A cafeicultura mineira espera que o preço do grão possa manter uma certa estabilidade no mercado de agora em diante em função dos baixos estoques. Mas o setor ainda se mantém apreensivo com a possível redução no consumo em função da crise internacional. A advertência é do professor de Economia e Mercado Futuro da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Luiz Gonzaga de Castro Júnior, que afirmou que muitos produtores estão segurando o grão na expectativa de conseguir preços melhores.
Segundo Castro Júnior, em algumas regiões do Estado os preços praticados no mercado apenas cobrem os custos enquanto que em outras estão provocando prejuízos para os produtores. "No mercado físico o preço sofreu alguma queda, que seguiu o mesmo cenário do mercado futuro. Em abril deste ano a saca chegou a US$ 200 e no mês anterior caiu até US$ 120 enquanto que no mercado interno o preço médio está entre R$ 250 e R$ 255 ante os R$ 260 de abril", comparou.
Os cafeicultores prejudicados com as chuvas de granizo que atingiram as lavouras não terão muita saída mas as perdas foram uma questão pontual. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mantém as perspectivas da colheita em 45 milhões de sacas no país. "O impacto mesmo poderá ocorrer na próxima safra em função do atraso na colheita que pode ter danificado a florada dos próximos grãos", afirmou.
Além desse problema, uma reclamação do segmento é que o tamanho do grão está menor, demandando por maior volume para preencher uma saca do grão, reduzindo assim a receita do produtor, apontou. "Devido à bianualidade, a próxima safra será menor e o cenário não foge muito do padrão dos últimos anos, a não ser pela crise internacional que está afetando o crédito", observou o professor.
De acordo com Castro Júnior, o que está ocorrendo no momento é um ajuste conjuntural, com o produtor podendo reduzir o trato cultural nas lavouras, mas não deve ser descartado algum ajuste até o final do ano. "Um problema que sempre existiu na agricultura nacional é a falha no gerenciamento agrícola, que, muitas vezes, incrementa o potencial de perdas do produtor", salientou.
Falta de liquidez - Para o gerente de Cafés Especiais da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), João Ferreira Júnior, se não houvesse crise o cenário do segmento seria promissor, uma vez que os estoques de passagem estão baixos e, mesmo com os custos de produção em alta, o mercado agiria de forma positiva. "Os cafeicultores estão lidando com um cenário de falta de liquidez em função da mudança de cenário com a crise internacional", afirmou.
De acordo com Ferreira Júnior, antes da crise o café conseguia ser comercializado entre três e sete dias e agora está demorando um pouco mais em função da falta de crédito. "O cenário não está bom e os produtores poderão contar com boas perspectivas caso consigam realizar um bom sistema de gerenciamento para negociar sua produção. Atualmente, o produtor quer vender e encontra um mercado com muita oferta, chegando a comercializar seu produto inclusive com preços mais baixos para cumprir os compromissos", destacou.
É necessário que os produtores se organizem, tentem financiamentos e, principalmente, consigam negociar o produto a preços melhores, enumerou. "Para 2009 o cenário previsto consegue ser um pouco mais promissor, influenciado pelos estoques de passagem e da safra menor do próximo ano. O consumo não deverá parar e no início do ano é possível que o café sofra algum reajuste, pois acreditamos na estabilização da crise", projetou.
Mesmo com as perspectivas otimistas para 2009, o mercado neste final de ano ainda está retraído e a recomendação é para que o produtor não extrapole com gastos nesse período, reforçou Ferreira Júnior. "Estamos com preços entre R$ 245 e R$ 260 por saca, enquanto que os custos médios dos últimos dois anos estão em torno de R$ 240 por saca. Para 2009 estes custos deverão ser maiores em função da seca de 2007 que prejudicou os cafezais e da alta dos insumos utilizados na safra maior deste ano", salientou.
Veículo: Diário do Comércio - MG