Em defesa da utilização de sacos plásticos

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 O debate em torno do uso de sacos plásticos pelo varejo não parece ter considerado o fato de que tais sacos são utilizados por muitos para separar e retirar os resíduos produzidos no lar. A proibição desse material trará uma dificuldade, já que não será fácil encontrar substitutos de tão prático uso. Em uma situação limite, a proibição desses sacos pode levar ao seu desaparecimento. Paradoxalmente, no entanto, o volume de resíduos depositados nos aterros poderá aumentar, dada a dificuldade de se fazer a sua separação. O problema não reside no material de que é feita a sacola, mas no fato de que não há um sistema eficaz de separação e coleta seletiva dos resíduos.

 

Apresento aqui um sistema onde a sacola plástica tem um papel fundamental. Nesse sistema, ela é tratada tal qual um contêiner flexível, transportando mercadorias em uma fase e resíduos em outra, passando por uma higienização e voltando ao ponto de venda. O cidadão adquire a sacola e, ao entregá-la a um ponto de coleta, recebe um crédito tanto pela sacola quanto pelos resíduos.

 

Essa é a essência do projeto "Dispositivos para a Preparação e Seleção de Resíduos para Fins de Coleta Seletiva", para o qual este autor solicitou apoio do programa Pipe 1 da Fapesp em 2005. Para tanto, o projeto foi dividido em três. A etapa 1 pretende criar metodologias e dispositivos para facilitar a separação no lar. Objetiva-se aqui incentivar a densificação (a redução do volume das embalagens). Para ilustrar, convido o leitor a tomar uma garrafa Pet, uma faca de serra longa, uma tesoura doméstica robusta e um prato. Com a faca, corte o fundo da garrafa e o gargalo (junto à rosca), como se os estivesse "fatiando". Você terá obtido um forma cilíndrica vazada, um "pires" e uma rosca. Com a tesoura faça quatro cortes ao longo da forma cilíndrica, obtendo quatro tiras. Lave-as e seque-as. Sobre o prato, corte cada tira em no mínimo três pedaços. Pronto! Está feita a densificação. Coloque as tiras e a rosca de Pet dentro de uma sacola plástica. Mantenha o "pires" à parte. Repita a operação com outras garrafas, empilhando cerca de 20 "pires". Prenda-os com fita ou similar e coloque-os na sacola. Veja quantas garrafas você consegue colocar em uma única sacola. Em um teste que observei, conseguiu-se dispor 37 garrafas de 1,5 litro! A etapa 2 trata do ponto comercial, onde as sacolas estarão sinalizadas pelo tipo de resíduo que conterão no futuro. As mercadorias serão ensacadas segundo esse critério. O projeto prevê a atuação de cooperativas junto aos check-outs, instruindo o cidadão. A etapa 3 trata do Ponto de Entrega Voluntária (PEV). Prevê-se a criação de redes de PEVs de pequeno porte. Cada cooperativa operará somente uma delas e poderá ainda incentivar o cidadão a separar tecidos, baterias, cartuchos de impressoras, placas de computador, etc.

 

À pergunta "a inovação decorrente do projeto terá importante impacto comercial ou social?",

 

um assessor respondeu: "Social, certamente não. O dispositivo proposto não estimula a segregação na fonte, que, na realidade, necessita de dois tipos: seco/limpo e úmido/orgânico". Esse assessor parece desconhecer que 78% dos cidadãos brasileiros estão dispostos a "separar o lixo de sua casa deixando papéis, vidros, plásticos, latas e restos de alimento separados para serem reaproveitados", conforme a pesquisa "O que o brasileiro pensa da biodiversidade", do Ministério do Meio Ambiente. Este projeto nasceu exatamente para criar metodologias e meios para esses já auto-estimulados 78% da população brasileira. O assessor afirma ainda que é desnecessário separar os resíduos em papel, plástico, vidro, metal. Cabem aqui dois comentários: 1) segundo o assessor, então, as inúmeras empresas e ONGs que hoje incentivam a coleta seletiva o fazem desnecessariamente; 2) a separação de resíduos é feita hoje nas cooperativas, em linhas de triagem, que ocupam espaço considerável. A prática da densificação e da separação conforme proposto aqui pretende: a) favorecer a viabilidade econômica e logística do processo, possibilitando que mais material seja transportado por viagem; b) eliminar as linhas de triagem, reduzindo-se assim o espaço físico necessário para se constituir uma cooperativa.

 

A Fapesp seguiu as recomendações de sua assessoria e em 2007 denegou as três etapas do projeto. Este autor procurou ainda participar do Prêmio Santander de Ciência e Inovação, mas não foi aceito por não ser doutor. O projeto encontra-se, desta forma, paralisado.

 

kicker: A questão central é a adoção de um sistema de coleta seletiva

 

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) CAIO CESAR SARAIVA* - Consultor e professor da Anhanguera Educacional Unibero e do Instituto Europeu de Design em São Paulo)

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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