Empresa resultante da fusão será a quarta maior fabricante de lácteos do País - atrás de Nestlé, Perdigão e Itambé -, com receita de R$ 1,5 bilhão
A gaúcha Laticínios Bom Gosto e a paranaense Líder Alimentos anunciaram ontem uma fusão, criando a quarta maior produtora de lácteos do País, atrás de Nestlé, Perdigão e Itambé. Juntas, elas somam um faturamento de R$ 1,5 bilhão por ano e uma captação de 3 milhões de litros de leite por dia, que são processados em 17 fábricas espalhadas pelo Brasil.
Os fundadores das duas empresas - Wilson Zanatta (Bom Gosto) e os irmãos Aparecido e Agenor Stuani (Líder) - dividirão o controle da nova companhia, com mais de 60% das ações. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que já era sócio da Bom Gosto, terá cerca de 30% do negócio. Com a operação, o banco fará um novo aporte de capital. "As duas empresas são complementares. Enquanto a Líder é forte no varejo, a Bom Gosto é forte na captação", afirma Fortunato Bergamo, executivo da Líder que será o presidente da nova empresa no primeiro ano. Zanatta será o presidente do conselho de administração. "A fusão é importante para fortalecer a empresa, principalmente no mercado internacional. Esse é um negócio que exige escala e diversificação." A Bom Gosto já está construindo uma fábrica no Uruguai, que será voltada para a exportação. O leite uruguaio é mais bem recebido no exterior.
As negociações entre os dois laticínios duraram um ano. Nesse período, tanto a Bom Gosto quanto a Líder foram assediadas por outros grupos e fundos de investimento, como Parmalat, Perdigão, AIG Capital e GP, que estreou neste ano no setor ao comprar a Leitbom, de Goiás. "Os donos da Líder foram assediados, mas decidiram que era melhor se juntar a outra do mesmo porte para criar uma companhia mais forte", explica Bergamo.
Antes da fusão, as empresas já haviam engordado o portfólio de produtos com uma estratégia agressiva de aquisições de laticínios de pequeno e médio portes. As compras vão continuar nessa nova fase, garante Bergamo. Em abril deste ano, Zanatta disse ao Estado que só cresceu porque abriu mão de algumas "vaidades". "A maioria dos empresários não admite ter um sócio", disse Zanatta.
Bisneto de imigrantes italianos e filho de produtor de leite, o gaúcho começou o negócio do zero, ao lado da mulher, Miria, e de outros quatro funcionários. Vendeu os dois carros que tinha para comprar uma Kombi e um caminhão, pegou financiamento no banco para pagar as máquinas e comprou uma caldeira enferrujada. Era ele quem acordava cedo e dirigia o caminhão de entrega de leite. Em 15 anos, criou um laticínio de grande porte, que ocupava o quinto lugar no ranking de produção. A empresa cresceu mesmo na última década. Em 2000, faturava apenas R$ 5 milhões.
Os irmãos Stuani fundaram a Líder um pouco antes, em 1980. Inicialmente produtora de queijos, a empresa hoje também fabrica leite pasteurizado e sucos e alimentos à base de soja. Ela chama a atenção por ser uma das mais rentáveis do setor.
Veículo: O Estado de Sâo Paulo