Especialista em consumidor de baixa renda afirma que, depois da educação financeira, baixa renda terá educação alimentar
Mal debutou no mercado de consumo e a chamada classe média emergente, cuja renda mensal gira em torno dos R$ 1,6 mil, já se prepara para um importante salto qualitativo.
Em 2004, quando começou a escalada na pirâmide social, conta bancária e cartão de crédito eram um sonho distante para mais de 70% da população brasileira. Hoje, o setor bancário e de seguros já faz campanha publicitária dirigida para a base da pirâmide.
“Descobriram que pobre também compra seguros”, brinca um dos maiores especialistas do país em classe média emergente, o publicitário André Torreta, fundador da consultoria Ponte Estratégica. Segundo ele, a ascensão do brasileiro da base da pirâmide está entrando numa segunda fase. A primeira, foi ingressar no mercado de consumo. “Agora é hora de sofisticar esse consumo”, diz.
E exemplos dessa “sofisticação” não faltam. A pedido de uma empresa do setor financeiro, Torreta está desenvolvendo uma espécie de manual explicativo sobre programas de fidelidade, sistema de milhagem e fatura de cartão de crédito.
“Se a gente, que tem boa formação, tem dificuldade em entender a fatura do cartão, imagine quem mal sabe ler e escrever”, diz o estrategista citando pesquisas recentes segundo as quais, pelo menos 70% da população brasileira apresenta algum grau de analfabetismo funcional - lê, mas não assimila a mensagem.
“Esse consumidor está começando a receber educação financeira. O próximo passo é a educação alimentar”. Onde está o Brasil Para Torreta, as empresas demoraram um pouco a perceber que olhavam para o lado errado, quando o assunto era “nicho de mercado”.
Afinal, apenas 20 milhões de brasileiros pertencem às classes A e B, os outros 90 milhões estão nas classes C, D e E. “Então onde está o nicho? Onde está o Brasil? Na Baixada Santista, na Baixada Fluminense, em Petrolina ou na Berrini”? A comunicação brasileira - veículos, agências e anunciantes — está bastante atrasada no diálogo com a base da pirâmide.
“A última coisa que muda em um país, em uma sociedade, é sua propaganda. A propaganda não faz onda. Ela só aproveita a onda para surfar”, afirma citando o exemplo da televisão dos EUA. “Lá, propaganda é para todo mundo. O público é um só. O Brasil, há mais de 500 anos fala, apenas com as classes A e B”. Outro exemplo que vale a pena ser citado é o do México, cujo perfil econômico da população é mais parecido ao brasileiro.
“No México, há um ministério do governo federal para cuidar da base da pirâmide e redes sociais especialmente voltadas para o analfabeto funcional. Isso dá uma idéia do nosso atraso”, afirma Torreta. A consultoria aberta por ele há 4 anos cresce uma média de 25% a 30% ao ano.
Veículo: Brasil Econômico