Têxteis fecham 20 mil postosde trabalho ao longo de 2011

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Mesmo às vésperas do Natal, o auditório da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções ficou lotado ontem para receber representantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). A expectativa dos empresários era de que fossem anunciadas medidas contundentes para reverter as perdas do setor, que sofre com a entrada maciça de importados asiáticos e deve fechar o ano com queda de 8% a 10% do faturamento ante 2010, num total de R$ 78 bilhões, e com o fechamento de 20 mil postos de trabalho, segundo estimativa da entidade.

Contrariando os anseios, o secretário-executivo do Mdic, Alessandro Teixeira, indicou apenas que o ministério dará encaminhamento ao pedido da Abit de salvaguardas, estabelecendo preço e cotas para a entrada de produtos estrangeiros, contemplando toda a cadeia produtiva, que envolve os setores de fibras e filamentos químicos, manufaturas têxteis e vestuário. "Devemos receber até fevereiro o pleito, que passará por um período de três meses de análise", afirmou o representante. O secretário também se comprometeu a encaminhar ao Ministério da Fazenda pedido para que os produtos que entram no Brasil sejam priorizados nos canais de conferência vermelho e cinza, com controle aduaneiro mais rígido.

Ao fim do encontro, o clima era de pessimismo. "Saio daqui extremamente decepcionado. A importação está crescendo em progressão geométrica, e eu prevejo, pela morosidade do governo federal em tomar medidas de aumento de competitividade para o setor, um 2012 muito problemático", afirmou o presidente do Sindivestuário, entidade que reúne as indústrias de vestuário do Estado de São Paulo, Ronald Masijah. De acordo com ele, as empresas de confecção tiveram vendas muito aquém do esperado no segundo semestre, que representa dois terços do faturamento do setor, fortemente sazonalizado. "As perdas nesse período vão acarretar prejuízos violentos para as empresas no próximo semestre, gerando um forte aumento do desemprego", acredita.

De dezembro de 2010 a novembro de 2011, os setores têxtil e de confecção fecharam 14,2 mil postos de trabalho, ante a abertura de 80 mil vagas de janeiro a novembro de 2010. O resultado é fruto da queda da produção. No setor têxtil, o recuo foi de 14,86% em volume; já em confecções, a produção diminuiu 3,29%. Enquanto isso, as vendas no varejo tiveram crescimento de 4,5%. A explicação para a diferença de desempenho fica evidente quando analisadas as importações de vestuário, que tiveram incremento de 40,6% no período.

Para tentar reverter o quadro, num setor responsável por empregar 10% da mão de obra da indústria de transformação, o governo federal estabeleceu em agosto a desoneração da folha de pagamento, com alíquota de 1,5%. O setor têxtil, menos intensivo em mão de obra, optou por não aderir, já as confecções calculam que apenas 50% das empresas serão de fato beneficiadas pela medida. Frente a isso, a Abit reivindica revisão urgente da alíquota para 0,8%. A entidade pede também a mudança da margem de preferência, de 8% para até 25%, máximo previsto em lei.

Os empresários têxteis reivindicam ainda a aprovação da Resolução 72 do Senado, que diz respeito à Guerra Fiscal dos Portos; a implementação de regime de licenciamento não automático de importação; a sobretaxa em 30% sobre produtos importados, e, como prioridade, o regime tributário especial para a confecção, como forma de movimentar toda a cadeia. "A gente não quer uma simples ajuda, queremos uma situação igualitária de competição", diz o presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, em reunião com o setor, em novembro, que anunciaria até o fim do ano uma série de medidas para reverter o processo de desindustrialização. "Acredito que ele está analisando, e nós continuamos aguardando", afirma Diniz Filho. O diretor-industrial da Tramar Indústria e Comércio, Ordiwal Wiezel Júnior, critica a demora da ação por parte do governo, e questiona: "Se você passar a importar tudo, deixando de produzir, quem vai dar emprego para o povo? Você vai importar para vender para quem?"



Veículo: DCI


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