, conta o atual presidente
Como numa reação química que depois de iniciada muda as características do ambiente, a aproximação das redes de farmácias Panitz e Velgos deu início, nos anos 1960, a uma série de inovações que mudaram as bases do comércio gaúcho no setor de perfumaria e medicamentos. Como lembra o diretor-presidente do grupo Dimed Panvel, Julio Mottin, tudo teve início com a criação de uma central de compras em 1967.
“Sempre achamos que uma fusão seria importante para a central de compras, que veio a se desenhar com a distribuidora de medicamentos Dimed. Ela foi criada para atender as duas redes como central de compras e, ao mesmo tempo, operar para terceiros. Foi basicamente o primeiro atacado de A a Z a atuar no Brasil. Antes, os distribuidores vendiam por laboratório e nós transformamos o mercado, vendendo produtos de todos os laboratórios”, afirmou.
A relação entre as redes estava baseada, sobretudo, na amizade de seus diretores. Mottin, que ocupava o posto de diretor comercial do grupo criado em 1967, atribui a fusão ao trabalho feito por Sérgio Pizzato, na rede Panitz, e por Wolfgang Weber, na Velgos. Dois anos depois, em 1969, as redes estreitaram laços ao unir os laboratórios. A marca Laboratório Lifar, que até então estava ligada apenas à Panitz, foi estendida aos produtos feitos pela Velgos através do Laboratório Sanitas.
A união das indústrias (laboratórios) e a consolidação da rede de compras e distribuição estabeleceram as bases necessárias para unir o varejo. A ideia foi amadurecida até 1973 e passou por mais três anos de transição, quando as lojas operavam com as duas marcas - Panitz e Velgos.
“A unificação não foi fácil, um funcionário dizia que era empregado da Velgos e outro dizia que era da Panitz. Passados três anos, foi unificada a marca. O logotipo Panvel foi criado pela agência Martins Andrade e é usado até hoje. Três anos depois da fusão, as coisas começaram a ser reconhecidas. Mas toda a fusão é extremamente problemática, pois a pessoa inserida na empresa que passa por esse processo entende o trabalho como um pedaço dela e resiste à ideia de colocar outra empresa junto”, recorda Mottin.
O atual presidente lembra o cuidado com que se mexeu no layout das lojas, para manter semelhança visual com o que era feito anteriormente pelas redes. Naquele momento, os modelos de ponto de venda estavam divididos por tamanho - algo que atualmente é feito pelo perfil de oferta: express, promocional e saúde e beleza.
Toda a operação foi realizada com recursos de terceiros, uma experiência que definiu as bases para a expansão seguidas até hoje. Desde a experiência da fusão, a Panvel tem por princípio expandir com recursos próprios e operar sempre com uma única instituição financeira. A política ficou ainda mais acentuada há cerca de quatro anos, quando o grupo extinguiu as franquias, dada a complexidade de franquear um negócio que envolve 12 mil produtos.
“Agora, a única coisa que temos feito com participação de terceiros é a construção dos imóveis. Escolhemos o ponto, um investidor constrói de acordo com o projeto que estabelecemos, e alugamos o ponto”, detalhou Mottin. Ele revela que atualmente a estratégia de expansão física da Panvel está voltada para os três estados do Sul. Hoje são 4,2 mil colaboradores e quatro centros de distribuição (Porto Alegre, Florianópolis, Passo Fundo e Maringá). A previsão é concluir o ano com 290 lojas e faturamento de R$ 1,5 bilhão.
Marca própria turbina as vendas online
Lançada em 1998, a venda online atinge principalmente (cerca da 60%) clientes de regiões onde a rede não tem presença física, ou seja, é para estados fora da região Sul do Brasil. O carro- chefe das vendas pela internet, afirma Julio Mottin, são os cosméticos da marca Panvel. Produtos que representam, também, um case de sucesso no varejo tradicional desde o lançamento do primeiro produto marca própria, a fralda descartável Panvel.
Apresentada ao mercado em 1989, a fralda era fabricada por um fornecedor uruguaio. “Estamos sempre muito atentos ao que acontece no mundo. Na década de 1980 víamos o êxito que tinham os produtos marca própria nas drugstores americanas e decidimos fazer um teste, começando por um nicho muito polarizado. Existiam no mercado, naquela época, duas marcas de fraldas descartáveis e conquistamos uma bela fatia com a nossa”, disse Mottin.
À fralda descartável seguiram-se absorventes (também produzidos no Uruguai) e uma série de produtos oficinais como mercúrio e mertiolato, feitos pelo laboratório Lifar. É no laboratório do grupo que se desenvolve e produz também toda a linha de cosméticos, que passou a ganhar submarcas em 2006, com o lançamento da Vert. “Estamos acompanhando com muita criatividade esse segmento, que é um dos que mais cresce no mundo. Ao todo, temos quase 500 produtos marca própria”, afirma o presidente.
Veículo: Jornal do Comércio - RS