Empresas brasileiras já esperam 'seca' de recursos

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Após a forte queda dos preços do petróleo, provocada pela crise global, as empresas brasileiras com negócios na Venezuela vivem dias de expectativa enquanto o presidente Hugo Chávez define como vai reagir. A dúvida dos empresários é a mesma de economistas e cidadãos comuns nas ruas de Caracas: qual será o tamanho do ajuste fiscal, como e quando vai ocorrer? Divulgação

 

Na capital venezuelana, o discurso dos brasileiros é otimista, pois crêem que a Venezuela será pouco afetada pela turbulência e apostam que seus projetos são prioridade para o país. Mesmo assim, preferem reduzir um pouco o ritmo dos gastos e aguardar. A expectativa é que o cenário esteja mais claro no primeiro trimestre de 2009, principalmente passadas as eleições regionais do próximo domingo. 

 

"Posso diminuir o ritmo, mas não vou parar", disse Jose Cláudio Daltro, diretor administrativo e de finanças da Odebrecht na Venezuela, com a experiência de quem vive há nove anos no país. "Temos que nos ajustar à disponibilidade de recursos do cliente", completou. Com a redução dos ingressos obtidos com o petróleo, os economistas acreditam que Chávez poderá optar por alongar os prazos dos projetos de infra-estrutura. 

 

Daltro afirma que o governo venezuelano ainda não deu qualquer sinalização de mudanças nos prazos, portanto, o planejamento da construtora segue o mesmo. Ele disse apenas que, nesse período de turbulência, a empresa está evitando se comprometer com compra ou aluguel de equipamentos, mas descartou que isso prejudique o ritmo das obras. O governo deve revisar o Orçamento para 2009, que prevê o petróleo a um preço médio de US$ 60, mas isso só deve acontecer depois das eleições. 

 

Os novos projetos da Odebrecht na Venezuela chegam a US$ 6 bilhões com obras como a terceira ponte do Rio Orinoco, a central hidrelétrica Tocoma, linhas de metrô em duas cidades, além de um ambicioso projeto de irrigação. Os prazos previstos para a conclusão são de quatro anos. "Estamos otimistas que essas obras vão seguir. Não sei quais as prioridades do governo, mas esses projetos são importantes", disse Daltro. 

 

O relacionamento da Odebrecht com o governo chavista é antigo. A empresa conquistou seu primeiro grande projeto no país em 1998, quando Chávez chegou ao poder. Em 2006, na campanha da reeleição, uma série de obras importantes da Odebrecht foram finalizadas. No conflito recente entre a construtora e o presidente do Equador, Rafael Correa, o mandatário venezuelano fez declarações públicas favoráveis à Odebrecht. 

 

Em meio a uma disputa feroz com a oposição por conta das eleições, causou mal-estar no governo venezuelano uma notícia publicada recentemente de que outra empresa brasileira, a Braskem, planejaria reduzir seus investimentos na Venezuela por causa da crise. Para desfazer o clima ruim, a companhia publicou um anúncio nos dois principais jornais venezuelanos reafirmando seus compromissos com os investimentos. 

 

"No momento estamos conversando com os bancos e o objetivo é manter os projetos dentro do prazo", disse Sergio Thiesen, diretor-superintendente da Braskem. A empresa e sua sócia, a estatal venezuelana Pequiven, anunciaram investimentos vultosos: US$ 1,2 bilhão na produção de polipropileno e US$ 2,5 bilhões em um complexo de polietileno. A expectativa é que as unidades estejam em operação, respectivamente, em meados de 2011 e 2013. 

 

Segundo o executivo, o projeto da Propilsur (polipropileno) está mais avançado e as obras devem começar em março de 2009. Braskem e Pequiven estão negociando com bancos estrangeiros o financiamento da obra, tarefa que ficou muito mais difícil com a crise financeira. As empresas planejam financiar 30% com capital próprio, mas 70% dependem de financiamento externo. 

 

"O desafio é enfrentar esse momento de escassez de crédito", disse Thiesen. Ele explicou que os gastos de engenharia e tecnologia que são necessários nessa fase do projeto estão sendo financiados com recursos próprios. O executivo garantiu que a Pequiven tem recursos previstos para essas obras, apesar da queda do petróleo. 

 

O diretor-superintendente da Braskem acredita que a Venezuela está preparada para enfrentar a crise, porque possui reservas internacionais recordes, que chegaram a US$ 40 bilhões em outubro. Ele também não aposta que o preço do petróleo se manterá baixo. A cesta do petróleo venezuelano caiu para cerca de US$ 60, muito abaixo da média do ano que deve atingir quase US$ 100. 

 

Outro projeto empresarial entre Brasil e Venezuela que está em compasso de espera é a venda de máquinas e equipamentos. "Deu uma parada. A Venezuela teve uma necessidade de organização interna e também está aguardando o que vai acontecer com o petróleo", disse o diretor-executivo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mário Mugnaini. "Mas é prematuro dizer que já é reflexo da crise." 

 

Os fabricantes brasileiros estão negociando a venda de máquinas para as "fábricas de alimentos" - um projeto do governo Chávez para reduzir a dependência da Venezuela por alimentos importados - e para a PDVSA. Depois de uma série de visitas de empresários brasileiros a Venezuela e funcionários do governo venezuelano ao Brasil, o convênio deveria ter sido firmado no último encontro entre os presidentes Chávez e Lula, mas isso não ocorreu. Uma fonte diplomática afirma que a burocracia pode estar atrapalhando mais do que a crise. 

 

Veículo: Valor Econômico


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