O mercado de licenciamento de marcas vive um momento de expansão no Brasil. Em 2012, a Associação Brasileira de Licenciamento (Abral) projeta que o segmento movimentará R$ 4,9 bilhões, um aumento de 5% frente ao ano anterior.
Paralelamente à ascensão, o setor começa a diversificar sua atividade. Até pouco tempo atrás, os rótulos voltados ao público infantil, com personagens de desenhos animados, eram os únicos responsáveis por fomentar negócios. Agora, os adultos também passam a ser alvo da modalidade.
Atualmente, o País tem o quinto maior faturamento mundial em licenciamentos, perdendo para Estados Unidos, Japão, Canadá e México. “Essa situação se deve ao grande mercado consumidor brasileiro, à taxa de crescimento da economia e ao maior poder de consumo da população. Além disso, é forte a influência da cultura americana nos conteúdos de entretenimento disponíveis no País”, menciona o presidente da Abral, Sebastião Bonfá. No momento, o cenário brasileiro é composto por 1,5 mil empresas licenciadas e 60 agências licenciadoras. As agências são as companhias responsáveis por representar os interesses das marcas que permitem a utilização de sua alcunha. Em geral, esses intermediários atuam de duas formas: como licenciador master ou agente de licenciamento. Na primeira opção, a companhia adquire os direitos para, seguir, sublicenciá-los a um série de fabricantes. Na segunda alternativa, que é a mais comum de ocorrer, a empresa desempenha o papel de representante e acompanha as negociações envolvendo a marca nos países acordados.
Apesar dos diferentes tipos de papel, o objetivo é o mesmo. “O licenciamento proporciona que empresas brasileiras fabriquem grifes internacionais, que antes tínhamos de importar”, classifica Moacir Galbinski, vice-presidente da Supermarcas, empresa gaúcha com 11 anos de atuação no setor que representa mais de 200 marcas.
Segundo o dirigente, a recente expansão do mercado brasileiro vai ao encontro das mudanças estratégicas das companhias internacionais. “Antes muitas marcas chegavam à América Latina por meio de distribuição. Agora, elas veem que os altos custos inviabilizam isso. A Nike, por exemplo, não tem fábrica própria, ela licencia tudo”, diz.Sempre que possível, os clientes fazem contratos para licenciar os artigos a serem confeccionados para o Brasil e para a América Latina. No intuito de possibilitar o ingresso nos mercados vizinhos, os brasileiros fazem parcerias em solo estrangeiro, viabilizando o processo de fabricação. Em média, o tempo do vínculo com os agentes varia entre dois e cinco anos. Os royalties, que são oriundos do preço da venda aos varejistas, oscilam de 6% a 14%, conforme dados da Abral.
A pauta das ações no segmento continua bastante voltada aos jovens, mas, aos poucos, isso vem mudando. “Na Supermarcas, as marcas corporativas representam mais de 50% da perspectiva de faturamento. Elas possibilitam a produção de itens com valor agregado maior”, afirma Galbinski. Diante desse novo perfil, a aceitação do público tem sido boa. Como exemplo, o dirigente cita uma ferramenta feita com o rótulo de um gigante do setor automotivo que teve 150 mil pedidos apenas na primeira remessa.
Com 65 marcas em seu portfólio, a Exim Licensing Group, de São Paulo, começa a adaptar suas táticas à situação mercadológica vigente. Com 30 anos de experiência, a empresa exercia, até a metade do ano 2000, apenas o licenciamento de personagens infantis. Hoje, um dos principais trunfos é o licenciamento da marca UFC, o campeonato de artes marciais mistas.
“O mercado infantil está, de certa forma, saturado. Por isso, a gente passou a ter foco também no mercado adulto, com marcas de estilo de vida”, aponta Marcus Macedo, diretor da Exim. A tendência, de acordo com Macedo, é que as marcas adultas gerem um volume de negócios significativo nos próximos anos. “Há muito mais empresas trabalhando com produtos para adultos do que para o segmento infantil. É uma questão de tempo (para as marcas adultas equilibrarem a quantidade de licenciamentos em relação às marcas infantis)”, sinaliza Macedo.
Desconhecimento é um dos principais gargalos
Grande parte das marcas que licenciam seus produtos no Brasil tem origem estrangeira. Elas são originárias, na maioria das vezes, dos Estados Unidos ou da Europa. Mesmo assim, empresas brasileiras também podem conceder suas marcas no intuito de alavancar a receita com a fabricação de itens. No entanto, o diretor da Exim Licensing Group Marcus Macedo acredita que as companhias nacionais ainda não dão a importância ideal para esse mercado.
Recentemente, a Exim encomendou uma pesquisa para saber do potencial da ferramenta no País. O resultado: existem mais de 60 mil empresas no País aptas a se beneficiarem do licenciamento, mas apenas 0,1% delas sabem desse potencial e participam do mercado. “O maior problema que temos é o desconhecimento dos empresários em relação ao licenciamento”, resume Macedo.
Se a modalidade é pouco conhecida internamente, com clientes estrangeiros a situação se inverte. Há noção sobre a utilidade do licenciamento e interesse em ingressar no Brasil, mas os negócios, por vezes, esbarram na legislação. “A maioria dos donos de marcas estrangeiras traz contratos com regras que só são possíveis na Europa ou nos Estados Unidos. Eles ainda não entenderam a estrutura fiscal brasileira e, por vezes, exigem clausulas de seguros que não existem aqui”, afirma o diretor da Exim.
Apesar disso, o vice-presidente da Supermarcas, Moacir Galbinski, acredita que a conjuntura econômica de momento pode dar um empurrão para as agências brasileiras captarem novos clientes. “O momento de crise na Europa faz com que as marcas internacionais olhem mais para o nosso mercado. Hoje, elas entendem que o Brasil tem parques industriais de qualidade e pode produzir com a mesma qualidade internacional”, acredita.
Veículo: Jornal do Comércio - RS