Sem exportação, indústria inunda mercado interno e prejudica varejo

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Como as exportações de calçados estão reduzidas nos últimos anos pela valorização do real, a queda de demanda nos mercados americano e europeu corroídos pela crise, a competição com a manufatura asiática e, mais recentemente, a proliferação de barreiras para importações na Argentina, as indústrias brasileiras voltam-se cada vez mais para o mercado interno. Como estratégia para escoar a produção, antecipam coleções, obrigando o varejo a fazer liquidações fora de época para girar estoques, derrubando a rentabilidade.

Para tentar encontrar uma solução conjunta para o problema, a Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac) e a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) promoveram um debate nesta quinta-feira, em São Paulo. O evento reuniu varejistas e industriais, paralelamente à 44ª Feira Internacional da Moda em Calçados e Acessórios (Francal 2012).

Segundo o presidente da Ablac, Carlos Ajita, o problema é mais grave no segmento feminino, que tem maior variação sazonal, e no inverno, estação que tem menor tempo de venda (cerca de quatro meses), devido à particularidade climática do País. Com a antecipação de coleções, lojistas começam a receber sapatos fechados e botas ainda em meses quentes, como janeiro a março.

Isso provoca excesso de estoque, danos nas embalagens das mercadorias e resulta na antecipação de liquidações. Com a venda a preços reduzidos, as margens de lucro dos lojistas caem.

O problema também ocorre na estação mais quente do ano. "Estamos com 20 dias de inverno e já nos é oferecida a terceira coleção de verão. Onde vamos colocar tudo isso?", questiona o proprietário das Lojas Radan, Raul Viega da Rocha. "As coleções constantes geram muito saldo. É bom receber coleção nova. Mas o que a gente faz com a antiga?", pergunta o proprietário da rede Pontal, Manoel Kherlakian.

Para o consultor Marcos Gôuvea de Souza, da GS&MD, a "arte" é ter a menor quantidade de produto possível para liquidar. "A alma do negócio de varejo é reduzir o estoque sem perder venda ou, no extremo, até perdendo alguma venda, porque o ônus de carregar um estoque muito maior tem uma consequência para o negócio muito pior", afirma.

Setor produtivo

O diretor do capixaba Itapuã, que atua tanto na fabricação quanto no varejo, Marconi dos Santos, acredita que é necessário um ajuste no processo produtivo. "É preciso transformar as proposições da indústria de grandes volumes numa sequência de médios volumes, porém, com planejamento de cronograma", sugere.

Segundo ele, hoje o varejo não planeja suas compras, o que dificulta à indústria a previsão da infraestrutura e de demanda de matérias-primas. "É preciso um planejamento integrado indústria e varejo, que hoje não existe e será positivo para ambos."

A fabricante gaúcha West Coast já criou uma solução própria para minimizar o problema, relata o diretor de Mercado Rafael Schefer. "Fazemos um sistema de entrega rápida: em vez de empurrar o estoque para o lojista, mantemos um estoque nosso. Tendo demanda no mercado, a gente entrega, num período muito mais curto", diz o executivo.

Ele explica que isso exige um trabalho mais próximo do varejista, para saber o que está sendo mais consumido, de forma a garantir uma reposição mais eficiente. "Isso diminui o risco e o estoque do lojista, melhora o fluxo de caixa e a rentabilidade dele", diz, o que acaba beneficiando, por consequência, a indústria.

Os industriais argumentam que, ao antecipar coleções, apenas atendem aos anseios do mercado. "Quem demanda a antecipação é o consumidor", opina o diretor da indústria gaúcha Zeket. Já o gerente-comercial da paulista Democrata, Marcelo Paludeto, cita a influência do varejo monomarca, de capital estrangeiro e modelos de gestão internacionais, sobre a antecipação das coleções. "Temos players que nos forçam a alguns movimentos, o desafio é encontrar a nossa adequação, mas não temos como recuar, não tem volta", acredita.

Números

Nos últimos cinco anos, as exportações da indústria calçadista tiveram redução de 32% em valor, caindo de US$ 1,91 bilhão em 2007, para US$ 1,29 bilhão em 2011. Em volume, a queda foi de 36%, de 177 milhões de pares, para 112 milhões, neste intervalo.

No entanto, a produção cresceu 17% em valor em cinco anos, de R$ 18,5 bilhões em 2007, para R$ 21,8 bilhões em 2011. Mesmo com a redução das exportações, o volume de produção se manteve praticamente estável, com aumento de 1%, de 808 milhões de pares, para 819 milhões, conforme dados do Relatório Setorial da Indústria de Calçados 2012, feito pelo Instituo de Estudos e Marketing Industrial (Iemi).

 

Veículo: DCI



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