Importações pressionam laticínios

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Depois de se tornar autossuficiente em lácteos e vislumbrar o mercado internacional da proteína em meados da década passada, o Brasil vê a competitividade de sua cadeia de lácteos em xeque. Pressionada pelo crescimento expressivo das importações e por custos de produção cada vez mais elevados, a indústria do segmento deve experimentar outro ano de baixa rentabilidade.

O cenário negativo ganha contornos ainda mais desafiadores diante do aumento dos estoques de queijo e leite longa vida (UHT) no atacado, que limita o espaço da indústria para repassar a alta dos custos de produção. Nesse contexto, há cada vez menos estímulo para que o pecuarista se mantenha na atividade.

"É possível que o Brasil volte a ser dependente de importação. Ainda está bem equilibrado - importamos de 3% a 4% do nosso consumo -, mas o grande risco é esse", preocupa-se o presidente da Associação Brasileira de Leite Longa Vida (ABLV), Laércio Barbosa.

Entre janeiro e abril deste ano, as importações de leite em pó saltaram 56,8%, para 9,838 mil toneladas, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior. Já as importações de queijos avançaram 21,6% no período, para 11,557 mil toneladas. "É o maior volume desde 2000, época em que o Brasil era um importador de lácteos", afirma Aline Ferro, pesquisadora do Cepea/Esalq.

"A importação estabeleceu um teto e, com o custo da matéria-prima em alta, a rentabilidade do setor está bastante comprometida", diz Barbosa. Em 2009, a indústria recebia, em média, R$ 12 pelo quilo de queijo durante a entressafra. "Agora, o queijo importado no varejo sai em torno de R$ 8". Em 2012, os custos ao produtor de leite aumentaram cerca de 5%.

Com a concorrência dos importados, diz Barbosa, uma das estratégias dos laticínios tem sido reduzir a produção de queijo e leite em pó, migrando para o UHT. "Acredito que as fábricas de leite em pó trabalhem hoje com mais de 50% de ociosidade", estima Barbosa.

Mas esse movimento só acaba por irradiar a crise do segmento também para o UHT. Entre janeiro e abril, enquanto o preço médio pago pelo leite aos produtores ficou 12% acima do observado no mesmo intervalo do ano passado, o UHT permaneceu estável, conforme o Cepea.

Nesse contexto, a BRF - Brasil Foods, uma das três principais captadoras de leite do país, aposta numa estratégia inversa à da maioria dos laticínios, ampliando sua produção de queijos em detrimento da de UHT, mercado em que a empresa é líder com a marca Elegê.

Com a maior produção de queijos - a empresa não detalha os números -, a BRF pretende reverter o fraco resultado do primeiro trimestre, em que sua divisão de lácteos, responsável por 10% do faturamento total da empresa, amargou uma margem operacional negativa de 0,3%. "Estamos ensinando o consumidor a pedir queijo por marca", explica o vice-presidente de lácteos da BRF, Fábio Medeiros. Para o sucesso da empreitada, que concorrerá diretamente com os importados, o executivo aposta no prêmio que o consumidor atribui à marca Sadia.

Segundo analistas do setor, trata-se de um caminho que apenas a BRF poderia trilhar, e justamente pelo potencial da Sadia. "O portfólio deles estava muito concentrado no UHT", afirmou uma fonte.

Estima-se que o Brasil capte 30 bilhões de litros de leite por ano. Desse total, 30% é destinado para a produção de queijos, 30% para a de leite em pó, outros 30% para a de UHT e o restante para o mercado de refrigerados (iogurtes).


Veículo: Valor Econômico


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